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 | Filipe Araújo/Fotos Publicas
| Foto: Filipe Araújo/Fotos Publicas

Um dia depois de ter sido levantado o sigilo das delações da Odebrecht, o ex-presidente Lula afirmou nesta quinta-feira (13), em entrevista a uma rádio, que a acusação contra ele é tão “inverossímil e irreal” que não vai rir nem chorar, apenas ler cada peça do processo para chegar com segurança “no dia certo”.

A respeito de uma mesada de R$ 5 mil que a Odebrecht pagaria a um dos irmãos dele, o Frei Chico, disse que é “problema da Odebrecht”. A afirmação sobre o suposto pagamento foi feita por Hilberto Mascarenhas, diretor do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, conhecido como “departamento de propina”.

“Se a Odebrecht resolveu dar R$ 5 mil pro meu irmão, é problema da Odebrecht. Meu filho tava metido no futebol americano, tinha patrocínio, inventaram apartamento que não é meu, o triplo X, sou acusado de reforma em sítio em Atibaia e o sítio não é meu, tem dono e tudo.”

Em entrevista à Rádio Metrópole, de Salvador, o ex-presidente disse que não pode ficar nervoso ou perder a cabeça “por uma coisa dessa” neste momento.

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“Mais um absurdo, a delação do Marcelo Odebrecht. Eu até compreendo que o Marcelo já tá preso há dois anos, que ele tem família fora, que ele tá comendo o pão que o diabo amassou e talvez esteja tentando criar condição para sair da cadeia. Agora, é tão inverossímil a acusação, é tão irreal, que eu não vou rir nem vou chorar. Vou analisar corretamente, vou conversar com os advogados, vou ler cada peça do processo, pra que a gente possa chegar no dia certo claramente e com segurança. A delação tem que ser provada, a pessoa tem que provar”, afirmou.

Nem R$ 10 ilícitos

Lula disse ainda que está tranquilo e desafiou empresários a dizerem que pediu dinheiro a eles.

“Eu tô muito tranquilo, porque eu continuo desafiando qualquer empresário brasileiro, qualquer empresário, a dizer que o Lula pediu R$ 10 pra ele. Se alguém pediu em meu nome, essa pessoa tem que ser presa, porque eu nunca autorizei ninguém a pedir dinheiro em meu nome. Eu não posso ficar nervoso, perder a cabeça por uma coisa dessa nesse momento. Hoje vou começar a ler as peças e me preparar para ao meu depoimento e a vida continua. Vou continuar fazendo política. O dia que alguém que provar um erro meu ou R$ 10 ilícitos na minha vida, eu paro com a política”, disse Lula.

O ex-presidente falou também sobre seu primeiro depoimento ao juiz Sérgio Moro, marcado para o dia 3 de maio, em Curitiba. “Cada depoimento que eu vou prestar eu fico surpreso com a qualidade das perguntas que eles fazem, porque é uma coisa até sem nexo, ou seja, me parece que eles já estão com a tese pronta e querem só encontrar o conteúdo para colocar dentro da tese deles. Eu tô tranquilo, vou prestar depoimento no dia 3 de maio, e é a grande oportunidade que eu tenho de ouvir as perguntas e as acusações que eu sou vítima, para poder responder com muita tranquilidade.”

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De volta à escravidão

Lula disse que mais grave do que a sua prisão, “mais escabroso”, é o “golpe” que o país teve: “Uma parte da elite brasileira resolveu não conviver mais com qualquer política de distribuição social, foi dado um golpe nesse país. Você vê que quem está governando esse país está desmontando conquistas históricas da classe trabalhadora. A terceirização do jeito que foi feito nós vamos voltar ao tempo da escravidão, a tentava de extinguir a CLT, extinguir a Justiça do Trabalho, a tentativa de mexer com a aposentadoria, sobretudo a do povo mais pobre desse país. É quase que uma coisa criminosa”, afirmou, acrescentando que precisam encontrar “uma pulga” para evitar que ele seja candidato em 2018.

“Quero que alguém nesse país, com não sei quantos juízes, promotores, que prove contra mim alguma dessas acusações que eu vejo na imprensa todo santo dia”, emendou.

Lula disse que está triste com a situação econômica do país e disse que não tem medo de adversidades. “Pode me bater, quem nasceu em Garanhus na época que eu nasci e não morreu de fome até completar cinco anos de idade não tem medo de nenhuma adversidade, enfrentarei todas elas de cabeça erguida.”

Clima de ódio

O ex-presidente disse que o “clima de ódio” já diminuiu em vários estados e que quer construir um mundo democrático. “Você briga com seu adversário durante a eleição, mas você não pode tentar destruir a governança do seu adversário. Política é para fazer coalização... fora da política é o fascismo, o nazismo, não existe solução fora da política”, disse. “Em 2018 tudo pode mudar, pode eleger só gente boa, tá na mão do povo eleger os melhores governadores, os melhores deputados estaduais. O que não pode é eleger um Congresso como esse que está aí, que tá destruindo tudo, destruindo o direito trabalhista em benefício de alguns empresários conservadores, que acham que férias de 30 dias deixa o trabalhador ocioso. É esse retrocesso que nós precisamos evitar que aconteça no Brasil.”

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Para Lula, é preciso viver democraticamente: “Acho que o país precisa encontrar seu caminho, voltar a ser alegre, viver democraticamente... Durante o jogo é uma coisa, acabou, vamos pro bar tomar uma cervejinha... é assim que eu penso a democracia”

Sobre Dilma

Perguntado sobre se considerava que o desempenho de Dilma Rousseff à frente do governo havia prejudicado sua imagem e a do PT, Lula não respondeu diretamente e traçou um paralelo entre os segundos mandatos da petista e do Fernando Henrique Cardoso para apresentar seu pensamento.

“O começo do segundo mandato do Fernando Henrique Cardoso, em 99, com aquela crise cambial, ele tinha 8% de aprovação, como a Dilma. Qual foi a diferença? É que o Fernando Henrique tinha um Temer de presidente da Câmara tentando ajudar o governo para aprovar as reformas para começar a recuperar a economia. (...) A Dilma teve o contrário, teve um Eduardo Cunha tentando atrapalhar qualquer reforma. Essa é a diferença básica”, afirmou.

Para Lula, se as reformas econômicas apresentadas por Dilma tivessem sido aprovadas em “tempo hábil” a crise não teria alcançado a proporção atual. Ele admitiu que foram cometidos erros durante a gestão e citou como exemplo o aumento no preço da gasolina.

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