Nas ruas
População está mais consciente
A nova gripe impôs práticas diferentes para as irmãs Heloísa, 17 anos, Vivian, 13, e Flávia Matos, 9. As saídas de casa só são permitidas agora com o uso de máscaras. Nesta semana, elas queriam ir ao cinema e já tinham até comprado ingressos. Mas com o pai não teve conversa. Preocupado com a saúde das filhas, ele devolveu as entradas e pegou o dinheiro de volta.
A avó Denise de Fátima Bannach e a neta Paola Najara Terese, 4 anos, também adotaram a máscara. A menina está com gripe comum, imunidade baixa e faz parte do grupo de risco: "Ou você muda a rotina, ou fica doente. Prefiro ver minha neta bem", diz a avó.
Mas nem todo mundo demonstra consciência em relação à gripe A: na missa do padre Reginaldo Manzotti, onde passam milhares de pessoas, apenas Geisa Santos Silva, que está grávida de quatro meses, usava máscara. O local estava lotado e tinha pouca circulação de ar. "Cuidado nunca é demais", diz ela (PM e PC).
Análise
Pânico não. Prevenção sempre
Infectologistas afirmam que não há motivo para pânico porque a taxa de mortalidade do vírus H1N1 é semelhante a da gripe comum.
Tira-dúvidas
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Contenção
No México, o pior da doença já passou
Os países da América Latina concentram dois em cada três mortos com gripe A no mundo. Fatores como baixa imunidade, períodos de frio intenso e dificuldades no controle da contaminação e no tratamento da doença teriam motivado o maior número de mortes.
Basta alguém espirrar para que a desconfiança apareça: pode ser gripe A (H1N1). Como consequência vêm as mudanças de hábitos, que não se restrigem ao fechamento das escolas, faculdades e cursinhos, que ainda deixarão 2 mi lhões de alunos sem aulas, no Paraná, nos próximos dias.
As janelas dos ônibus em Curitiba, como exemplo, nunca ficaram tão abertas em um período de baixas temperaturas e chuvas como na semana que passou. "Chego e abro tudo para o ar circular. Tem gente que acha ruim, mas é melhor evitar o vírus", diz a radiologista Scheila Cristina Roman. Na missa não é diferente. Ivanilde Bortolon Vieira prefere ver o padre de longe, lá perto da porta, onde o ar circula melhor. Já a administradora Caroline Mazarotto tem evitado tudo mesmo: nada de shopping, cinema, teatro ou balada.
As três mulheres explificam o que muitos curitibanos têm feito para se prevenir do vírus da Influenza A, popularmente conhecida como gripe suína. Ao menos 830 mil pessoas, em Curitiba, mudaram os hábitos de higiene e de rotina nos últimos dias, conforme projeção feita a partir de um levantamento exclusivo, encomendada pela Gazeta do Povo e feito pela Paraná Pesquisas.
Entre as principais mudanças, está a melhora nos hábitos de higiene, como lavar bem as mãos e usar depois álcool em gel. Parte da população também já deixou de ir a locais fechados ou com aglomerações e ainda há preocupação maior em deixar a casa arejada.
A pesquisa mostra ainda que 44% dos curitibanos considera alto o risco de contágio e uma outra parcela significativa, também de 40%, acredita que o risco é mediano. Foram ouvidas 606 pessoas que moram em Curitiba, entre os dias 25 e 27, e outros 457 habitantes nos dias 30 e 31 de julho. A margem de erro é de 4,5 pontos porcentuais.
O levantamento das informações em dois períodos distintos foi proposital: o primeiro foi feito antes de governo do estado e prefeituras decidirem suspender as aulas e a segunda, depois. Além disso, quando o primeiro levantamento foi feito era apenas uma morte no estado e 86 pessoas contaminadas, números que passaram para 4 e 130, respectivamente. E o impacto da medida foi claro: o porcentual de pessoas que mudaram os hábitos passou de 36,5% para 46,2% (veja gráfico nesta página).
Cuidado
Zelo resume o propósito das medidas adotadas pelas autoridades e instituições: as medidas não foram tomadas para se criar pânico, mas para haver um cuidado maior em relação ao contágio, avaliam especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo. "Passamos por uma situação que ainda não é bem conhecida. Todos foram pegos de surpresa porque não se esperava um surto intenso e um inverno tão rigoroso. Por isso, a precaução nunca é demais. Afinal, em superfícies, o vírus pode sobreviver por até 10 horas", explica o médico e diretor do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Emilton Lima Júnior.
Negar a situação de epidemia é a primeira reação das pessoas, segundo Lima, depois elas tendem a aceitar e, assim, passam a cooperar. "O pânico só existe para quem está desinformado. Quem está mantendo as orientações de prevenção não tem motivos para temer", diz. São procedimentos simples de hábitos de higiene que, por questões sociológicas, parecem ter sido esquecidos: beijos e abraços devem ser evitados sempre no inverno. E a etiqueta não caiu da moda: é preciso lavar bem as mãos, deixar a casa arejada e não espirrar em cima dos outros.
"Não é porque trata-se de um estádio de futebol, em local aberto, que não há riscos. Aglomeração significa qualquer lugar onde você irá permanecer mais de uma hora, em contato com mais de dez pessoas diferentes e em um raio de distância de 1,80 metro. Ou seja, muitas empresas por aí", explica Lima. Caso não seja possível evitar os locais de aglomeração, é recomendado usar a máscara de proteção no rosto.
"Muitos dizem que irão sofrer preconceito, porque a máscara remete à situação de doença. Mas esta mentalidade está mudando, porque a precaução é ainda a melhor escolha", afirma a psicóloga da Universidade Federal do Paraná Jocelaine Martins da Silveira.
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