A sensação de insegurança é maior em Curitiba do que nas cidades do interior do Paraná e também entre as pessoas mais jovens. É o que mostram os dados de um levantamento da Paraná Pesquisas, feito com exclusividade para a Gazeta do Povo, entre os dias 16 e 21 de dezembro de 2009. Foram ouvidas 1.830 pessoas com mais de 16 anos, em 65 cidades do estado. Entre as pessoas entrevistadas em Curitiba, somente 31,4% consideraram que vivem em uma cidade segura, contra 49,7% que consideram a capital insegura. No interior, o índice médio dos que consideram suas cidades seguras subiu para 50,6% somente 35% avaliaram que seus municípios não têm segurança.
A ideia de que a insegurança aumenta de acordo com o tamanho da cidade é confirmada por outro dado, que levou em conta o número de eleitores de cada município. Em cidades com até 15 mil eleitores, 62% dos entrevistados consideraram que vivem em municípios seguros (somente 25,7% disseram o contrário). A sensação de insegurança cresce à medida que o número de eleitores aumenta: em cidades com mais de 100 mil eleitores, só 40,2% das pessoas ouvidas disseram considerar seu município seguro. O índice mais baixo, de 31,4%, foi registrado em Curitiba, mas cresce quando a capital é analisada em conjunto com os municípios da região metropolitana e do Litoral 34,8%.
Quando é levado em conta o quesito idade, a pesquisa mostra que as pessoas mais jovens se sentem mais inseguras. Na faixa etária dos 16 aos 24 anos, 42,8% consideraram suas cidades seguras, conta 40,1% que disseram achar seus municípios inseguros. Entre 35 e 44 anos, o porcentual dos que se sentem seguros cresce para 46,2%, e entre 45 e 59 anos, para 46,4%. Já entre os participantes da pesquisa com mais de 60 anos, 50,7% disseram considerar suas cidades seguras, contra apenas 33,3% que avaliaram seus municípios como inseguros.
Outro dado que chama a atenção é que as mulheres se sentem mais inseguras 41,4% delas disseram que não consideram suas cidades seguras, contra 36,6% dos homens. Em relação à renda familiar, o maior porcentual de pessoas que se sentem inseguras ficou na faixa dos que ganham mais de R$ 4.650 por mês 41,77%. Já os que mais consideram suas cidades seguras estão nas famílias que ganham de R$ 2.325 a R$ 4.650 47,51% dos entrevistados.
Jovens
O delegado da Polícia Federal e secretário municipal Antidrogas de Curitiba, Fernando Francischini, tem uma explicação para os jovens se sentirem mais desprotegidos: eles estão mais expostos ao tráfico de drogas. "É a faixa etária que está no grupo de risco do homicídio e do tráfico. A faixa dos 14 aos 24 anos é hoje o público-alvo das políticas públicas de prevenção. A maioria dos homicídios vinculados às drogas está relacionada à juventude", afirma. Para Francischini, a principal causa da sensação de insegurança é o efetivo policial reduzido. "O princípio básico é a presença da polícia. Muitas vezes o governante culpa a mídia pela sensação de insegurança, é outro erro brutal. A culpa é da falta de um efetivo que faça a população se sentir segura."
O secretário avalia que o fim dos módulos policiais e a implantação do projeto Povo (em que as viaturas utilizaram telefones celulares) contribuíram com o aumento da sensação de insegurança. "Os módulos policiais davam uma sensação de segurança no bairro, a população sabia onde buscar ajuda", diz. "São muitas ligações para o telefone celular. Quiseram copiar uma polícia de alguns países da Europa e dos Estados Unidos, mas esqueceram que temos de ter uma criminalidade controlada e um efetivo suficiente." Para Francischini, a população sente que a sociedade e o poder público vêm perdendo a guerra contra o tráfico. "A população de Curitiba e da região metropolitana sente que o combate ao tráfico é ineficiente."
O presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Londrina e Região, Ademílson Batista, também acredita que a falta de policiais nas ruas aumenta a sensação de insegurança. "Os efetivos da Polícia Militar e da Polícia Civil são baixos. Com isso, a Polícia Civil não consegue elucidar todos os crimes. A pessoa que deveria ser colocada atrás das grades continua solta. Isso acaba até incentivando outros a cometerem crimes. A população sente isso na carne." Ele lembra que, no fim do ano, o efetivo diminui ainda mais nas cidades. "São dois agravantes: há policiais que pedem férias nesta época do ano, para casar com as férias escolares; e há os policiais que ficam para o Litoral e para a fronteira. Além disso, muitos presos ganham indulto de Natal e ano-novo e acabam não voltando para a prisão. Muitos cometem crimes."
Na comunidade
Quem trabalha na comunidade também percebe que a sensação de insegurança é generalizada nos grandes centros. "A insegurança tomou conta. A população está vivendo no cárcere", comenta o presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) Bacacheri 2, Paulo Negrão. No dia a dia, ele vem orientando a comunidade a se precaver e a não confiar apenas no poder público. "Quando converso, oriento a pessoa a cuidar da sua própria segurança. O marginal está preparado para a ação, mas o cidadão fica sem base nenhuma. Muitas vezes somos culpados, porque facilitamos a ação do marginal sobre nós. As pessoas acham que isso só acontece com o vizinho."
Já o presidente do Conseg Jardim das Américas, Pedro Forcadell, avalia que um dos meios de reduzir a sensação de insegurança é a população participar das reuniões dos conselhos e ajudar a formular políticas de segurança. "As pessoas têm de participar mais. O brasileiro é mal acostumado, quer sempre ser provido pelo governo", critica.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), para tentar obter uma posição da Polícia Militar ou da Polícia Civil a respeito dos dados da pesquisa, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.
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