Menores
Menores de idade não podem freqüentar casas noturnas. Mas seis dos 12 supostamente agredidos pelos seguranças tinham menos de 18 anos. "Se eles entraram, é porque se identificaram como maiores", diz o funcionário do setor de administração da casa, Hernane de Souza.
Um adolescente de 16 anos, que diz ter sido agredido, afirma que entrou pela porta da frente sem ser questionado sobre a idade. "Não é a primeira vez que eu vou lá", diz o jovem.
Doze jovens, sendo seis menores de idade, registraram queixa na Polícia Civil na manhã desta segunda-feira (22) contra a casa noturna Santa Fé, no bairro Batel de Curitiba, por supostamente terem sido torturados por seguranças do estabelecimento. O proprietário alega que os jovens estariam aplicando um golpe na casa, com fichas de consumação falsas, e teriam sido expulsos.
O caso se deu pouco depois da meia-noite de domingo (21). Os funcionários da casa acusaram um cliente (identificado como "Gordo") de ter falsificado uma comanda, ficha onde é registrado o consumo de cada cliente. O acusado era conhecido da casa pelo alto consumo e pela freqüência no bar.
Segundo o advogado Vital Cassol da Rocha, que também é pai de um dos envolvidos, o Gordo teria apontado para o grupo, que alega não ter relação com a suposta falsificação. O proprietário da casa, Rodrigo Lima, a mulher dele e três seguranças teriam torturado os clientes por mais de uma hora em uma parte isolada da cozinha.
"Os seguranças chegaram a colocar um revólver na boca de um dos jovens, além de dar várias coronhadas", diz o advogado. Além disso, os jovens teriam sido golpeados com a coronha dos revólveres e recebido chutes. "Um amigo meu foi forçado tirar a roupa para provar que não tinha nenhuma comanda falsa", conta um rapaz de 16 anos. O estudante universitário Antônio Aristeu Chagas Neto, de 18 anos, disse que seus companheiros foram forçados a pagar mais de mil reais em dinheiro vivo para cessar a tortura.
Três dos jovens agredidos teriam sido hospitalizados. Quatro prestaram exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal no início desta tarde.
A confusão foi levada até o Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão (Ciac). O exame de corpo de delito deverá ficar pronto em dez dias. Rocha afirma que representará contra o estabelecimento por lesão corporal, extorsão, ameaça e formação de quadrilha.
Outro lado
A administração do Santa Fé nega a acusação de ter agredido o grupo de jovens, porém, confirma ter levado os jovens até um local isolado para conversar. Hernane de Souza, funcionário do setor de administração da empresa, afirma que dois confessaram a falsificação. "Se [os outros garotos] estavam junto com alguém fazendo coisa errada, é porque eram coniventes", diz Souza.
Sobre as lesões, Souza afirma que um deles teria caído. "Se eles brigaram entre eles depois, eu não posso falar nada", conta o administrador. "Estamos com a razão nessa questão. Se nós devêssemos alguma coisa, nem estaríamos nos pronunciando", conclui Souza.
Familiares de alguns dos jovens teriam ido até a casa e acabaram provocando mais confusão, diz o funcionário. "Veio o tio de um deles com um facão lá e fez uma série de ameaças", diz Souza. Rodrigo Lima, o dono do Santa Fé, não retornou as ligações da reportagem.
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