Vera Lúcia de Carvalho parou de contar a própria idade em 7 de maio de 2009. No dia exato em que completava 48 anos, ela também perdia seu filho, Carlos Murilo de Almeida, de 19 anos, morto em um acidente provocado pelo então deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho. À véspera do júri popular, a mulher espera que o julgamento possa, enfim, lhe devolver a paz.
Ao longo desses quase nove anos, Vera Lúcia optou por sofrer calada. Ela se recolheu, evitando dar entrevistas ou falar publicamente sobre o caso. É que cada vez que abordava o caso, a dor causada pela perda do filho voltava potencializada. Se afastou do trabalho - de diarista - e hoje cuida dos dois netos. Enfrentou a depressão e passou a tomar remédios para controlar a pressão e para o coração.
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“Eu enfrentei muita coisa ruim. Muita tristeza. Cada vez que eu falava, tudo voltava. Eu espero que com o julgamento eu tenha um pouco de paz e que seja feita a Justiça”, disse. “Aniversário, eu não comemoro mais. Ele sempre trazia um bolo, chamava as vizinhas. Nunca teve nada mais disso”, completou.
Mesmo com todo o sofrimento, Vera Lúcia pôs as próprias forças à prova: participou de todas as fases do processo, inclusive da audiência em que Carli Filho prestou depoimento. Agora, ela vive a angústia da espera do julgamento e garantiu que estará presente na 2ª Vara do Tribunal do Júri, onde o ex-deputado se sentará ao banco dos réus. “Só hoje, eu já tomei três copos de água com açúcar. A gente fica nervosa”, sintetizou.
A perda
Naquele 7 de maio de 2009, Vera Lúcia foi acordada às 6 horas, por dois homens que batiam a sua casa, no bairro Partenope, em Campo Largo. Eram funcionários de uma funerária, que lhe informaram sobre o acidente. “Eles falaram que o Murilo estava hospitalizado. Eu tinha muita fé que ele estivesse vivo, mas ele já estava morto naquela hora”, disse.
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A casa ficou grande demais. Vera Lúcia, que morava só com Carlos Murilo, se mudou para outro bairro. Levou consigo apenas as fotografias e o travesseiro do filho. “Ainda tem o cheirinho dele”, disse. O coração de mãe só aliviou um pouco dois anos depois do acidente, quando Vera Lúcia sonhou com Carlos Murilo. “Ele apareceu no meu quarto, sorrindo. Estava lindo. E dizia: ‘mãe, pare de sofrer, porque eu estou bem’. Foi a única vez que sonhei com ele”, contou.
O filho
Hoje, Vera Lúcia guarda com saudade as lembranças do filho. Apresentado como um rapaz sempre sorridente e religioso, Carlos Murilo foi coroinha e sempre muito próximo aos movimentos da Igreja Católica. Começou trabalhar aos 13 anos, em uma fábrica de calcário, em Campo Largo. Na época do acidente, vivia uma rotina puxada: ia a Curitiba antes de o sol nascer; frequentava a faculdade de manhã; e, à tarde, ia para o cinema, em que trabalhava como gerente.
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“Ele sempre dizia que queria ser alguém na vida. Era muito esforçado. O acidente levou tudo”, disse.
Segundo Vera, o ex-deputado nunca lhe procurou. “Eu esperava um pedido de desculpas”, afirma. Ela aponta que ainda não conseguiu perdoar Carli Filho, mas que não sente raiva: “apenas uma mágoa muito grande”. A cada recurso por meio do qual a defesa do réu conseguia postergar o julgamento, Vera Lúcia sofria mais. Agora, ela espera que o júri, enfim, seja realizado. “Eu quero a Justiça, que seja feito o que a sociedade decidir”, resumiu.
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