Em resposta ao vídeo divulgado na noite de sexta-feira (6) por Luiz Fernando Ribas Carli Filho, Christiane Yared postou no Facebook na manhã deste sábado (7) um outro vídeo de resposta. Na data em que completa sete anos do acidente que vitimou dois jovens, entre eles o filho dela, Yared lamenta que o momento esteja sendo usado para a divulgação do vídeo em que o ex-deputado assume que bebeu e dirigiu e em que pede perdão às famílias. “Foi desumano a postar nesta data”, diz.
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Para a deputada federal, Carli Filho deve desculpas à sociedade. Ela também demonstrou não ter concordado com o discurso adotado pelo ex-deputado, destacando que não foi um “mero acidente”. “O júri popular é que vai dizer se é culpado ou inocente”, “o senhor assumiu o risco”, “bebeu e bebeu muito e em altíssima velocidade” foram algumas das frases usadas por ela.
Já com a voz embargada, Yared compara: O senhor fala que o seu pai e a sua mãe sofrem, o senhor precisa ver o que acontece na minha casa, para saber o que é sofrimento”. E finaliza: “Nós iremos nos encontrar logo, Carli Filho, e será no tribunal do júri.”
Carli FIlho pediu perdão
O ex-deputado Carli Filho gravou um vídeo de pouco mais de três minutos, obtido com exclusividade pelo colunista da Gazeta do Povo Reinaldo Bessa. Ele disse que permaneceu em silêncio nestes setes anos porque estava confuso, com medo e inseguro diante da situação. “Não sou assassino. Errei, sim. Eu bebi e dirigi. Agora estou pronto para encontrar essas famílias e poder pedir perdão”, afirmou.
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Ao colunista, Carli Filho disse que decidiu gravar e divulgar o vídeo para tentar desfazer a imagem negativa que as pessoas têm dele. Ele contou, ainda, que pretende retomar a via, está noivo e gostaria de se casar e ter filhos.
Repercussão
Os advogados da família Yared, que auxiliam a promotoria na acusação, também se manifestaram na manhã deste sábado (7). Em postagem publicada no Facebook, Elias Mattar Assad externou que o vídeo divulgado por Carli Filho é uma estratégia de defesa, que tenta preparar a opinião pública para o que vai sustentar no júri. A reportagem procurou contato com a família de Carlos Murilo de Almeida, mas o telefone do advogado está desligado.
“O perdão é um processo. Mas envolve assumir o erro. Ele teria que ter conversado conosco. Eu queria alguma coisa sincera, que viesse do coração. Perdão não se pede dessa maneira. Como cristã, eu devo perdoá-lo. Mas isso não implica que ele não deve pagar pelos erros que cometeu.”
Estava prevista uma participação de Yared às 8h30 deste sábado (7) na rádio Banda B, mas a deputada estava no litoral, em uma palestra já programada, e falou por uma entrevista gravada no meio da manhã. Ela contou que assistiu ao vídeo divulgado por Carli Filho e que considerou o material “muito bem produzido, com iluminação perfeita” e que o ex-deputado estaria lendo um discurso. “Deve ter ensaiado bastante, porque não vi emoção, não vi uma lágrima, não vi dor nos olhos deles”, comentou. Para ele, o vídeo de Carli Filho é apenas uma estratégia de defesa que visa melhorar a imagem dele antes do julgamento. “O que nós queremos é que ele assuma realmente o que aconteceu”, disse.
A deputada concedeu entrevista coletiva à imprensa na tarde deste sábado (7). Ela conta que o que mais a deixou chateada foi a data escolhida para a divulgação do vídeo - na véspera do dia das mães e quando completa sete anos das mortes. Yared acredita que há um objetivo para “escolher falar agora, às portas do julgamento, que ele não tem como escapar”. Para ela, Carli Filho esperou tempo demais para se desculpar. “Se ele tivesse vindo falar comigo talvez eu não estivesse aqui, talvez eu nem tivesse me transformado em deputada federal”, mas teria sido o silêncio dele e a recusa em admitir os erros que teriam dado, na opinião dela, a dimensão ao caso. “o que ele não entendeu ainda é que não foi uma fatalidade, um mero acidente”, disse.
Yared acredita que o fato de ter viajado no mesmo voo que Carli, em dezembro, sem que os dois conversassem, desencadeou a decisão da defesa de promover um encontro dos dois. Há cerca de dois meses, a assessoria de Carli teria procurado a assessoria de Yared, propondo um encontro. A deputada teria desconfiado das intenções e dito que precisava de um tempo para pensar. Ela então teria pedido que um pastor procurasse Carli para saber o que Carli pretendia e teria concluído que não se tratava de arrependimento verdadeiro, mas apenas uma estratégia da defesa. “Agora a nossa conversa será no júri”, diz.
A expectativa da assistência de acusação é de que a decisão judicial que impede o julgamento seja avaliada pelo Supremo Tribunal Federal assim que passar o turbilhão político que toma Brasília e que, na sequência, o júri possa ser marcado para o segundo semestre deste ano. Para o advogado Elias Mattar Assad, o vídeo faz parte da estratégia da defesa de destinar o caso para homicídio culposo, que já estaria prescrito (ou seja, já teria passado o prazo para punir). “É muito sutil. Sugere que ele envolveu num acidente e não que ele causou”, comenta.
Sete anos e sem data para julgamento
Pelas circunstâncias apresentadas durante a investigação policial e nas audiências de instrução e julgamento, a 2ª Vara do Júri de Curitiba, que abriga o caso, pronunciou Carli Filho por duplo homicídio com dolo eventual em janeiro de 2011. A pena máxima é de 20 anos de reclusão, para cada homicídio. Assim, segundo a Justiça local, o ex-deputado deve ser julgado pelo júri popular.
Desde aquele ano, no entanto, uma série de recursos começou a ser interposta pela defesa do ex-parlamentar, tanto no âmbito estadual, no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ), como nas cortes superiores, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF). E é nesta última que resta o recurso remanescente da defesa.
Uma liminar do ministro do STF Ricardo Lewandowski suspendeu, em janeiro deste ano, o júri popular marcado para começar dia 21 daquele mês enquanto o mérito da apelação feita pela defesa não for julgado pela mais alta corte brasileira.
No recurso, o ex-deputado pede, entre outras solicitações, a desclassificação da acusação do crime por dolo eventual e a mudança para o culposo, quando não há intenção de matar. Ele também pede que não haja referências ao teste de alcoolemia,que comprovou que ele estava sob efeito de álcool.
Leia o que Christiane Yared disse em um vídeo de 1 minuto e 45 segundos.
“Hoje completa sete anos da morte do meu filho, sete anos de angústia, dor e de luta. E o senhor vem em redes sociais, me pedir perdão, a mim e à Vera [mãe de Carlos Murilo, outro jovem morto na colisão], e diz que não quis produzir [as mortes], como se fosse um mero acidente, O senhor está um pouco atrasado para o enterro do meu filho. Tem sido muito, muito difícil. O senhor foi desumano ao postar justamente exatamente nesta data. Se o senhor precisa pedir perdão é para a sociedade e o júri popular é que vai dizer se o senhor é culpado ou inocente. E às vésperas do júri popular, o senhor vem às redes sociais dizer que não teve intenção de matar, que sabe que o meu filho e o amigo não saíram com a intenção de morrer. O senhor assumiu o risco, o senhor bebeu e bebeu muito. O senhor estava em altíssima velocidade. O senhor produziu o que produziu: duas mortes. A angústia, a tristeza e as lágrimas, essas são nossas. Para o senhor, irá restar o júri popular. O senhor fala que a sua mãe e o seu pai sofrem. O senhor precisa ver o que acontece na minha casa, o senhor tem que ver o que acontece na minha casa para saber o que é sofrimento. Nós iremos nos encontrar logo, senhor Carli Filho, e será no tribunal do júri.”
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