Meu filho de 10 anos tem autismo. Na ponta do lápis, ao menos quatro carros populares poderiam ter sido comprados com os valores pagos em terapias, “investimento” possível pelo empenho conjunto dos pais e avós e com o auxílio-creche que recebi da empresa onde atuo. No centro especializado que frequenta, apenas profissionais de psicologia, psicopedagogia, fisioterapia e musicoterapia. A hidroterapia eventual, quando sobra um trocado no fim do mês, é paga à parte em outro local. Fonoaudiologia, equoteria, psicomotricidade relacional e terapia-ocupacional nunca pudemos pagar. Há vários anos encaminhei pedido de terapias específicas . O plano de saúde negou.
Planos de saúde negam terapias complementares para crianças autistas
Advogada ganha direito a tratamento para a filha. Conquista acena mudanças para outras famílias, impedidas de desfrutar desses benefícios
Leia a matéria completaConsultas com a fono ele já fez pelo plano de saúde, foram três, de 20 minutos, o necessário até que ele parasse de trocar o “r” pelo “l” – “não tenho formação e não posso ajudá-lo na questão do autismo”, disse a fonoaudióloga recém-formada. Psicologia ele também conseguiu algumas sessões pelo plano . Era meia hora por semana – quando havia agenda – de brincadeiras, com alguns joguinhos pela mesa. “Não tenho formação em autismo”, dizia a profissional, muito simpática. A ANS permite que profissionais destreinados e consultas relâmpagos sejam consideradas “atendimento garantido”. Psiquiatra infantil não havia – “não somos obrigados”, dizia o plano. E os poucos que estão dentro dos planos de saúde ou só atendem adultos, ou só têm agenda para onde o calendário de mesa não alcança.
Convivo com famílias que não têm dinheiro para pagar o ônibus para levar o filho às terapias, mas, mesmo que tivessem, não teriam onde levá-lo. Na confusão entre escolas especiais, ambulatório lotado e Capsi (Centro de Atendimento Psicossocial Infanto Juvenil) insuficiente, é comum famílias baterem à porta de alguns serviços públicos para saírem correndo de lá logo depois.
Sim, o autismo é uma questão dramática para quem é incluído na estatística: se um em cada 68 meninos que nascem têm autismo, segundo o CDC (Center of Diseases Control and Prevention) a chance de novos pais entrarem para a turma é de 1,47% a cada nascimento. Ter plano de saúde pode ajudar, mas ainda é preciso arcar com os custos de um processo judicial, mais uma coisa ainda inacessível para a maior parte das famílias.
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