O ex-diretor da Secretaria de Estado da Educação Maurício Fanini, que negocia um acordo de colaboração premiada no âmbito da Operação Quadro Negro, é chamado de suposto “longa manus” do ex-governador do Paraná Beto Richa.
A relação entre Maurício Jandoi Fanini Antonio e Beto Richa (PSDB) vem de longa data. Ambos nasceram em 1965 e se formaram juntos no curso de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), na década de 80. Quando Beto Richa foi eleito vice-prefeito de Curitiba, assumindo também a pasta de Obras Públicas da administração da capital, Fanini ganhou um cargo de confiança: se tornou diretor de Pavimentação. O ano era 2001.
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O período na prefeitura de Curitiba rendeu a Fanini, já em 2013, uma ação civil pública por atos de improbidade administrativa. Ele e outras 22 pessoas – todos negam ilegalidades - teriam “direcionado” uma parcela de processos licitatórios para a empresa Deck Construtora.
Também em 2013, Fanini foi chamado pela Polícia Federal para dar explicações sobre fatos apurados na Operação Sinapse, uma investigação sobre desvios de recursos públicos do Ministério da Educação, a partir de convênios feitos entre o Instituto Federal do Paraná (IFPR) e duas Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips), com sedes em Curitiba.
Para a PF, as Oscips simularam alguns contratos com empresas, apresentando notas fiscais por serviços não prestados, para justificar o dinheiro recebido pelos convênios com o IFPR. Entre as empresas estaria a B. M. A. Linguagem e Comunicação, cujo dono é Fanini.
O nome da empresa é uma referência às iniciais da fonoaudióloga Betina Moreschi Antonio, mulher de Fanini, e que também tem parte societária. Na época, Fanini disse à PF que os serviços foram de fato prestados. E o casal nem chegou a ser indiciado.
A mesma empresa, contudo, surgiu novamente no radar, agora nas investigações da Operação Quadro Negro. Fanini e sua mulher foram acusados de usar a B. M. A. Linguagem e Comunicação para lavar dinheiro.
Em 2013, Fanini já trabalhava no governo do Paraná. Com a vitória de Beto Richa em 2010, Fanini assumiu logo no início do mandato do tucano outro cargo de confiança. Se tornou diretor de Engenharia, Projetos e Orçamentos da Superintendência de Desenvolvimento Educacional (Sude), braço da Secretaria da Educação (Seed).
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Na Sude, Fanini ficou durante todo o primeiro mandato de Richa, entre 2011 e 2014. No período, ele também ganhou uma cadeira no Conselho de Administração da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná).
Já no segundo mandato de Richa, Fanini recebeu a missão de recriar a Fundepar, autarquia que ficaria responsável por toda a parte administrativa da pasta de Educação, como contratos de obras, de merenda, de transporte. Só foi interrompido pela Operação Quadro Negro, deflagrada em meados de 2015. Fanini chegou a ser preso, mas logo obteve liberdade.
No final daquele ano, Fanini foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Paraná (MP-PR), apontado como uma peça central no desvio de dinheiro de contratos firmados entre a Seed e a empresa Valor Construtora. Na narrativa do MP-PR, Fanini era quem orientava os fiscais ligados à pasta da Educação para que atestassem evoluções fictícias nas obras. Assim, o dinheiro era liberado, independente de a obra estar de fato andando ou não.
O esquema não teria funcionado apenas nos contratos da Valor Construtora, embora a empresa tenha se tornado o foco da Operação Quadro Negro. O empresário Iolmar Ravanelli, dono da MI Construtora, já delatou Fanini. Disse aos investigadores que foi obrigado a pagar R$ 100 mil para o então diretor da Seed.
Mas o delator que mais complicou a vida de Fanini foi Eduardo Lopes de Souza, dono da Valor Construtora. O empresário não só endossa a narrativa do MP-PR, como dá detalhes sobre a relação com Fanini.
Ao descrever diálogos que mantinha com o então diretor da Seed, o empresário ainda inclui Beto Richa de forma recorrente: “O Fanini tinha me contado que em certa ocasião teria comentado com o governador, durante uma partida de tênis, que havia algumas empresas, dentre elas a Valor Construtora, que estariam ‘ajudando’ e que seriam necessários alguns aditivos nos contratos dessas empresas. Ele disse que o governador perguntou ‘são de confiança, né?’, no que ele respondeu que sim. Então, o governador deu o ok”, falou Lopes de Souza aos investigadores.
Antes da deflagração da Operação Quadro Negro, Fanini jogava tênis com Beto Richa. À imprensa, o tucano não nega a amizade, mas sustenta que “não tenho compromisso com o erro”.
Poucos dias antes de ser novamente preso por causa da Quadro Negro, Fanini trocou de advogado e resolveu tentar um acordo de colaboração premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR), em Brasília. A delação ainda não foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em função das tratativas com a PGR, Fanini pediu para sair da prisão. A juíza Danielle Nogueira Mota Comar, da 9ª Vara Criminal de Curitiba, negou.
Em seu despacho, ela destaca que a “vontade de colaborar” agora manifestada por Fanini, “considerado o longa manus do governador do Paraná” dentro da pasta da Educação, “não afronta os requisitos fundamentadamente expostos na decisão que decretou a prisão preventiva e tampouco urge para que sirva como moeda de troca para garantir a liberdade”.
Procurado pela Gazeta do Povo, o advogado de Fanini, Omar Elias Geha, não quis dar entrevista na ocasião.
Em maio, Fanini foi transferido para a carceragem da Polícia Federal em Brasília, por motivos de segurança.
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