O quarto protesto pela redução da tarifa de ônibus em Curitiba teve a participação de 3,5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar (PM). Mesmo sob frio e chuva, o grupo marchou pela região central da cidade até as sedes da Prefeitura e do governo do Estado, no Centro Cívico. No Palácio Iguaçu, cerca de 30 pessoas tentaram depredar o prédio e hostilizaram policiais e a imprensa. A maioria dos manifestantes tentava conter os exaltados e pedia para não haver vandalismo.Veja fotos da manifestação desta quinta-feira.
Assista ao vídeo do protesto em Curitiba.
Dois fotógrafos e um jovem ficaram feridos durante o tumulto. Eles levaram pedradas na cabeça. Um portão e uma parede foram pichados, uma porta foi arrancada e vidros quebrados. Sete pessoas foram detidas, entre elas um jovem de 13 anos. Um ônibus que estava nas proximidades teve as janelas quebradas. Apesar da confusão, não houve uso de bombas de efeito moral ou balas de borracha, segundo a PM.
A maioria dos manifestantes tentava impedir os atos de violência fazendo um grande cordão de isolamento em frente à sede do governo. Após tentativa de quebrar um portão, policiais se posicionaram em frente ao prédio.
Um grupo de cerca de mil pessoas, segundo a ÓTV, saiu do local e foi até a sede da Urbs, na Rodoferroviária de Curitiba. O clima no local foi pacífico e eles se dispersaram por volta das 22 horas.
A manifestação havia sido tranquila até então. No momento dos confrontos, apenas 100 pessoas estavam no local. A PM acompanhou o protesto a distância e agentes a paisana foram infiltrados na multidão. Equipes da Setran orientaram o trânsito nos locais por onde passavam os manifestantes.
Marcha
Os manifestantes se concentraram na Boca Maldita às 18 horas e marcharam por ruas do Centro da cidade, deixando o trânsito complicado em toda a região. Eles passaram pelo prédio da Prefeitura de Curitiba e, em clima pacífico, colaram cartazes com pedidos de mais investimentos em saúde e educação.
"Dilma, me chama de Copa do Mundo e investe em mim, assinado: Saúde e Educação", dizia um cartaz. A palavra de ordem foi "sem violência", para que não houvesse depredação do prédio público. Depois, eles seguiram ao Palácio Iguaçu, onde aconteceram os tumultos.
Duas frentesA presença de partidos políticos provocou uma cisão entre os manifestantes. A marcha original, que é apartidária, se distanciou de um grupo formado por partidos e movimentos de esquerda.
O grupo apartidário tentou se distanciar do outro e seguiu pela Praça Tiradentes, enquanto os "partidários" caminharam pelo calçadão da XV de Novembro. Eles se encontraram no caminho para a Praça 19 de Dezembro (do Homem Nu). Mesmo andando juntos, os membros dos dois grupos mantinham uma distância entre eles. Os apartidários gritavam "Sem partido!". Os vinculados a partidos gritavam "Sem tarifa!".
Eles foram
As vozes das ruas seguem gritando por várias causas. O pintor Diego Rodrigues de Castro, 26 anos, não pensava em protestar até segunda-feira. "Senti o clima diferente na cidade, as pessoas comentando. Percebi que eu tinha que estar aqui", explicou. Morador do bairro Boqueirão, ele luta para mostrar a importância de responder aos governantes nas ruas. "Sou contra o voto obrigatório. Estou aqui por isso. Se as pessoas deixarem de votar em grande número, os políticos vão parar de roubar", disse.
A analista de crédito Caterine Passos, 19, tem participado das manifestações ocorridas na cidade. A luta dela é pela educação. "É o que todo mundo quer. Mais respeito ao cidadão", ressaltou.
A curitibana Silvana Baldini, 44 anos, deixou a cidade em que nasceu ano passado porque não conseguia encontrar vagas para trabalhar como professora de História. Ela ensina em uma universidade de São Paulo e voltou especialmente ontem para engrossar o coro de protesto pela baixa da tarifa para R$ 2,60 e melhorias na qualidade da educação do país.
"Fiz questão de vir. Sou viúva e não tive emprego aqui ano passado. Fui morar em São Paulo e voltei só para protestar na minha cidade", afirmou Silvana. Ela foi uma dos cerca de 3,5 mil manifestantes que, debaixo de muita chuva e frio, foram até a Boca Maldita e marcharam pelas ruas do Centro de Curitiba até o Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná.
O estudante de Direito Luiz Meineros, 24 anos, é argentino e está há um mês viajando pelo Brasil. Ele diz que está surpreso com o número de pessoas na marcha. "Acho estranho porque não entendo qual é a bandeira principal do grupo", comentou.
Redução da tarifa
Mais cedo, o prefeito Gustavo Fruet (PDT) anunciou a redução na tarifa de ônibus de R$ 2,85 para R$ 2,70. Integrantes da Frente de Luta pelo Transporte de Curitiba afirmaram que iriam continuar protestando até a tarifa baixar para R$ 2,60 e R$ 1 aos domingos.
Atos aconteceram por todo o Brasil nesta quinta-feira (20), no que foi instituído como o Dia Nacional de Lutas Contra o Aumento das Passagens. Além da diminuição das tarifas do transporte público, eles protestam contra a corrupção, contra os problemas dos serviços públicos de saúde, educação e segurança, contra a PEC 37 (que tira o poder de investigação do Ministério Público), contra os gastos excessivos nas obras da Copa do Mundo, entre outros.