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Jovem se arrisca pouco e adia etapas da vida

À permanência em casa por mais tempo somam-se outras mudanças comportamentais recentes, como a emancipação feminina e a formação de novas relações familiares, que terão consequências na vida do jovem. A Síntese dos Indicadores Sociais, divulgada em setembro pela Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que a taxa de fecundidade da mulher brasileira está em 1,9 filho. Quanto maior o tempo de estudo, menor ainda é a quantidade de filhos.

O jovem que permanece em casa por mais tempo também posterga outras etapas da vida adulta, como o relacionamento sério e estável com alguém e a formação da sua própria família. "Mesmo que envolvido de forma estável com alguém, a relação não se concretiza como adulta se cada um vive com sua família", lembra a médica e coordenadora do Programa Adoles­­­cente Saudável da Secretaria Municipal de Saúde, Júlia Valéria Ferreira Cordelini. "Ele se arrisca pouco, o que é fundamental para passar para a vida adulta", salienta a professora da PUCPR e mestre em Psicologia da Infância e da Adolescência, Vera Regina Miranda.

Se esse prolongamento do convívio com o núcleo familiar e o adiamento da formação da sua própria família serão positivos ou negativos para a formação emocional do jovem, ninguém sabe. "Isso é algo que só saberemos, talvez, daqui a 15 ou 20 anos. O que é importante, no entanto, é que, embora o jovem continue em casa por mais tempo, os pais não o infantilizem, criando uma ‘adultecência’. É preciso deixar claro que aquele período é transitório e de dependência apenas financeira, procurando orientá-lo no processo de amadurecimento emocional", frisa Júlia.

Contramão

Maioridade penal continua em discussão

Enquanto alguns estudiosos pensam até em caracterizar um estágio diferenciado de vida para os jovens de 18 a 29 anos, outros tentam fazer com que a responsabilidade civil e criminal seja assumida aos 16. A Proposta de Emenda à Constituição 26/2002 continua em tramitação no Senado. Está parada na Comissão de Constituição e Justiça, desde o ano passado.

Maioridade em geral sempre foi polêmica. É possível votar e trabalhar (como aprendiz) aos 16, mas dirigir e ser responsabilizado civil e criminalmente, só aos 18. Para o procurador-geral de Justiça e co-autor do Estatuto da Criança e do Adolescente, Olympio de Sá Sotto Maior, é preciso respeitar essa condição de "crise" pela qual o adolescente passa e considerar que sua formação dentro de um sistema prisional que não ressocializa deve ser evitada ao máximo. "Uma coisa é ter o discernimento do certo e o errado. Outra é ter a autodeterminação de fazer ou não alguma coisa e é essa autodeterminação que não está concretizada no adolescente. A vontade de ser aceito e a reprodução do que é feito no grupo são atitudes típicas da idade."

Ao contrário de duas ou três gerações anteriores, os jovens na faixa dos 18 aos 20 e tantos anos têm saído de casa mais tarde. Com isso, outras responsabilidades típicas da passagem para a vida adulta, como o casamento e os filhos, também são adiadas. "Se esse adiamento é bom ou ruim, tanto para os jovens quanto para a família, não se sabe. É preciso tomar cuidado com qualquer avaliação 8 ou 80", adianta a professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e mestre em Psicologia da Infância e da Adolescência, Vera Regina Miranda.

A médica e coordenadora do Programa Adolescente Saudável da Secretaria Municipal de Saúde, Júlia Valéria Ferreira Cordelini, diz que esse comportamento é um fenômeno recente, da sociedade pós-moderna urbana, na qual a necessidade de mais qualificação do mercado de trabalho tem feito com que os jovens, independentemente da classe social, fiquem mais tempo em casa, dependentes financeiramente dos pais.

"Isso também ocorre por uma percepção de falha na qualidade educacional desses jovens. Sou professora e, conversando com outros professores, percebo que a especialização tem entrado quase como uma complementação da graduação e não exatamente para agregar conhecimento", diz Júlia. "Ao mesmo tempo, o adolescente que está en­­­trando no ensino médio já começa a incorporar a necessidade não só de um diploma, mas de um mestrado e doutorado, o que irá resultar em uma consequente dependência dos pais por mais tempo."

Outras classes

Nas classes C e D, isso também ocorre. "Nesse caso temos ainda o agravante de uma educação básica falha e o jovem dessa classe social vai ter de correr atrás do prejuízo, fazendo um profissionalizante, um técnico ou tecnólogo."

No caso do médico J.D.T., de 26 anos, a volta para morar com os pais depois de seis anos fazendo faculdade em Belo Horizonte foi fundamental. Neste ano, ele começou a residência em Cirurgia Geral no Hospital Evangélico. Ele é filho do chefe da Cirurgia Plástica da instituição. Como decidiu seguir o mesmo caminho do pai, depois terá que seguir a residência em Cirurgia Plástica. Ao todo, são 6 anos de formação. "Trabalho 12 horas por dia, de segunda a segunda, fora os plantões. Sem o apoio dos meus pais, com a casa, a comida pronta e o afeto, não aguentaria esse ritmo."

O pai reconhece a longa caminhada do filho na profissão, que também é uma vocação. "A vida de jovem médico é assim mesmo. A residência exige todo o tempo dele e não permite nenhum trabalho fora." Ele também reconhece a vontade dos próprios pais de terem os filhos por perto. "Mas eles têm asas próprias e têm de voar. Nosso papel é provê-los de todas as armas que eles necessitam para o mercado de trabalho para que possam se virar sozinhos depois."

O plano é bom e para o jovem tem dado certo. Mas o mundo não é um lugar previsível e algumas supresas podem adiantar algumas fases da vida adulta. A empresária Suelen de Sá, hoje com 27 anos, sabe bem disso. Ela engravidou do namorado, André Felipe Remor, um ano mais velho, aos 19. Eles já pretendiam ficar juntos cedo, mas era coisa para dali a um ou dois anos. "Eu e meu filho, João Vitor, ficamos morando com meus pais, em Santa Catarina, e ele aqui. Esse período foi especialmente difícil para mim, já que cuidar do bebê ficou, praticamente, por minha conta." A ideia era esperar até poderem comprar uma casa. "Mas o tempo foi passando e não aguentamos mais ficar longe um do outro. Acabei vindo para cá e morando de aluguel mesmo."

Hoje, Suelen tem uma empresa de publicidade e propaganda, aberta há três anos, e, em 2009, ela e André conseguiram, finalmente, comprar a casa própria, em Colombo, região metropolitana, onde os pais dela também moram. "Tenho certeza de que a minha vida seria diferente se não tivesse engravidado, mas nem cogito imaginá-la sem o João Vitor nela." Ter de resolver seus próprios problemas, pagar as contas e correr atrás do que fosse preciso, principalmente pelo filho, fez com que ela amadurecesse rápido e também que adiasse outros planos. "Hoje penso em fazer um curso de qualificação em 3D para ajudar na empresa e o André ainda quer fazer faculdade."

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