Quase 50 dias após a inauguração, o rio onde a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) investiu R$ 28,9 milhões em uma transposição para “garantir o abastecimento hídrico durante o período seco” e socorrer o Sistema Alto Tietê está sem água.
O objetivo da obra emergencial era levar 1 mil litros por segundo do Guaió para a Represa Taiaçupeba, em Suzano, onde fica a estação de tratamento, “beneficiando diretamente mais de 300 mil moradores” da Grande São Paulo. Mas, por causa da estiagem no local, a operação não foi iniciada.
“Não há água para retirar do rio”, admitiu o superintendente de Produção da Sabesp, Marco Antônio Lopez Barros, durante apresentação sobre as obras emergenciais da empresa para o Comitê da Bacia do Alto Tietê, na quinta-feira passada. Segundo ele, a obra do Rio Guaió ainda está em fase de “pré-operação”.
No dia seguinte, a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo visitou as instalações e constatou que as bombas que foram ligadas pessoalmente pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) em um evento para a imprensa no dia 29 de junho estavam desligadas.
Na ocasião, o tucano afirmou que estava “entregando a primeira das três obras importantíssimas para garantir o abastecimento hídrico durante o período seco”, que vai de abril a setembro. As outras duas são a ampliação da capacidade de produção do Sistema Guarapiranga em 1 mil l/s, inaugurada em 20 de julho, mas também em “pré-operação”, e a transposição de 4 mil l/s da Billings para a Taiaçupeba, que está três meses atrasada e só deve entrar em operação em outubro.
“Já era sabido que no período de estiagem não teria essa vazão que eles anunciaram. Com essa seca no Alto Tietê, então, o Guaió não tem nem metade dessa água”, afirma o engenheiro José Roberto Kachel, ex-funcionário da Sabesp e integrante do comitê do Alto Tietê. Ele já havia alertado para esse risco em março. Para Kachel, a obra no rio não vai resolver o problema da região. “Venderam para a população que iam bombear continuamente mil litros por segundo, mas não estão bombeando nada”, diz o engenheiro.
O Guaió é um pequeno rio que nasce em Mauá, no ABC, e deságua no Rio Tietê, no limite de Poá com Suzano, após percorrer 20 quilômetros. A Sabesp construiu 9 quilômetros de adutoras para levar água dele até o Ribeirão dos Moraes, um córrego que termina no Rio Taiaçupeba-Mirim, afluente da Represa Taiaçupeba, onde está a estação de tratamento do Sistema Alto Tietê.
Hoje, o manancial que abastece 4,5 milhões de pessoas na porção leste da Grande São Paulo é o que está mais próximo do colapso, com apenas 15,9% da capacidade.
À época da inauguração, a Sabesp afirmou em nota que a obra era “essencial para garantir o abastecimento da população no período de estiagem, que vai até o fim de setembro”. Desde a entrega da estrutura, porém, o Alto Tietê perdeu 25,6 bilhões de litros, ou 4,5% da capacidade. Na sexta-feira, 14, por exemplo, a entrada total de água na Represa Taiaçupeba foi de apenas 660 litros por segundo, abaixo dos 1 mil l/s prometidos.
Agora, a Sabesp afirma que as obras emergenciais “foram concebidas para aumentar a resiliência do sistema produtor de água, ou seja, para captar água onde estiver chovendo e armazenar onde for possível”. Segundo a companhia, “por causa disso, as estruturas não funcionam a toda carga todo tempo”. A empresa afirma que “a previsão de retirada do Guaió para o Alto Tietê, conforme a outorga, é de uma média anual de até 1 mil l/s”, mas “isso não significa que a vazão se mantenha constante nesse valor”.
A reportagem questionou a razão de a transposição do Guaió ainda estar em fase de pré-operação quase 50 dias após a inauguração e qual o volume diário retirado do rio para abastecer o Alto Tietê, mas a Sabesp não respondeu.
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