O exame em mulheres jovens teria apontado muitos falsos positivos, levando a procedimentos desnecessários.| Foto: Bigstock

Qual a idade certa para começar a realizar exames de rastreamento de câncer de mama? A questão divide gestores de saúde pública de todo o mundo e a nova diretriz da American Cancer Society colocou mais lenha no fogo dessa discussão. Estudo publicado pela instituição no fim de outubro recomenda que as mamografias anuais para rastreamento do câncer de mama sejam iniciadas a partir dos 45 anos e não mais aos 40, como é prática nos Estados Unidos. A partir dos 55 anos, o exame deverá ser feito a cada dois anos até a mulher atingir idade em que a expectativa de vida seja de dez anos ou menos.

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57 mil novos casos

de câncer de mama devem ser diagnosticados neste ano no Brasil, de acordo com estimativa do Instituto Nacional do Câncer. O câncer de mama representa 22% dos casos da doença do país.

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A nova diretriz serve para mulheres com risco médio de desenvolver a doença – aquelas que não possuem predisposição genética ou outros fatores de risco – e é fruto de um estudo que acompanhou pacientes ao longo dos anos. De acordo com os pesquisadores, a mamografia se mostrou menos efetiva no rastreamento de câncer de mama em mulheres mais jovens.

Nesses casos, o exame teria apontado muitos falsos-positivos, o que leva a paciente a passar por procedimentos adicionais dolorosos de forma desnecessária. Um dos problemas da mamografia é que o exame não consegue obter imagens bem definidas de mamas jovens. Isso porque essas mamas são muito densas, o que dificulta a diferenciação entre o tecido saudável e possíveis nódulos.

“São vários os aspectos que precisam ser considerados para definir o ponto de corte para o início dos exames de rastreio. Por aqui não temos estudos de longo prazo, específicos para a nossa população, que validem ou não a opção do Brasil”, comenta o médico Evanius Wiermann, chefe do serviço de oncologia do Hospital Vita e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.

Aumento

O total de mamografias realizadas entre mulheres de 50 a 69 anos no Brasil cresceu 61,9% entre 2010 (1.547.411) e 2014 (2.506.339), segundo dados do Ministério da Saúde.

No Sistema Único de Saúde (SUS), mamografias para rastreio de câncer são realizados entre os 50 e 69 anos da mulher e a cada dois anos. A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), por sua vez, recomenda que o exame seja realizado a partir dos 40 anos e anualmente. Em nota, a SBM ressalta que há uma alta prevalência da doença entre mulheres de 40 a 49 anos.

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No Hospital Erasto Gaertner, cerca de 30% das pacientes do hospital com câncer de mama estão entre os 40 e 50 anos, diz o mastologista José Clemente Linhares. “É um grupo muito grande para ser menosprezado”, diz. Para ele, outro problema da diretriz adotada pelo governo brasileiro, segundo ele, é o intervalo entre um exame e outro. “Dois anos é um tempo muito longo”, critica .

O médico diz que, nesse período, um câncer pode se desenvolver e acabar sendo detectado quando já estiver num estágio avançado. “Um ano é o período razoável. Nesse tempo, pode haver o desenvolvimento de um tumor, o que chamamos de câncer de intervalo. Mas isso é muito raro”, explica.