Paraná chega a 107 mortes causadas pela nova gripe
O Paraná registra no total 107 mortes causadas pela gripe A (H1N1), conhecida como gripe suína. Dessas, 28 foram anunciadas ontem. No boletim epidemiológico da última sexta-feira, eram 79 óbitos. Com os novos números, o Paraná tem uma morte para cada grupo de 100 mil habitantes. No momento, é a taxa de mortalidade mais alta do país, mas o governo paranaense diz que isso se deve o fato de estar fazendo os exames de comprovação mais rapidamente do que outros estados. Além disso, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) afirma que investiga todos os óbitos por doença respiratória aguda grave.
Muitas faltas no interior
A chuva e o medo atrapalharam a volta às aulas nas principais cidades do interior do estado ontem. Em algumas cidades, menos da metade dos alunos apareceu nos colégios. Aqueles que apresentavam sintomas de gripe tiveram de voltar para casa.
Municípios mantêm férias por mais tempo
Santo Antônio da Platina e Ponta Grossa - Vários municípios do Paraná decidiram manter por mais tempo a suspensão das aulas. Só no Norte Pioneiro, foram 13 cidades. Na região metropolitana de Curitiba, as prefeituras de Almirante Tamandaré, Campo Largo, Colombo, Piraquara, Quatro Barras e São José dos Pinhais. Ponta Grossa e Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, também não retornaram às aulas.
A secretária de Educação em Ponta Grossa, Zélia Marocchi, destacou que, ao contrário da rede estadual, o sistema municipal tem muitas crianças pequenas menores de 5 anos mais suscetíveis ao vírus
O prefeito de São José da Boa Vista, Dilceu Bona (PSDB), afirmou que a intenção é aguardar mais uma semana para a temperatura subir.
Em Santo Antônio da Platina, maior cidade da região, a secretária de Educação, Maria Laura Rosendo, preferiu adiar o retorno pela dificuldade em adquirir álcool gel, toalhas descartáveis e sabonete líquido.
Marco Martins e Kátia Brembatti
Escola se vê obrigada a negar morte de diretor
Um aviso recepciona quem chega à Escola Estadual Nirlei Medeiros, no Campo do Santana, na Região Sul de Curitiba. O papel branco colado do lado de fora do portão informa que o diretor do colégio, Elson Ribeiro, está bem de saúde e sem gripe. Trata-se de uma resposta a um dos tantos boatos que se espalharam mais rapidamente do que a pandemia da nova gripe.
Entre os alunos da instituição, o boca a boca que corria antes do retorno às aulas era de que o diretor teria morrido após contrair a gripe A. Não só o cartaz na porta desmente a notícia, como também os funcionários da escola afirmam que o diretor está em casa, se recuperando de uma pneumonia. Contatado pelos funcionários, Ribeiro não autorizou a reportagem da Gazeta do Povo a registrar a volta às aulas no local. (LR)
No dia em que 3,5 milhões de alunos voltaram às aulas no Paraná depois de duas semanas de adiamento em razão da pandemia de gripe A (H1N1), conhecida como gripe suína escolas e pais fizeram sua parte para ajudar na prevenção contra a doença. Pouco se ouviu falar de estudantes em sala de aula com sintomas de gripe, o que quer dizer que os pais mantiveram filhos doentes em casa, conforme a recomendação. Nos colégios, o álcool gel estava à disposição na maior parte dos casos, e as janelas foram mantidas abertas.
Impedir que os alunos mantivessem seus hábitos, porém, foi impossível. Apesar de todos os avisos, os alunos não cansaram de se beijar, se abraçar e andar de mãos dadas. Um grupo de cinco amigas que matava a saudade em um abraço coletivo ontem, em frente a um colégio particular de Curitiba, explicava o sentimento de meninos e meninas. "Nós somos muito amigas", argumentou uma. "E somos limpinhas", disparou outra.
Evitar o contato muito próximo dos alunos e as aglomerações nos colégios eram justamente alguns dos motivos que levaram as autoridades a suspender temporariamente as aulas no estado. O vírus da gripe A, assim como o da gripe comum, passa pela saliva, pela tosse e pelo espirro, entre outras formas. Os beijos e abraços acabam facilitando a transmissão da doença.
Ontem, quando as aulas foram retomadas simultaneamente nas creches, nas escolas privadas, estaduais e municipais, e nas universidades, a presença dos alunos foi maior na capital do que no interior do estado. Em Curitiba, segundo os colégios particulares e a Secretaria de Estado da Educação, a frequência média foi de 90%. Em grandes cidades do interior, foi bem menor (veja mais ao lado).
Nas escolas particulares da capital, a educação infantil apresentou os maiores índices de ausência. Em algumas turmas, metade dos alunos deixou de ir à aula ontem. Vários municípios parananses resolveram prolongar as férias ainda mais (veja abaixo). Das maiores universidades do estado, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e a Universidade Estadual de Londrina (UEL) continuam sem aulas.
Pais e filhos
De modo geral, os pais aprovaram o período sem aulas e também o retorno neste momento. "Agora melhoraram as condições climáticas e diminuíram os casos. Acho que valeu a pena esse período de suspensão", opina o analista de sistemas Lincoln Nilo Pereira, 43 anos, pai de Giovanna, de 11 anos, e Giulliana, de 15 anos. "Minhas filhas estão levando álcool gel na mala e foram orientadas a não compartilhar materiais, lanches e não beijar os colegas", conta.
"Elas vieram para a aula sem preocupação, sem susto, mas demos orientações. Falamos para elas que, mesmo depois de um mês sem ver os amigos, nada de dar abraços e beijos", conta Magda Ruschel, avó de Paula Amorim, 10 anos, e Beatriz Amorim, 11 anos. A recomendação, porém, foi difícil de ser seguida. "É que dá saudade", tentou justificar Paula, ao abraçar uma amiga na saída da escola.
O coordenador do setor de saúde das escolas da rede Bom Jesus, José Francisco Klas, reconhece a dificuldade de mudar o hábito. "É difícil eles aceitarem. Mas orientamos que eles correm um risco maior se continuarem insistindo neste comportamento", explica. O "trabalho é árduo", na opinião de Maria Madselva, diretora do Colégio Estadual do Paraná, porque "faz parte do costume do brasileiro a aproximação afetiva".
De acordo com o médico, o que mudou foi o comportamento dos pais. "Hoje (ontem), tivemos só uma criança com sintomas de gripe e a mandamos para casa. Isso significa que os pais estão realmente respeitando as orientações de não mandar as crianças doentes para a escola", opina. O diretor das escolas Positivo, Carlos Dorlass, tem uma posição semelhante. "Os pais têm acompanhado nossas orientações e das autoridades de saúde. Acho que essa é uma oportunidade em que todos vão tirar uma lição única que vai ajudar até para impedir a disseminação de outras doenças", diz.
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