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Em 1.º de novembro de 1512 – há 500 anos, portanto –, os afrescos do teto da Capela Sistina eram exibidos ao público pela primeira vez. A monumental obra em que Michelangelo retrata o Gênesis bíblico marca não apenas o apogeu artístico da Renascença. Sintetiza também alguns dos valores mais caros a esse movimento intelectual e estético que ainda hoje influencia a humanidade.

Após o fervor religioso da Idade Média, o Renascimento buscava recolocar o homem no centro das preocupações. Mas o projeto renascentista era mais ambicioso: queria conciliar a religião com o humanismo renascido.

Os afrescos de Michelangelo fazem a síntese visual dessa proposta. A cena é religiosa. Mas tudo converge para a criação do homem, que está ao centro. Deus dá a vida a Adão ao tocá-lo. Criador e criatura têm a mesma postura, de braços estendidos, como se a imagem estivesse refletida num espelho. É a tradução da ideia de que Deus fez a humanidade à sua imagem e semelhança.

Há quem diga ainda que o Deus de Michelangelo, com seu séquito e manto avermelhado, retrate um cérebro humano estilizado – o artista, tal qual outros gênios do Renascimento, teria conhecimento de anatomia para conceber tal imagem. A ideia também condiz com o projeto renascentista: ao receber o sopro da vida, o homem também ganhou uma mente dotada de razão. A emergência da racionalidade, em detrimento da superstição e da fé como elemento de tomada de decisões, é uma característica daquele período.

Também há no Gênesis de Michelangelo uma idealização típica do Renascimento. Os personagens retratados são musculosos, fortes, quase sobre-humanos. As imagens sugerem o ideal humano a ser perseguido: a fortaleza e a perfeição.

Cinco séculos depois, a busca renascentista ainda não se encerrou. O homem continua a ter diante de si o eterno dilema de degenerar ou aprimorar-se. A razão ainda colide com a fé. Mas a beleza da obra de Michelangelo segue sendo um convite à lembrança dos ideais que moveram o Renascimento.

Visita virtual

É possível fazer uma visita virtual à Capela Sistina e ver em detalhes seus afrescos no site do Vaticano. O link é http://migre.me/brGdL

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