Oitenta e quatro milhões de brasileiros ainda não tem acesso à internet. Dados publicados nesta segunda-feira (21) pela Organização das Nações Unidas (ONU) alertam que, se a rede mundial de computadores progrediu de forma importante nos países em desenvolvimento nos últimos anos, um número grande de pessoas ainda não está conectado e o avanço da rede perde fôlego.
No planeta, 57% da população continua off-line - cerca de 4 bilhões de pessoas. No total, 3,2 bilhões de pessoas - 43% do planeta - estarão conectadas ao final do ano, contra 2,9 bilhões em 2014.
Se até 2012 as taxas de expansão superavam a marca de 10%, hoje ela não atinge nem mesmo 7%. “O crescimento da internet está perdendo força”, alertou Phillippa Biggs, autora do informe.
Os dados foram apresentado pela Comissão de Banda Larga pelo Desenvolvimento Digital, criada pela ONU para fazer avançar o acesso à tecnologia e como base para a Assembleia Geral das Nações Unidas, que ocorre a partir da semana que vem. A conclusão também aponta que a disparidade é ainda profunda entre países ricos e em desenvolvimento.
Se nos mercados desenvolvidos existe praticamente uma “saturação”, nos países pobres a taxa de penetração é de apenas 35%. Na Islândia, a taxa de usuários da rede é de 98% contra 96% na Noruega e Dinamarca. Mas apenas 79 dos 194 países no mundo têm mais de 50% de sua população conectada. Na Guiné, em Somália, em Burundi, no Timor Leste e na Eritreia, menos de 2% dos cidadãos têm acesso à rede.
O Brasil vem em uma posição intermediária. Com 57% da população com acesso à rede ao final de 2014, o país aparecia na 68ª colocação mundial, praticamente empatado com a Venezuela. Arábia Saudita, Argentina, Azerbaijão e Bósnia teriam uma maior penetração da internet entre os habitantes que o Brasil.
Entre os emergentes, o país aparece como o 32º colocado em termos de internet instalada em domicílios. Ao final de 2014, essa taxa era de 48%, contra 98% na Coreia ou 60% na Turquia.
Apenas 11% da população tem banda larga instalada em suas residências, contra 24% no Uruguai e mais de 40% na Suíça, na França ou na Holanda.
Em um aspecto, porém, o Brasil vem avançando de forma importante: a conexão à internet pelo celular: 78% dos usuários contam com acesso rápido, o que coloca o Brasil na 27ª colocação no mundo, superando vários países europeus, como Itália, França ou Alemanha.
De fato, o uso do celular é uma das principais apostas dos especialistas para permitir uma nova expansão da internet. Para Biggs, tudo indica que o avanço dessa tecnologia seja a mais rápida da história.
Se para ter 1 bilhão de linhas telefônicas fixas o mundo levou 125 anos, o acesso da internet pelo celular pode atingir 1 bilhão de usuários em apenas cinco anos. Ainda assim, existem incertezas sobre o número real de celulares circulando pelo planeta.
Segundo Biggs, a empresa Ericsson indicou que existiam 7 bilhões de celulares no mundo. Mas apenas 5 bilhões de assinantes. “Mas estudos apontam que o número real seria bem menor, de apenas 3,7 bilhões de usuários”, alertou.
Outro desafio é o custo. Em quatro anos, o custo da banda larga caiu em 40%. Mas mais da metade do mundo ainda não tem dinheiro para ter internet fixa em casa.
Um dos obstáculos apontados é a dificuldade de garantir que a rede seja levada para as zonas rurais, enquanto empresas de telefonia e de tecnologia alertam que seus lucros estão cada vez menores para justificar investimentos.
Diante de todos esses desafios, a ONU já admite que a meta estabelecida para incrementar o acesso de pessoas à rede terá de ser adiado. Em 2012, a perspectiva era de que 60% das residências teriam internet até 2015. Mas essa taxa será de menos de 46%, e a meta apenas será atingida em 2021.