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Uma visão desoladora. Foi isso que o repórter fotográfico Hedeson Alves encontrou ao sobrevoar o litoral do Paraná a bordo de um helicóptero da Polícia Militar, cinco dias após a tragédia que atingiu a região. Vistas lá de cima, as consequências do desastre são ainda mais chocantes. O cenário é de destruição e morte. Uma semana depois da calamidade, a Defesa Civil contabiliza na região três óbitos, 2,5 mil pessoas desabrigadas, 10 mil desalojadas e um total de 26 mil afetadas em Morretes, Antonina, Paranaguá e Guaratuba. Cerca de 4 mil casas foram danificadas ? 211 ficaram completamente destruídas. Os prejuízos superam a casa dos R$ 104 milhões. O bloqueio nas BRs 277 e 376, principais acessos ao litoral, dificultaram ainda mais os esforços de resgate e socorro. Foi, sem dúvida, um desastre sem precedentes
Parece Teresópolis, mas é Morretes
A tragédia no litoral começou a se desenhar entre os dias 10 e 11 deste mês, quando choveu quase a metade do esperado para todo o mês de março, segundo o Instituto Tecnológico Simepar. Foram 115 milímetros de chuva, quando a média histórica para o mês é de 268 milímetros. Em Morretes, a água dos rios subiu rapidamente e invadiu casas e propriedades rurais. O abastecimento de água e luz foi prejudicado e milhares de pessoas tiveram de abandonar suas casas por precaução. Na comunidade de Floresta (Foto 1), as residências ficaram destruídas. ?Floresta acabou. Sem ajuda do governo federal, não tem o que fazer?, diz José Francisco de Souza, que mora na localidade. Segundo ele, o Rio Jacareí, que era uma das divisas da região, mudou o curso, deixando o local irreconhecível.
Deserto em plena Serra
O desastre ambiental na Serra do Mar produziu imagens chocantes e também intrigantes, como a do carro com as rodas viradas para cima em meio a um cenário de deserto em Floresta, na cidade de Morretes. O comerciante Romeu de Souza Alves perdeu o seu veículo, arrastado por 300 metros, mas não só isso. A água levou o bar, a casa onde morava e as lembranças de uma vida difícil, mas feliz. ?Foi tudo de uma vez. Escutamos os escombros e só deu tempo de correr. Em cerca de cinco minutos não tinha mais nada?, conta. Só restou escombros.
Quatro dias de isolamento
A força da enxurrada arrastou pontes na BR-277 (foto 3) e provocou a queda de barreiras na BR-376 já no primeiro dia de chuva. As rodovias foram interditadas e o litoral do Paraná viveu uma situação inédita: ficou isolado por terra por quatro dias. Veículos ficaram presos em congestionamentos que chegaram a 20 quilômetros. Só com estradas e pontes destruídas, o prejuízo chega a quase R$ 20 milhões. O estado aguarda ajuda federal para reconstruir todos os acessos na região.
Morro abaixo em Antonina
Com o solo encharcado pela chuva, a terra das encostas não suportou tanta umidade e veio abaixo, arrastando tudo o que estava pela frente. Lama, árvores e pedras desceram o morro, soterrando residências e apavorando a população de Antonina, a mais afetada pelos deslizamentos. Duas pessoas morreram no município. A cidade seguiu os passos de Morretes e decretou estado de calamidade pública. Ao todo, 1,2 mil residências foram danificadas e 71 destruídas. Quem pôde sair a tempo não pensou duas vezes. Uma semana depois, 267 pessoas ainda continuam em abrigos públicos, à espera de auxílio do poder público para recomeçarem suas vidas.
247 domicílios ainda estão sem energia
Depois de uma semana marcada pelos estragos causados pelas fortes chuvas que atingiram o litoral, 247 domicílios nas localidades de Limeira, Rasgadinho e Floresta, entre Guaratuba e Morretes, ainda estão sem luz. A Companhia Paranaense de Energia (Copel) prevê que até o fim deste hoje os serviços estejam normalizados. A empresa alerta que é possível que haja mais consumidores sem energia e que não conseguiram comunicar o problema. Antes do temporal, as comunidades eram atendidas por um ramal com origem em Morretes e também atende a comunidade de Sambaqui, que tem 300 unidades consumidoras e 43 desligadas. A Copel está utilizando postes de fibra de vidro, mais leves que os de concreto, já que a passagem de veículos em alguns trechos é impossível.
Água
O abastecimento de água, que estava suspenso em 40% das unidades de Antonina, foi restabelecido no final da tarde de ontem. O abastecimento foi suspenso por um deslizamento de terra na madrugada de quinta-feira. Ficaram sem água os bairros Batel, Centro, Caixa D?Água, Barigui, Saivá, Quilômetro 4 e Tucunduva. Técnicos do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto de Antonina (Samae), conseguiram consertar os dutos. A estrutura de encanamentos no morro do Quilômetro 4, onde houve o deslizamento, foi reforçada com trilhos de trem.
Fim de semana terá chuvas e céu nublado
A previsão é de pancadas de chuva moderadas e céu nublado para este fim de semana no Paraná, de acordo com o Instituto Tecnológico Simepar. Segundo o meteorologista Marcelo Brauer, as chuvas são consequência da chegada de uma nova frente fria ao estado. Para Brauer, o solo já fragilizado na região da Serra do Mar facilita a ocorrência de deslizamentos. ?Não precisa chover como choveu na semana anterior para que se tenha problemas de desmoronamentos. A orientação é para que as pessoas não desçam em direção às praias?, alertou. De acordo com o Simepar, as chuvas se mantêm até a próxima terça-feira no estado. O meteorologista afirmou que a concentração das chuvas na Serra do Mar foi um fenômeno excepcional. ?As precipitações se concentraram exatamente no topo da serra, no local das cabeceiras dos rios. Em dez dias choveu na região de Antonina e Morretes o dobro da média para aquele período?, ressalta. Brauer explicou ainda que o alerta na região só deve ser descartado quando o solo local secar. ?Não há uma previsão para saber quando as chuvas devem diminuir e cessar na região?, comentou.
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