Em Brasília nesta terça-feira (17) para mais uma rodada de conversa com embaixadores estrangeiros, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), voltou a comparar o cenário local com a crise brasileira. “Mostrar os números do Paraná” agora, explica ele, pode ser uma oportunidade para “atrair investimentos”. “O Paraná está de portas abertas para os países árabes. E eles ficaram bem impressionados”, comentou o tucano, que em agosto já havia se encontrado com embaixadores europeus. Em rápida entrevista à Gazeta do Povo, o tucano também falou de eleição, de Aécio Neves, de presidente Temer e de escândalos de corrupção que atingiram seu mandato. Leia os principais trechos:
O senhor tem vontade de disputar a eleição no ano que vem?
Tenho pensando muito. Acho que é cedo para tomar uma decisão. Não defini ainda, se continuo ou não no mandato. Tem muitas coisas acontecendo. Nós equilibramos as contas. Há um grande volume de investimento. Muita obra para inaugurar. Isso tem pesado na minha decisão. Mas é cedo para decidir.
Mas o senhor tem estimulado, por exemplo, a candidatura do seu filho [Marcello Richa, secretário de Esporte, Lazer e Juventude na Prefeitura de Curitiba] e do seu irmão [José Richa Filho, secretário de Infraestrutura e Logística no governo do Paraná]?
Nunca estimulei, ao contrário.
Por quê?
Assim como meu pai resistiu à minha entrada na política, eu tenho resistido muito à ideia de um filho entrar. Porque a gente sabe como é difícil hoje em dia, os desgastes, as dificuldades de fazer política, de ser gestor público. Muitos ataques, ataques de adversários, aquele vale tudo para chegar ao poder... A gente até se submete a isso, mas, quando é um filho, a gente pensa várias vezes. Embora eu devo reconhecer que ele tem muita vocação para isso. Já foi secretário, agora é secretário de novo. Trabalha muito. Foi presidente nacional da Juventude do PSDB. Meu irmão também foi criado, como eu, nesse ambiente político.
LEIA TAMBÉM: Expansão política do clã Richa depende da renúncia de Beto
Nós respiramos política desde que nascemos, mas, enfim, do jeito que está a política hoje, não gostaria que ninguém da família entrasse. E eu estou pensando o que fazer daqui para frente...
Se vale a pena continuar [na política] ou não?
As pessoas me conhecem. Nunca tive apego a poder. Nunca mudou a minha cabeça, ter ou não poder. Eu estou na política para servir. Me sinto honrado, sim, em ser governador do Paraná, eleito duas vezes no primeiro turno. Ter cumprido um bom mandato à frente da prefeitura de Curitiba. Mas eu não tenho apego nenhum a poder. Dentro da política, e quando sair da política, serei a mesma pessoa de sempre. E eu não tenho grandes pretensões na política. Acho até que meu papel está cumprido na vida pública.
Falando em “desgastes”, hoje [terça-feira, 17] no Senado tem a votação sobre o afastamento ou não do senador Aécio Neves (PSDB-MG) do mandato. Qual sua posição sobre o caso dele?
Eu sempre achei que, fosse o Aécio ou qualquer parlamentar, a Constituição Federal deve ser respeitada. Eu não sou parlamentar nesse momento, mas, segundo a gente tem visto aí, a posição de especialistas, a Constituição Federal é clara quando diz que o parlamentar só pode ser afastado em flagrante delito por crime inafiançável. Me parece que não é o caso. Mas, enfim, cada parlamentar tem a sua consciência, a sua avaliação. E espero que prevaleça a lei. Não tem que ter paixão política, se é aliado ou se é adversário. Temos que respeitar sempre a lei, ainda mais a Carta Magna do nosso país, que é a nossa Constituição Federal.
E no comando do PSDB, o Aécio tem condições de permanecer?
Já está marcada a nova eleição da Executiva Nacional do PSDB. Já está pacificada a situação. O próprio Aécio já demonstrou que não deve disputar mais a presidência do partido. Tasso [Jereissati, senador pelo PSDB do Ceará] está conduzindo bem hoje, com serenidade. Embora haja divergências internas, o que é salutar, pois o partido é democrático. E sempre prevalece a vontade da maioria.
O senhor tem falado com o Aécio, falou com ele aqui em Brasília?
Não, não tenho falado com ele não. Ele tem os afazeres dele, as suas preocupações aqui. Eu tenho as minhas lá. Não tenho falado ultimamente com ele não.
Hoje [terça-feira, 17] tem outra votação importante aqui em Brasília, na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça] da Câmara dos Deputados, em relação à segunda denúncia [da Procuradoria-Geral da República] contra o presidente Temer. O PSDB está dividido. E o senhor tinha declarado lá atrás, na primeira denúncia da PGR, que o país não aguentaria mais um presidente da República afastado. O senhor mantém a posição agora, na segunda denúncia?
Eu defendi que o PSDB tenha independência. O que for importante para o país, votar. O PSDB nunca fez, como muitos partidos fazem, a oposição sistemática. Não somos adeptos do quanto pior melhor. O PSDB tem a responsabilidade de pensar no país, votar naquilo que é importante para a retomada do desenvolvimento, para a geração de emprego. Os indicadores têm melhorado no país. Estamos sentindo isso no Paraná também. Tem que haver serenidade, responsabilidade, que o PSDB sempre demonstrou.
O senhor falou de “ataques” ali no começo [da entrevista], e Maurício Fanini quer se tornar um delator na Operação Quadro Negro. Como o senhor vê a situação, de ele optar por delatar?
Hoje é comum isso. Quem está numa situação difícil, busca o caminho da delação. Estou absolutamente tranquilo em relação a isso. E sempre é importante lembrar que todas as providências foram tomadas pelo governo do Paraná. O Ministério Público entrou no caso praticamente um ano depois das medidas adotadas por nós. Até o nome foi dado pela nossa Polícia Civil, “Operação Quadro Negro”. A Procuradoria Geral do Estado (PGE) entrou com ações de improbidade contra todos os suspeitos, de bloqueio de bens, para ressarcimento dos cofres públicos. Ninguém foi poupado.
É que, no caso dele [Maurício Fanini], ele era bastante próximo do senhor...
Qual a diferença?
O senhor fala, por exemplo, que não conhece o [principal] delator da Operação Publicano [o ex-auditor fiscal Luiz Antônio de Souza]. Já o Maurício Fanini é uma pessoa próxima.
[A Operação Publicano] Não deu em nada. Dois anos tentaram de tudo para me envolver nessa situação. De tudo. Diariamente atacado, inclusive pelo seu veículo. E está aí, não deu em nada. Só quero saber quem vai catar as penas ao vento. Só isso que eu quero saber. Estou absolutamente tranquilo. Todos me conhecem, conhecem meu passado, a minha presença na vida pública, da minha família, com absoluta retidão. Pode fazer a delação que quiser. Só espero que seja acompanhada de prova. É só isso que eu desejo. Porque em Londrina fizeram todo um escarcéu e nada foi apresentado até agora. Dois anos de denúncia, dois anos eu sendo atacado, e até agora nada. Só sigo confiando na Justiça.
Clima e super-ricos: vitória de Trump seria revés para pautas internacionais de Lula
Nos EUA, parlamentares de direita tentam estreitar laços com Trump
Governo Lula acompanha com atenção a eleição nos EUA; ouça o podcast
Pressionado a cortar gastos, Lula se vê entre desagradar aliados e acalmar mercado