Há mais de um ano a artesã Caroline Filizolla não ingere alimentos com glúten, mesmo não sendo celíaca.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

“Não contém glúten” deixou de ser um aviso para um grupo específico de pessoas diagnosticadas com doença celíaca (intolerância à substância, que está presente na farinha de trigo, centeio, cevada e aveia) e passou a atrair diversos tipos de pessoas que optam por tirar o glúten de suas vidas.

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De acordo com o artigo “The Gluten-Free Diet: Recognizing Fact, Fiction, and Fad” (“A Dieta Livre de Glúten: Reconhecendo Fatos, Ficção e Caprichos”, em tradução livre), publicada no The Journal of Pediatrics, uma pesquisa realizada em 2015, 32% da população latino-americana declarou que o fato de um produto não conter glúten é “muito importante” na hora de comprá-lo. Conforme a Declaração de Posicionamento da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBRAN) sobre Dieta sem Glúten, o crescimento das vendas de produtos sem glúten é de 30% ao ano desde 2004, “apesar de não ter havido nenhum aumento correspondente na incidência da alergia ao glúten”.

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Quem adota uma alimentação livre do glúten relata perda de peso, melhoria em condições gerais de saúde e no desconforto gastrointestinal. Ainda assim, sociedades como a SBRAN e diversos especialistas como o gastroenterologista pediátrico Norelle J. Reilly, ligado ao Centro Médico da Universidade de Columbia e responsável pelo artigo citado acima, não recomendam a não celíacos cortarem o glúten de suas dietas, devido à falta de provas de que isso as beneficiaria.

Excesso de gordura e açúcar

Além disso, segundo o parecer da SBRAN, a não ingestão de glúten pode causar alterações negativas na flora microbiana saudável do intestino, que ajuda a protegê-lo do câncer, de doenças inflamatórias, dislipidemias e doenças cardiovasculares. O documento diz que a farinha de trigo tem “efeito prebiótico”, ou seja, serve de alimento para essas bactérias. Sem ela, há uma diminuição dessa flora microbiana saudável.

Se feita sem orientação de um especialista, a retirada do glúten pode significar a ingestão de outras substâncias que, em excesso, não fazem bem à saúde. “Alimentos industrializados sem glúten frequentemente contêm uma quantidade de gordura e açúcar maior do que os semelhantes que contêm glúten”, escreve Reilley. Segundo ele, estudos mostram que diversas pessoas aumentaram o consumo de gorduras e calorias após o início de uma dieta sem glúten, além do registro de obesidade, sobrepeso e resistência insulínica em quem tira a substância da alimentação.

Outra questão, segundo ambos os documentos, é que a adoção de uma dieta sem glúten sem necessidade comprovada dificulta o diagnóstico de doença celíaca ou da sensibilidade à baixa fermentação e má absorção dos carboidratos de cadeia curta, conhecidos como óligo, di, monossacarídeos e polióis fermentáveis (conhecidos como FODMAPs). Apesar desse grupo incluir farinhas e seus derivados, há também frutas, verduras e laticínios ricos em FODMAPs, o que significa que não é apenas o glúten que precisa ser retirado ou evitado na dieta.

Substituição saudável

A artesã Carolina Filizola não é celíaca, mas também não ingere glúten há mais de um ano. Desde então, conseguiu perder os 30 quilos que ganhou durante a gestação de sua filha Isabela e sente que seu estado de saúde melhorou consideravelmente. “Perdi peso muito rápido e meu corpo mudou. Acordo super bem disposta, não tenho mais tendinites, meu sono melhorou bastante. O triglicerídeos caíram, os colesterois estão bons”, conta.

Apesar de ver o glúten como vilão e atribuir boa parte dos benefícios obtidos à retirada da substância de sua alimentação, Carolina não parou de comer glúten, simplesmente, nem substituiu produtos com glúten por aqueles que não contêm a substância. “Diminui os carboidratos - mas eles vêm na forma de vegetais, e tirei pães, açúcar e alimentos industrializados. Sobraram os legumes, as verduras, algumas frutas e bastante proteína”, revela.

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