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Lula pediu votos para Guilherme Boulos (Psol) no evento de 1º de maio
O presidente Lula pediu votos para Guilherme Boulos (PSOL) no evento de 1º de maio| Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou de um ato esvaziado em celebração ao Dia do Trabalho em São Paulo organizado por centrais sindicais. Ao discursar no evento, ele desrespeitou a lei eleitoral ao pedir votos abertamente para o pré-candidato à prefeitura paulistana Guilherme Boulos (PSOL). Lula pode ser multado, mas não está claro se Boulos pode sofrer punição.

Segundo a lei eleitoral, só é permitido pedir votos para um candidato a partir do início oficial da campanha eleitoral em 16 de agosto. O presidente pode receber uma multa que varia entre R$ 5 mil e R$ 25 mil. Não está claro se Lula decidiu assumir o risco ou se cometeu um erro. Quando a propaganda feita por Lula começou a repercutir negativamente na imprensa e nas redes sociais, um vídeo do evento foi apagado das redes sociais oficiais do governo.

O "Ato unificado pelo Dia do Trabalhador e da Trabalhadora" aconteceu na tarde desta quarta-feira (1º) na Neo Química Arena, o estádio do Corinthians. Políticos, ativistas e artistas se revezaram para animar o público até a chegada da estrela da tarde, o presidente Lula, que discursou por 20 minutos, a partir das 14h40.

O evento foi transmitido pela TV PT, mas com poucas imagens abertas, para não exibir quantas pessoas compareceram ao estádio de Itaquera, bairro da Zona Leste de São Paulo. Era possível ver centenas de pessoas, mas também muitos espaços vazios.

O presidente da República disse que o público presente estava aquém do que ele esperava. Chamou o ato de "mal convocado" e revelou ter cobrado Márcio Macêdo, secretário que cuida dos movimentos sociais, por essa falha. Após dar a bronca no subordinado ao vivo, incluindo um "isso não vai ficar assim", Lula contornou a saia justa dizendo "estou acostumado a falar com mil, com um milhão, mas também, se for necessário, eu falo apenas com a senhora maravilhosa que está aqui na minha frente".

Lula subiu ao palco de mãos dadas com o deputado federal e líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, que é pré-candidato a prefeito da cidade neste ano, numa aliança entre Psol e PT. Ignorando as leis eleitorais, Lula pediu voto para o futuro candidato sem fazer cerimônia. "Cada pessoa que votou no Lula em 89, em 94, em 98, em 2002, em 2006 e em 2022 tem de votar no Boulos para prefeito de São Paulo", declarou.

Nunes e outros pré-candidatos vão à Justiça contra Lula e Boulos

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), vai acionar a Justiça Eleitoral contra Lula e a companha de Boulos. O prefeito, assim como o governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foram convidados pelas centrais sindicais para o evento, mas recusaram.

Os pré-candidatos Kim Kataguiri (União) e Marina Helena (Novo) também anunciaram que entrarão na Justiça contra pedido de votos explícito de Lula a Boulos. Para Nunes, Lula age como se ainda estivesse em campanha contra Bolsonaro. Ele é pré-candidato à reeleição com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Parece que o presidente ainda está no palanque de 2022 [quando disputou a eleição contra Bolsonaro] e já pensando no palanque de 2026. Como presidente da República, tem uma atitude que claramente sabe que é um desrespeito à lei eleitoral. Não tem outra palavra a não ser lamentar", disse Nunes a jornalistas sobre o discurso.

Relação com o Congresso

Lula também disse que a cobertura da imprensa dá "a impressão que há uma guerra entre o governo e o Congresso". Ele disse que todos os projetos de lei que o governo enviou ao Congresso foram aprovados. Mas na verdade o governo tem enfrentado muita dificuldade em aprovar suas pautas.

Diversos vetos de Lula a projetos, como o do marco temporal para demarcação de terras indígenas e a desoneração da folha de pagamentos, foram derrubados pelos parlamentares. Os articuladores de Lula no Congresso estão enfrentando grande resistência, especialmente do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

A fala de Lula também contemplou feitos que ele atribui ao seu governo, como inflação caindo, indústria crescendo e mais emprego com carteira assinada. "A preocupação que eu tinha era competir com meu primeiro e meu segundo mandatos. Mas nós vamos fazer um terceiro mandato melhor do que os outros dois", disse o presidente, antes de elogiar o vice-presidente Geraldo Alckmin e ministros presentes.

Ao citar o ministro dos direitos humanos Silvio Almeida, Lula fez um comentário inusitado: "O Silvio é muito importante por ser filho do Barbosinha, que foi goleiro do nosso Corinthians nos anos 60". Outros presentes no palco homenageados por Lula foram Alexandre Padilha, Luiz Marinho, Anielle Franco e Paulo Teixeira.

Antes da chegada do presidente, os oradores pertencentes a sindicatos ou movimentos sociais fizeram críticas ao governador de São Paulo Tarcísio de Freitas e seus projetos de privatizações e também à política de juros de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Entre as falas, grupos de forró e samba fizeram apresentações, sempre com o petista histórico Eduardo Suplicy dançando no palco.

O evento segue no estádio do Corinthians com apresentações musicais de Dexter, Paula Lima, Bateria da Gaviões da Fiel, Afro-X, Ivo Meirelles e Sergio Loroza. Mas o público, que já era pequeno, deu uma bela debandada com suas bandeiras da CUT e demais centrais de trabalhadores após a fala de Lula. A hashtag #flopou ficou entre as mais buscadas no X (antigo Twitter) após o fim do discurso do presidente.

Reajuste da tabela do IR

Antes de iniciar sua fala, Lula sancionou já em cima do palco o reajuste da tabela do imposto de renda. O projeto, que havia sido aprovado pelo Congresso, amplia a isenção do IR para quem ganha até dois salários mínimos, ou seja, R$ 2.824 por mês. O teto de isenção estava congelado em R$ 1.903,98 desde 2015. Em 2023, subiu para R$ 2.640.

De acordo com o governo, este ano a atualização da faixa de isenção do imposto de renda beneficiará 15,8 milhões de brasileiros. O Ministério da Fazenda calcula uma redução de R$ 3 bilhões em receitas.

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