Documentos anexados à proposta de colaboração premiada apresentada pelo ex-diretor da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Maurício Fanini, revelam o grau de proximidade entre a ex-primeira dama, Fernanda Richa, e a mulher dele, Betina. Entre os anexos da proposta de delação, estão cópias de conversas por meio do WhatsApp e o relato de encontros pessoais, em que Fernanda teria chegado a pedir dinheiro e a agradecer pela liberação de R$ 500 mil para a compra de um apartamento para o filho - que teria sido bancado com dinheiro de propina.
A proposta de delação apresentada por Fanini à Procuradoria-Geral da República (PGR) foi revelada nesta terça-feira (5), pela RPC . A tentativa de acordo de colaboração ocorre no âmbito da Operação Quadro Negro, que apurava desvios de dinheiro que deveria ter sido aplicado na construção e reforma de escolas estaduais. Até esta terça-feira, a delação não havia sido fechada, tampouco homologada pela Justiça.
LEIA MAIS: Esquema para bancar campanhas de Richa começou na prefeitura, diz Fanini
“Serenidade e confiança” após prisão
Em julho de 2015, três dias depois de Fanini ter sido preso pela primeira vez, então sob suspeita de ser operador dos desvios, Fernanda Richa trocou mensagens via WhatsApp com Betina, tentando tranquilizá-la. A então primeira-dama pede que Betina “não fique brava” e que mantenha “a calma e a serenidade”.
“Be, bom dia, não fique brava comigo ou c o Beto, amamos vcs, vcs são e serão sempre nossos amigos! ! Estamos acompanhando e fazendo do o possível!!! Te peço para ter calma, serenidade e confiança nas atitudes dele próprio, pois é o único que pode desmoralizar ou desmentir tudo que foi dito ou posto”, diz a mensagem.
Betina responde que “está muito difícil!!!!”, ao que Fernanda destaca que é preciso “suportar”. “Eu sei minha amiga, temos que suportar!!! Temos que, com serenidade, aguardar”, sugere a ex-primeira dama do Paraná.
Desabafo e cobranças
No fim do ano seguinte – em 27 de dezembro –, Betina faz um desabafo a Fernanda Richa, também pelo WhatsApp. Na ocasião, Maurício Fanini já havia se tornado réu na Quadro Negro. Betina reclama de dificuldades financeiras, afirma que ela e sua família estavam, então, “destruídos” e sugere que foram abandonados pelo casal Richa.
“Depois de 17 meses de execração nas mídias sociais e imprensa, uma prisão temporária e um processo criminal a ser respondido, o que sobrou ao Maurício? Nada, apenas abandono, humilhações e como consequência de tudo isso nenhuma perspectiva profissional....”, escreveu Betina.
LEIA TAMBÉM: Em proposta de delação, réu diz que foi orientado a apagar provas contra Richa
“Continuando a minha reflexão, qual a conclusão que eu chego??? Que isso tudo foi o que recebemos em troca de uma amizade verdadeira, amizade de todas as horas, de cumplicidade e lealdade.... O que concluo de tudo isso? Que o BR [Beto Richa] deveria mudar suas iniciais para PP [possivelmente uma referência a Pôncio Pilatos], afinal, é a única coisa que ele sabe fazer.... ‘lavar as mãos’....”, acrescentou a esposa de Fanini.
Apartamento para Marcello
Em outro anexo da delação, Fanini disse que, em março de 2013, Fernanda agradeceu por um apartamento comprado ao filho dela, Marcello Richa, com dinheiro supostamente de propina. “Uma semana depois, a primeira dama Fernanda Bernardi Vieira Richa, em um encontro social com a esposa do declarante, Betina, disse a esta que estava muito feliz com a compra do apartamento, porque Marcello casaria no mês de outubro do mesmo ano”, consta do documento, em que Fanini acrescenta que o apartamento comprado fica ao lado da residência do casal Richa.
Ainda segundo a proposta de delação, Fanini teve que levantar R$ 500 mil para a compra do apartamento. O dinheiro teria sido solicitado por Luiz Abi Antoum, primo de Richa, que afirmou que falava em nome do governador. O ex-diretor da Seed relata que consultou Richa, que teria respondido: “Sim, pode entregar, porque ele e o Ezequias [Moreira] são os mais confiáveis”.
PERFIL: Quem é Maurício Fanini, o suposto “longa manus” de Beto Richa?
Como não dispunha de todo o dinheiro vivo, Fanini afirma ter feito um empréstimo e o resgate de uma aplicação. Os R$ 500 mil teriam sido entregues em espécie a um emissário de Abi Antoum, no dia 11 de março de 2013.
