Ainda está longe de ser descoberta a cura definitiva do câncer. É o que atestam especialistas e institutos da área de saúde. A substância fosfoetanolamina, que passou a ser produzida em laboratório por um pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e chegou a ser considerada uma espécie de “milagre” contra os tumores, ainda precisa passar por um longo caminho de testes para que sua eficácia seja provada.
Embora a fosfoetanolamina tenha apresentado resultados positivos na contenção e na redução de tumores, ainda é preciso cautela em relação ao assunto. Afinal, a substância não pode nem ser considerada, de fato, um remédio. Isso porque ela não passou por todas as fases necessárias, que incluem testes em seres humanos. Ainda assim, decisões liminares obrigam a USP a fornecer o produto para os pacientes que a solicitam.
Luta para receber a droga está na Justiça
Leia a matéria completaA professora Cynthia Bordin, da área de farmacologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), alerta que ainda é muito arriscado fazer uso dessa substância química. “Foram realizados apenas testes laboratoriais e em animais, mas não há testes em seres humanos. Não se sabe nem as reações adversas dessas moléculas”, alerta.
Para que a substância seja considerada medicamento, é obrigatório que sejam realizados testes em humanos. Posteriormente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve aprová-la. O professor de Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Alfredo Marques aponta que ainda faltam estudos que comprovem ou não a eficiência da fosfoetanolamina.
A Anvisa informa que não recebeu qualquer pedido de avaliação para registro dessa substância, tampouco pedido de pesquisa clínica, que é a avaliação com pacientes humanos. “Isso significa que não há nenhuma avaliação de segurança e eficácia do produto”, diz em nota.
A fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também ressalta que não é possível levantar considerações ou garantias sobre a substância sem uma série de estudos pré-clínicos e clínicos, sobre a eficácia e a segurança terapêutica do uso clínico de cápsulas da substância no combate ao câncer.
Anvisa diz que distribuição da substância é ilegal
Leia a matéria completaOutro possível problema apontado pela farmacêutica Cynthia é que cada organismo pode reagir diferentemente a determinadas substâncias. “Os efeitos adversos podem variar conforme a carga genética”, diz. Mas a fosfoetanolamina não possui nem bula, o que implica a falta de orientação de como ingerir a substância.
Outro fato importante é que podem ocorrer variações na atuação da substância em diferentes tecidos do organismo. Por isso ficaria difícil atestar que a fosfoetanolamina poderia ser a cura para diferentes tipos de tumores. “Isso varia de acordo com as características das moléculas para chegar e atuar em determinada região do organismo”, explica a professora.
As grandes dúvidas
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O que é?
A fosfoetanolamina sintética é uma substância que passou a ser produzida em laboratório pelo pesquisador Gilberto Orivaldo Chierice, da USP, hoje aposentado, que acredita que ela seja capaz de tratar câncer. O pesquisador alega que pediu ajuda à Anvisa para desenvolver os testes necessários, mas houve, segundo ele, “má vontade” da agência. A entidade, por sua vez, afirma que nunca houve um pedido de autorização para pesquisa clínica.
A fosfoetanolamina vem acompanhada de bula?
Ainda que a entrega seja realizada por demanda judicial, a USP informa que ela não é acompanhada de bula ou informações sobre eventuais contraindicações e efeitos colaterais, pois não foram realizados testes em seres humanos.
Para quais tipos de tumores a fosfoetanolamina é indicada?
A USP aponta que não dispõe de dados sobre a eficácia da fosfoetanolamina no tratamento dos diferentes tipos de câncer em seres humanos.
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