No último ano, a jornalista Dirlene Sabóia da Cunha usou o controle remoto da televisão como arma para preservar seu pai – o engenheiro civil Venevérito da Cunha. Em vez do noticiário político, as reprises da Escolinha do Professor Raimundo, dentre outras de sua preferência. Partia-se de rir, imune às baixarias. Parecia um adolescente, à revelia de ter completado – em 29 de agosto passado – a extraordinária marca de 100 anos.
“Vene”, como o chamavam os íntimos, completou um século de vida quase sem avarias. Podia bater um bom prato de arroz e feijão, sem culpa, azia ou má digestão; atravessar a rua e se esbaldar com doces de padaria; e, para inveja de 99% da humanidade, ler sem óculos. Quanto à memória, um cisco. Não bastasse o privilégio da saúde com a qual nem o Márcio Atalla ousa sonhar, o engenheiro guardava um tesouro – sua biografia.
Os nove filhos de Venevérito e da lapiana Lia Saboia suspeitavam que o pai tinha lá sua grandeza. Volta e meia um professor lhes cobrava que tirassem notas melhores em Matemática, para honrar o sobrenome que carregavam. Mas havia cotidiano demais, numa família tão grande, para que se ocupassem do passado. Pouco depois da dolorosa morte de Lia, em 2007, o próprio patriarca acolheu uma sugestão casual, feita por Dirlene, de que escrevesse suas memórias. Não demorou, uma loja de departamentos entregou um computador à porta dos Cunha, no Alto da XV. Aprendeu a manusear o mouse e a salvar. O que ele escreveu foi uma surpresa para a própria prole, que se viu apresentada ao senhorzinho grisalho com quem dividiam o sofá da sala.
O livro escrito por Venevérito saiu em uma edição pequena, restrita a parentes e amigos. Mas o conteúdo não é segredo para ninguém. O autor nasceu em Florianópolis, de uma família modestíssima, mas agraciada pela cultura erudita e popular. O bisavô paterno era ninguém menos do que o padre Cunha, um sacerdote católico pouco devotado à castidade, mas merecedor de perdão: tinha dons sobrenaturais e conhecia o poder curativo das plantas. O pai era músico da Orquestra dos Cupins. A mãe, paraibana, andava sempre de salto alto, mas preferia bibliotecas e cinemas a salões de beleza. Havia sons, imagens e letras em fartura na casa do menino Nequinho – seu apelido em criança –, educado nas lides do Almanaque do Tico-tico. Devia ser artista, mas como faltava prata, coube-lhe aprender o ofício de alfaiate, da qual herdou o gosto pela elegância, pela precisão e pela sobriedade, as três armas que lhe garantiram um lugar no futuro.
“Até pouco tempo, ele descia para o café da manhã de paletó”, conta Dirlene, sobre o catarinense que em 1938 – um forasteiro em calças vincadas – desembarcou na Estação Ferroviária, em Curitiba, para cursar Engenharia na Universidade do Paraná. Penou. Décadas depois, quando sentia algum mal-estar, brincava que ainda estava sob efeito da péssima comida das pensões onde viveu na mocidade. Os amigos de carteira – donos de sobrenomes que se confundiam à História do Paraná – poderiam tê-lo ignorado, a não ser por um detalhe: reza a lenda que não houve melhor calculista na crônica da engenharia local.
Além de boa praça, Vene era um craque nos números e na análise de materiais. Seu nome num projeto valia como garantia de que nada iria ruir, daí ser disputado a cotoveladas por baluartes da arquitetura moderna, a exemplo de Rubens Meister, Elgson Ribeiro, Romeu Paulo da Costa, para citar três. A fama ultrapassou gerações. Se bem lembra Dirlene, o pai tinha 88 anos quando parou de dar consultorias – na maioria das vezes gratuitas – para profissionais que chegavam com rolos de projetos debaixo do braço, em busca do aval e das bênçãos do longevo Venevérito. “Ele amava a engenharia acima de tudo”, resume a filha.
Ou quase. Havia Lia. Na entrevista que deu em setembro passado para a Gazeta do Povo, logo depois de seu centenário, Venevérito descreveu com detalhes de folhetim o dia em que conheceu a mulher, ainda adolescente, a tristeza de tê-la perdido de vista e o êxtase de vê-la passar na Rua das Flores, anos depois, ao acaso. Não calculou nada – saiu em disparada, fez-lhe a corte e saiu vitorioso. Casaram-se em 1945 e se entregaram à delícia de uma casa cheia de filhos. Quando Lia ia dar à luz, Vene mandava as crianças para o quintal e dizia que olhassem para o céu – a cegonha estava para chegar.
Para acomodar a todos, ergueu no final a década de 1950 uma casa tão grande e bela que, às vezes, punha-se do ouro lado da calçada e se perguntava: “Como dei conta de fazer tudo isso?” Depois voltava a sua rotina de leituras, enquanto a morte não vinha. “Tô por aqui ainda”, brincava, no melhor do estilo “esqueceram de mim”, diante da profusão de anos de amigos e parentes que tinham partido. Foi o preço de sua força de habitante do Panteão.
