Uma reportagem publicada no mês passado na revista do The New York Times (What Is It About 20-Somethings?) cita duas pesquisas desenvolvidas nos Estados Unidos que ajudam na reflexão sobre esse novo comportamento dos jovens. Uma delas é do Instituto Nacional de Saúde Mental (National Institute of Mental Health, NIMH) e indica que o cérebro humano passa por um processo de maturação parecido com o da adolescência também na faixa dos 20 anos.
O estudo começou em 1991, com 5 mil crianças e adolescentes com idade entre 3 e 16 anos. Com o passar do tempo, porém, os neurocientistas do NIMH descobriram que a cada retorno o cérebro dos adolescentes estava mudado. Então estenderam o estudo até eles completarem 18, depois 20, depois 22... e chegaram à conclusão de que até antes dos 25 anos o cérebro não está totalmente maduro.
O processo que ainda ocorre nessa faixa etária é o de "poda" de sinapses (caminhos). É o mecanismo do "use ou jogue fora" que o cérebro faz para se adaptar ao que melhor funciona para o organismo. Boa parte do desenvolvimento do órgão se dá por esse mecanismo.
Os neurocientistas do NIMH também descobriram um espaço de tempo entre o crescimento do sistema límbico, onde as emoções se originam, e do córtex pré-frontal, que administra essas emoções. O sistema límbico explode na puberdade, mas o córtex pré-frontal continua em maturação por outros dez anos. Com isso, encontrar respostas para perguntas como "o que vou fazer da minha vida" ainda fica difícil por um bom tempo.
Outro estudo citado pela reportagem é a teoria do "adulto emergente", de autoria do psicólogo Jeffrey Jensen Arnett, da Clark University. Ele lidera um movimento para enxergar os 20 anos como um estágio distinto. Algo parecido com o que ocorreu quando o conceito da adolescência surgiu, em 1904. Para isso, ele junta todas as angústias e desafios desse fenômeno contemporâneo na caracterização da faixa etária, mas destaca algo também citado pela médica e coordenadora do Programa Adolescente Saudável da Secretaria Municipal de Saúde, Júlia Valéria Ferreira Cordelini: a necessidade de mais educação para se sobreviver em uma economia da informação. Com isso, a saída de casa demora mais, porque os filhos têm de depender financeiramente dos pais por um pouco mais de tempo. O problema da teoria de Arnett é que, ao contrário do que ocorre com a adolescência, nem todos os jovens do mundo passam, necessariamente, por um fenômeno parecido. Seria algo mais ligado ao meio urbano, mais desenvolvido. Daí a dificuldade em realmente caracterizar um novo estágio ou fase da vida.