“Doletas”
Em outro trecho, Fanini disse que ele e a esposa foram à residência do casal Richa, para assistir ao jogo entre Brasil e Chile, na Copa do Mundo – em 28 de junho de 2014. Depois da partida, o ex-diretor relatou que Fernanda chamou o filho, André, e a nora, que viajariam a Machu Picchu, no Peru, no dia seguinte. A primeira-dama teria pedido “mil doletas” (US$ 1 mil) para ajudar o casal a pagar seus gastos no país vizinho. Segundo o delator, ele dispunha do dinheiro – que estava escondido em um armário – e atendeu ao pedido de Fernanda.
Outro lado
Família Richa
Confira a íntegra da nota enviada pelo ex-governador para rebater as afirmações de Maurício Fanini.
“A proposta de acordo de colaboração premiada de Maurício Fanini ainda se encontra sob sigilo e mais uma vez foi vazada criminosamente. Esta forma ilícita de agir parece ser uma manobra arquitetada às vésperas do período eleitoral, na tentativa de nivelar todos os políticos por baixo. Não faço parte desta cena deplorável, onde criminosos confessos buscam envolver pessoas inocentes em crimes que somente eles praticaram.
O que esses criminosos pretendem? Ora, a resposta é muito simples! Pretendem conseguir a redução das penas a que certamente serão condenados pelos crimes cometidos e já confessados à Justiça, mesmo que para isso tenham que envolver pessoas honestas.
No caso de Maurício Fanini, a condenação pelos crimes praticados e por ele próprio confessados chegará a 50 (CINQUENTA) anos de prisão ! Portanto, está mais do que explicado porque Fanini tenta delatar tudo e todos, sem, no entanto, apresentar quaisquer indícios de provas.
Qual a razão de dar credibilidade a um criminoso que realizou 870 depósitos em dinheiro vivo, em sua própria conta corrente, pagou cartões de crédito em dinheiro vivo e formou um patrimônio incompatível com sua renda?
É uma tentativa desesperada de delação, que pela ausência de provas, não será aceita pela Justiça. São acusações criminosas, com o objetivo de envolver pessoas inocentes, retirando o foco das fraudes por ele cometidas. E para isso, mente descaradamente. Nem eu, nem qualquer membro da minha família, recebeu dinheiro desviado dos cofres públicos.
A compra do apartamento do meu filho Marcello foi realizada de forma regular, com recursos próprios e transferência bancária, sem a utilização de dinheiro vivo, o que foi esclarecido também pelo vendedor do apartamento, que foi ouvido duas vezes pelo Ministério Público Estadual.
Igualmente é criminosa a afirmação de que minha mulher teria solicitado 1.000 dólares para uma viagem de meu filho André ao Peru. Quem nos conhece sabe que não precisamos disso e a afirmação beira o absurdo.
Repito: é uma delação criminosa, sem provas, que busca apenas confundir as pessoas. Espero que a Justiça apure e esclareça rapidamente essa questão, para que os culpados sejam punidos de forma exemplar.”
Luiz Abi
A defesa de Luiz Abi afirmou que todas as menções ao seu cliente são mentirosas e que o único objetivo de Maurício Fanini é firmar um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público, envolvendo o máximo de pessoas próximas ao ex-governador Beto Richa. Acrescenta que Fanini tenta se isentar da responsabilidade dos crimes que ele cometeu e foram comprovados pela Justiça.
Ezequias Moreira
Ezequias Moreira, ex-secretário de governo, diz que desmente as afirmações de Mauricio Fanini garantindo que nunca tratou com ele ou qualquer outra pessoa sobre doações eleitorais. Afirma ainda que jamais recebeu ou mandou que senhor Mauricio Fanini entregasse a qualquer pessoa dinheiro ilícito. Diz ainda que Mauricio Fanini é um mentiroso, que fraudou licitações, superfaturou obras, roubou o Erário Público e agora quer terceirizar suas atitudes inescrupulosas e criminosas com o único intuito de buscar uma redução de pena. Ezequias assegura sua inocência e que processará Fanini por falsas acusações.
Marcello Richa
O presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná, Marcello Richa, afirma que as suposições de Maurício Fanini são inverídicas e ressalta possuir toda a documentação referente à compra do seu apartamento, comprovando a legalidade e origens dos recursos. Rechaça qualquer citação referente a recebimento de valores para uma possível campanha e que o senhor Maurício, que é um criminoso confesso, tenta se beneficiar da delação premiada para amenizar sua pena com afirmações mentirosas e desprovidas de provas.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares