Depois de ocuparem o prédio do legislativo municipal na tarde de segunda-feira (22) e forçarem a suspensão da reunião da Comissão de Legislação, Justiça e Redação, que discutiria projetos do ajuste fiscal do prefeito Rafael Greca (PMN), os sindicalistas municipais impediram a saída de vereadores e representantes da prefeitura de Curitiba até a madrugada desta terça-feira (23). Sitiados por cerca de dez horas, os últimos parlamentares e o presidente do Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Curitiba (IPMC) só conseguiram deixar o prédio da Câmara perto da 1h15.
A ocupação do prédio da Câmara ocorreu pouco depois das 15 horas, minutos depois de a reunião da comissão ter começado. Um grupo de servidores tentou entrar na sala onde o projeto seria discutido, mas foram contidos por seguranças, que fecharam a porta de vidro que dá acesso ao espaço. Os manifestantes permaneceram no corredor, onde promoveram um buzinaço. Do lado de fora, outros servidores estouravam bombas e rojões. Uma das janelas foi quebrada na confusão. Por causa do barulho e alegando “falta de segurança e de urbanidade”, o vereador Dr .Wolmir (PSC), presidente da comissão, decidiu suspender a reunião.
FOTOS: veja imagens do protesto de sindicalistas
No protesto, havia integrantes de várias categorias, entre eles guardas municipais e professores. Os gritos eram de “retira ou não sai”, para forçar que as medidas sejam retiradas de pauta na Câmara. Além disso, os servidores controlavam o corredor e só deixavam entrar ou sair da sala de reuniões quem eles quisessem.
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Leia a matéria completaUm vereador que preferiu não se identificar afirmou à reportagem que os sindicalistas mantiveram vereadores e assessores em cárcere privado. “Eles queriam um 29 de abril municipal”, disse o parlamentar, em referência à Batalha do Centro Cívico.
Segundo informações da Câmara Municipal, as atitudes mais hostis começaram quando o presidente do IPMC, José Luiz Costa Taborda Rauen, iria falar por dez minutos para explicar os argumentos da prefeitura. Na reunião da comissão, cada um dos cinco sindicatos teve direito a levar três representantes. Outros sindicalistas tiveram acesso ao prédio da Câmara, mas não à sala onde os projetos estavam sendo debatidos.
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“Eu vim aqui a pedido da secretaria de Governo para prestar esclarecimentos técnicos e fui muito hostilizado. Eu fui, inclusive, ameaçado de morte nesta porta pelos manifestantes que estavam lá. Havia um dirigente de sindicato aqui dentro incitando os que estavam lá fora. Eu fui chamado de ladrão e de palavrões que não vou repetir aqui perante as câmeras. Estou sendo chamado de velho, não tenho nenhum problema com isso, tenho orgulho da minha idade, mas não aceito esse tipo de hostilização. Eu fiquei em cárcere privado desde a hora que cheguei aqui e não mereço isso. [...] Isto não é democracia; isto é anarquia”, disse, em entrevista, o presidente do IPMC.
A coordenadora-geral do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc), Irene Rodrigues, nega que os servidores tenham impedido a saída dos parlamentares.
“Não houve, de forma alguma, qualquer cerceamento do direito de ir e vir. Eles estavam com medo, mas daí é uma questão pessoal deles. Nós garantimos que ele podiam passar com segurança”, afirma.
“Só fizemos uma ação mais radical porque percebemos que os vereadores iriam aprovar os projetos. Nós achamos inadmissível projetos com o teor desses serem aprovados da forma como são. O prefeito sequer recebeu os trabalhadores; não conversou com a gente de forma alguma”, disse.
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Perto da meia-noite, moradores da região também foram ao prédio da Câmara pedir que os manifestantes parassem com as buzinas. Vizinha da Casa, Daniele Mazza afirmou que passou o dia hospitalizada e queria descansar.
“Acho que a democracia tem que ser, sem tirar a paz do próximo, com uma boa negociação. A gente só quer tentar dormir”, disse.
Justiça determina fim de acampamento em frente à Câmara
Depois de permitirem a saída dos vereadores, os sindicalistas ainda mantiveram o acampamento na Praça Eufrásio Corrêa em frente ao legislativo municipal, onde estão desde a semana passada, durante o restante da madrugada. Na tarde de segunda-feira, a Justiça determinou a reintegração de posse da área, que foi solicitada pelo Município de Curitiba e expedido pela juíza Patricia de Almeida Gomes Bergonse, da 5ª Vara de Fazenda. O mandado foi recebido às 18 horas de segunda pela coordenadora-geral do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc), Irene Rodrigues. Os sindicalistas começaram a desmontar o acampamento na manhã desta terça-feira (23).
Na decisão, a juíza diz que “não se nega o direito à liberdade de manifestação e reunião”. O documento acrescenta que a manifestação “cria atmosfera de desordem pública, gerando ambiente hostil” e “gera preocupação em face da necessária preservação da incolumidade física dos manifestantes, bem como do próprio bem público, que se constitui em Patrimônio Histórico Municipal”. Em caso de descumprimento, havia a previsão de multa diária de R$ 10 mil e a reintegração caberia à Polícia Militar do Paraná (PM-PR).