Viúvo, deixa nove filhos, 17 netos e quatro bisnetos.
Dia 17 de novembro, aos 100 anos, dois meses e 17 dias, de complicações cardíacas, em Curitiba.
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Lista de falecimentos
Adhemar Peres Rodrigues, 60 anos. Filiação: José Delgado Rodrigues e Aparecida Peres Rodrigues. Sepultamento hoje, no Cemitério Municipal Boqueirão, saindo da capela número 01.
Alina de Moura Conti, 96 anos. Filiação: Alfredo Escolástico de Moura e Carlinda Telles de Moura. Sepultamento ontem.
Anísio Rodrigues de Andrade, 64 anos. Profissão: soldador. Filiação: José Rodrigues de Paula e Joana Pereira Andrade. Sepultamento ontem.
Anna da Fonseca Ramos, 78 anos. Profissão: do lar. Filiação: Silvério Leite da Fonseca e Sebastiana Ferraz da Fonseca. Sepultamento ontem.
Antônio Omar Silva, 53 anos. Profissão: mecânico de manutenção. Filiação: Tibúrcio Joaquim da Silva e Maria Zulmira da Silva. Sepultamento ontem.
Armando Gontarek, 57 anos. Profissão: motorista. Filiação: Demétrio Gontarek e Etelvina Gonçalves Gontarek. Sepultamento ontem.
Augusta Mendes, 66 anos. Profissão: do lar. Filiação: Donaria Medeiros. Sepultamento hoje, no Cemitério Universal Necrópole Ecumênica Vertical, saindo da residência.
Benvinda Maria dos Santos, 88 anos. Profissão: do lar. Filiação: Joaquim Pereira dos Santos e Laurinda Maria de Jesus. Sepultamento ontem.
Blandon Henrick Queiroz Abade, 23 anos. Profissão: auxiliar. Filiação: Gabriel Henrique Vaz Abade e Sônia Aparecida de Queiroz. Sepultamento hoje, no Cemitério Municipal de Fazenda Rio Grande, saindo da capela mortuária do local.
Brasilino Lopes dos Santos, 72 anos. Profissão: agente. Filiação: José Lopes dos Santos e Leandra Maria de Jesus. Sepultamento ontem.
Damião Pereira da Silva, 78 anos. Filiação: Domingos Pereira da Silva e Josefa Maria da Conceição. Sepultamento hoje, no Cemitério Paroquial Colônia Orleans, saindo da residência.
Diego Dias Rodrigues de Melo, 16 anos. Profissão: estudante. Filiação: Ivanildo Rodrigues de Melo e Mônica Rosa Dias. Sepultamento ontem.
Eduardo de Castro Filho, 39 anos. Profissão: auxiliar técnico. Filiação: Eduardo de Castro e Sueli Salete de Castro. Cerimônia no domingo (4), no Crematório Vaticano, saindo da Capela Vaticano - Diamante.
Ernesta Siqueira, 80 anos. Profissão: funcionária pública estadual. Filiação: Emílio Carvalho de Siqueira e Dorvalina Rodrigues. Sepultamento ontem.
Erno Fritz, 58 anos. Profissão: motorista. Filiação: Evaldo Fritz e Erika Fritz. Sepultamento ontem.
Esther Ribeiro, 89 anos. Profissão: do lar. Filiação: Juvenal Ribeiro e Maria de Jesus Ribeiro. Sepultamento ontem.
Ezequias Rodrigues de Almeida, 58 anos. Profissão: pedreiro. Filiação: Antônio Rodrigues de Almeida e Maria Y. de Almeida. Sepultamento ontem.
Fábio Veloso Prestes, 12 anos. Filiação: Jocelaine Veloso Prestes. Sepultamento ontem.
Francisco Cichacewski, 94 anos. Profissão: militar. Filiação: Luiz Cichacewski e Anna Polo. Sepultamento ontem.
Francisco Soares Neto, 19 anos. Profissão: servente. Filiação: Elizeu Soares e Cleonice F. Soares. Sepultamento ontem.
Hamelora Modrow, 56 anos. Profissão: lavradora. Filiação: Wikfried Hoster Gunter Modrow e Alice Hering Modrow. Sepultamento ontem.
Inácio Procópio, 81 anos. Profissão: metalúrgico. Filiação: Antônio Procópio e Francisca Bialucha Procópio. Sepultamento hoje, no Cemitério Universal Necrópole Ecumênica Vertical, saindo do mesmo local.
Iolanda Pradi Lenzi, 84 anos. Profissão: do lar. Filiação: Sílvio Pradi e Eleonora Pradi. Sepultamento ontem.
Ivo Alves de Araújo, 81 anos. Profissão: pedreiro. Filiação: Odorico Alves de Araújo e Maria dos Santos. Sepultamento hoje, no Cemitério Vaticano, saindo da Capela Esmeralda, em Almirante Tamandaré.
