Na mocidade, o paulistano Ivan Pegoraro, hoje com 51 anos, sonhava ser jogador de futebol. Chegou perto, mas o talento para o setor de vendas e marketing fez com que abandonasse o estádio antes do final da partida. A oratória era seu melhor drible. Há uma década, o tino para os negócios o trouxe a Curitiba, lugar que escolheu para fazer carreira e criar os três filhos com tranqüilidade. Até que a tranqüilidade foi-se embora.

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Em outubro de 2000, Amanda, filha de 15 anos de Ivan, sofreu um acidente grave, vindo a óbito nove dias depois. A história é mais ou menos comum. Dificuldade dos pais em acompanhar a agenda de um adolescente, bebida vendida em loja de conveniência como se fosse pirulito, gente moça dentro de um carro e a vida toda pela frente.

Na hora fatal, o orador entrou em campo no lugar do pai, fazendo a diferença. Antes de sair de casa para ir ao velório de Amanda, Ivan se sentou na frente do jornalista Herivelto Oliveira, da RPC, para uma longa e comovente entrevista sobre a combinação jovens, álcool, automóvel – um clássico da publicidade e do terror. Guarda uma cópia do telejornal até hoje. Natural – depois daquilo, nada mais foi como antes.

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Desde a morte de Amanda, Ivan fez mais de 200 palestras em colégios e empresas da cidade – atividade com extensão no site "Valorize a vida". A combinação da tragédia da filha e a verve de orador garantem o interesse pela conversa – evitando que ela seja confundida com aquele sabão que os pais passam nos filhos minutos antes de rolar a festa. Uma das estratégias do militante é pedir uma redação ao final do debate. Os textos viraram a fonte em que Ivan bebe para entender em que lugar da mente juvenil se esconde tanta coragem para enfrentar carros lotados, dirigidos por motoristas embriagados.

"Quanto custa o leito diário de uma UTI?", questiona, a respeito da dificuldade crônica em emplacar programas de prevenção mais amiúde. Ele é partidário de estratégias mais agressivas de convencimento. O desafio tem nome, sugere Pegoraro – fazer com que os acidentes deixem de ser vistos como mera fatalidade. Podem ser evitados. Nesse dia, vai ser gol, um golaço para Amanda.