Uma equipe internacional de cientistas, com a participação de pesquisadores de diversas instituições brasileiras, sequenciou e analisou pela primeira vez o genoma do inseto Rhodnius prolixus, uma das espécies dos popularmente conhecidos como barbeiros e apontados como principais vetores da Doença de Chagas. Segundo os cientistas, os dados apontam características únicas deste grupo da subfamília dos Triatomíneos e podem ajudar no desenvolvimento de novas estratégias de prevenção da transmissão do mal provocado pelo parasita Trypanosoma cruzi, que afeta cerca de sete milhões de pessoas no mundo, a maioria na América Latina.
De acordo com o estudo, publicado na edição de ontem do periódico científico Proceedings of the National Academy of Science (PNAS), o genoma do barbeiro apresenta diversas regiões “estendidas” na comparação com os de outros insetos transmissores de doenças que explicam sua evolução para se tornar hematófago, isto é, que se alimenta de sangue. Nestas regiões estão genes responsáveis pela produção de proteínas para identificação de odores que os ajudariam a encontrar suas presas, além de proteínas na saliva com propriedades anticoagulantes e anestésicas que permitem ao barbeiro se alimentar sem ser notado, e proteínas no sistema digestivo para que ele possa digerir o sangue de suas vítimas.
Mas o dado que chamou mais a atenção dos pesquisadores, e que tem o potencial de auxiliar no combate ao Chagas, é a relação “silenciosa” que se estabelece entre o sistema imunológico do barbeiro e o protozoário causador da doença. Experimentos iniciais que bloquearam duas das mais comuns vias de reação imunológica existentes nos insetos, e também nos barbeiros, não tiveram influência na contagem dos parasitas no seu abrigo, o sistema digestivo dos barbeiros. Os cientistas, porém, esperam que futuros estudos com base nos dados do genoma encontrem maneiras de afetar esta relação para evitar ou dificultar que os barbeiros transmitam Chagas.
“Já estamos com um trabalho em curso para saber quais genes do barbeiro são mais ou menos expressos (ativos) com a presença do parasita”, conta Rafael Dias Mesquita, professor do Instituto de Química da UFRJ e primeiro autor do estudo na PNAS. “Como as vias de imunidade comuns do inseto não controlam a presença do parasita, isso pode nos dar dicas de como os dois organismos interagem e abrir caminho para algum tipo de prevenção do Chagas ao interferirmos de alguma forma nesta relação”.
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