Ivo Baron, 76 anos. Profissão: marceneiro. Filiação: Francisco Baron e Olga Baron. Sepultamento ontem.
Jaci Cavalcanti, 65 anos. Profissão: diarista. Filiação: Antônio Diogo Cavalcanti e Nair Cavalcanti. Sepultamento ontem.
Jaira do Rocio Dopiate Lima, 41 anos. Profissão: autônomo. Filiação: Antônio Dopiate e Júlia Wenclav Dopiate. Sepultamento ontem.
Jonathan Albuquerque dos Santos, 1 hora. Filiação: Alan Ricardo dos Santos e Isabelle Albuquerque dos Santos. Sepultamento ontem.
José Estevam de Franca, 89 anos. Profissão: vendedor. Filiação: Estevam Pereira de Franca e Mariana de Jesus. Sepultamento ontem.
José Ferreira do Nascimento, 61 anos. Profissão: pedreiro. Filiação: João Ferreira do Nascimento e Maria do Socorro de Souza. Sepultamento ontem.
Júlio Cezar Pereira, 55 anos. Profissão: eletricista. Filiação: Generino Domicio Pereira e Eva Alves Pereira. Sepultamento ontem.
Juraci Aparecida Antunes Andrade, 68 anos. Profissão: enfermeira. Filiação: Horacides Antunes de Liz e Maria Santa de Andrade. Sepultamento hoje, em local a definir, saindo da Capela Mortuária Municipal de Lages (SC).
Leandro Ribeiro de Souza, 23 anos. Profissão: pedreiro. Filiação: Alexandre Santos de Souza e Maria da Graça Silva Ribeiro. Sepultamento hoje, no Cemitério de Contenda, saindo de São José dos Pinhais.
Lilinha Soares de Faria Santos, 82 anos. Profissão: do lar. Filiação: Eduardo Costa de Jesus e Benedita Soares de Faria. Sepultamento hoje, no Cemitério Paroquial São Marcos, saindo do Cemitério Vertical de Curitiba.
Luiz Carlos Saroli, 51 anos. Profissão: técnico esportivo. Filiação: Olegário Sarolli e Geni Saroli. Cerimônia no domingo (4), no Crematório Vaticano, saindo da Capela Vaticano - Diamante.
Luiz Felipe Grohs, 25 anos. Profissão: estudante. Filiação: Mauro Sperandio Grohs e Lilizeth de Fátima Muller Grohs. Sepultamento no domingo (4), no Cemitério Parque Iguaçu.
Ogenilha da Conceição Batista, 84 anos. Profissão: funcionária pública estadual. Filiação: Joaquim Creto e Rosalina de Jesus. Sepultamento ontem.
Patricia Ruth Ferreira da Silva, 34 anos. Profissão: do lar. Filiação: Arlindo Ferreira da Silva e Maria da Luz Pereira dos Anjos. Sepultamento ontem.
Paulo Sérgio Bueno, 44 anos. Profissão: autônomo. Filiação: João Bueno e Leonilda Rosa Bueno. Sepultamento ontem.
Pedro Cordeiro, 51 anos. Profissão: empresário. Filiação: José Cordeiro e Vanira de Lima Cordeiro. Sepultamento hoje, no Cemitério Municipal Santa Cândida, saindo da Capela Vaticano - Jade.
Rafael Cassiano de Almeida, 31 anos. Profissão: auxiliar administrativo. Filiação: Francisco de Almeida e Selma Maria de Lima Cassiano. Sepultamento ontem.
Ricardo Emidio de Oliveira, 36 anos. Profissão: autônomo. Filiação: João Emidio de Oliveira e Luíza Aparecida Santana de Oliveira. Sepultamento ontem.
Rosângela da Mota Mourão, 41 anos. Profissão: auxiliar de limpeza. Filiação: Sebastião Correia Mourão e Lurdes Pinto da Mota Mourão. Sepultamento hoje, em local a definir, saindo da Capela Mortuária do Tatuquara.
Rosângela dos Santos Arruda, 52 anos. Profissão: cozinheira. Filiação: Ary C. Arruda e Iveti de Lursi dos Santos. Sepultamento hoje, no Cemitério Universal Necrópole Ecumênica Vertical, saindo do mesmo local.
Santilio Bueno, 71 anos. Filiação: Lourenço Bueno e Gertrudes Bueno. Sepultamento ontem.
Sônia Maria Palma Atanazio, 59 anos. Filiação: Agenor Palma e Antônia Hércules Palma. Sepultamento hoje, no Cemitério Jardim da Saudade II, em Pinhais, saindo da capela mortuária do local.
Tabita Rech Marques, 69 anos. Profissão: do lar. Filiação: Alberto Rech e Agata Rech. Sepultamento hoje, no Cemitério Santo Ângelo, em Campo Largo, saindo da residência.
Vilmar Costa, 55 anos. Profissão: motorista. Filiação: Alziro Costa de Godoy e Eduvirgem Alves Costa. Sepultamento ontem.