Considerado uma das peças-chave no esquema de desvios em escolas estaduais revelado na Operação Quadro Negro, o ex-diretor da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Maurício Fanini, foi ouvido novamente pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) ao longo desta sexta-feira (23). O depoimento está relacionado aos inquéritos cíveis que apuram se houve improbidade administrativa na liberação de pagamentos às construtoras por meio de medições fraudulentas e aditivos que incharam os contratos, em obras de reforma ou construções das escolas.
Preso desde setembro de 2017, Fanini chegou ao Grupo Especializado na Proteção do Patrimônio Público e no Combate à Improbidade Administrativa (Gepatria) às 10 horas e a tomada de depoimento se estendeu até o fim da tarde desta sexta. O objetivo é que o investigado pudesse reafirmar as declarações prestadas no ano passando, a fim de consolidar as investigações. Fanini era amigo do governador Beto Richa (PSDB), cuja campanha de reeleição teria sido abastecida com dinheiro do esquema. O tucano nega.
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Paralelamente, Fanini negocia uma delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Segundo informações apuradas pela reportagem da Gazeta do Povo, ele já prestou declarações aos procuradores e os termos da delação foram encaminhados ao ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator dos inquéritos criminais da Quadro Negro que envolvem autoridades com prerrogativa de foro.
Outros depoentes
Fanini foi o nono a ser ouvido nesta nova série de depoimentos prestados ao Gepatria. As oitivas começaram a ser feitas na terça-feira (20), com a tomada de declarações de Eduardo Lopes de Souza, que era dono da Valor Construtora, epicentro da Quadro Negro.
Lopes de Souza já firmou acordo de colaboração premiada, em que detalhou a participação de Fanini e que afirmou que o escândalo destinou dinheiro à campanha eleitoral de 2014 de Richa, quando ele foi reeleito ao governo do Paraná. Lopes de Souza também mencionou que também teriam recebido propina o atual chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni (PSDB), e os deputados Ademar Traiano (PSDB) e Plauto Miró (DEM). Todos negam envolvimento.
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Na próxima semana, o Gepatria continua a tomar depoimento dos investigados ou testemunhas. No total, 24 pessoas serão ouvidas nesta série.
A Quadro Negro
Deflagrada em 2015, a Operação Quadro Negro apura um esquema de desvio de dinheiro público de obras de reforma e construção de escolas estaduais do Paraná. As investigações do Ministério Público (MP-PR) estimam que o núcleo de corrupção tenha causado um prejuízo superior a R$ 20 milhões aos cofres públicos. O rombo seria ainda maior: segundo a delação de Eduardo Lopes de Souza, o objetivo seria arrecadar R$ 32 milhões à campanha de reeleição do governador Beto Richa. O delator também relata pagamento de propina a outros agentes políticos, como o presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano (PSDB), o secretário Valdir Rossoni (PSDB) e o deputado estadual Plauto Miró (DEM). Todos negam as irregularidades.