O argumento do Planalto para enfrentar a crise gerada a partir das delações da JBS foi incorporado por parte dos parlamentares no Congresso Nacional. Já estão na boca de aliados tanto a contestação à qualidade da gravação do diálogo do presidente Temer com o empresário Joesley Batista, quanto às críticas às benesses obtidas pelos delatores no acordo com o Ministério Público Federal (MPF). Uma parcela da bancada do Paraná também absorveu a estratégia. Para o deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), o dono da JBS, chamado por ele de “vigarista”, preparou uma “armadilha” para o presidente Temer.
“Por enquanto, criou-se uma convulsão nacional, uma hecatombe. E o empresário malandramente tirou vantagem dessa situação de fragilidade criada na economia. Mas, se for só o conteúdo daquela gravação, não é suficiente para derrubar o presidente Temer. A gravação está comprometida, foi mexida. E você percebe claramente que a pessoa está mal intencionada”, apontou Hauly, em entrevista à Gazeta do Povo nesta terça-feira (23), no primeiro dia de sessão deliberativa na Câmara dos Deputados depois da “bomba” que atingiu o coração do Palácio do Planalto.
“Quanto ao presidente Temer, nós estamos num compasso de expectativa. Há mais coisa? Precisamos avaliar. Preliminarmente, eu entendo que não é para impeachment. E eu espero que não tenha mais nada. Foi uma luta tão grande para derrubar o PT, a Dilma e o Lula, que, para mim, é uma decepção muito grande. Para mim e milhões de brasileiros”, completou Hauly.
Outro paranaense da base aliada segue na mesma toada. “Eu entendo que elas [delações da JBS] são no mínimo duvidosas. Não é possível que você tenha uma delação de um grupo de pessoas que pratica crimes há anos e, de repente, está livre, está limpo, todos são absolvidos, não acontece nada”, reclamou o deputado federal Alfredo Kaefer (PSL-PR).
Em seguida, após insistência para que comentasse sobre o que achava do conteúdo da conversa no Palácio do Jaburu, Kaefer ponderou que era “complicado você fazer um julgamento de algo que você não sabe se foi espontâneo ou se foi forçado”. “Eu, sinceramente, não quero fazer um julgamento ainda”, ponderou ele.
Já o deputado federal Reinhold Stephanes (PSD-PR) resume um pragmatismo que também permeia o plenário: o diálogo gravado foi ruim, a crise é grave, mas os integrantes da base de sustentação do presidente Temer só abandonam o barco quando não houver mais condição para aprovar as reformas eleitas pelo grupo como prioritárias para o País. “A curto prazo, sim, vamos continuar apoiando. Agora, se o governo Temer se mostrar inviável, aí não há mais razão”, afirmou.
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Engajado especialmente na reforma da Previdência, Stephanes enfatiza que não há aliança com o presidente Temer, e sim com o conjunto de propostas que ele tenta implantar no país. “Eu estou na base apenas em nome do programa. Muita coisa já foi aprovada: a mudança na exploração do pré-sal, a terceirização, a reforma trabalhista [em fase final, no Senado]. A questão fundamental é essa: se ele [o governo Temer] tem capacidade de executar o programa pelo qual ele está sendo apoiado”, justificou o parlamentar do PSD, que já foi ministro de Collor, FHC e Lula.
Ex-aliados
Ao menos dois deputados federais pelo Paraná que integravam a base de apoio ao presidente Temer já abandonaram definitivamente o barco após as revelações da JBS. O líder do PHS, Diego Garcia, e o ex-prefeito de Curitiba Luciano Ducci, do PSB, anunciaram rompimento.
Diego Garcia chegou a protocolar um pedido de impeachment contra o presidente Temer. Ducci, cujo partido já havia se posicionado contra as reformas trabalhista e previdenciária, agora também cobra a renúncia do peemedebista.
Dos 30 parlamentares do Paraná, apenas quatro pertencem formalmente à bancada de oposição: os petistas Ênio Verri e Zeca Dirceu, além de Aliel Machado (Rede) e Assis do Couto (PDT).
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