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Os reis do narcotráfico no Brasil, Fernandinho Beira-Mar, e na Colômbia, Juan Carlos Ramirez Abadía, detidos no Presídio Federal de Campo Grande (MS), se uniram, mesmo confinados em presídio de segurança máxima. Juntos, mandaram aterrorizar juízes que atuam nos seus processos e autoridades que têm o poder de atrapalhar negócios milionários fora da prisão - e seus familiares. O esquema incluía extorsão mediante seqüestro e organização de assaltos.

De acordo com a Polícia Federal (PF), os dois usaram os advogados e familiares de grupos criminosos diversos, incluindo o Primeiro Comando da Capital (PCC). As ações ocorreriam em São Paulo, Rio e Mato Grosso do Sul. O plano foi descoberto pela inteligência da PF, que desencadeou hoje a Operação X e prendeu oito pessoas. Uma delas é o advogado Vladimir Búlgaro, defensor de José Reinaldo Girotti, o Alemão, um dos maiores financiadores de grupos criminosos do País, entre os quais o PCC, que também está em Campo Grande.

Pelo que se apurou, um dos detentos que cederam laranjas (pessoal) para os dois megatraficantes é João Paulo Barbosa, especializado em assalto a bancos e ligado ao PCC. Na operação, ainda foram presos Leonice de Oliveira e Leandro dos Santos, familiares de Barbosa. Ivana Pereira de Sá foi detida quando visitava o ex-marido, Beira-Mar, no presídio. Eles foram levados para a carceragem da PF em Campo Grande e a Justiça decidirá onde cada um ficará. É possível que Abadía, que aguarda decisão do governo sobre sua extradição para os Estados Unidos, seja enviado para outra cadeia. Hoje, o jornal colombiano El Tiempo dava a extradição como certa em sua página na internet.

Segundo o advogado de Abadía e Beira-Mar, Luiz Gustavo Bataglin Maciel, a informação que recebeu foi a de que seus clientes tiveram um plano de fuga abortado. "Acabei de conversar com os dois e eles negam qualquer plano criminoso", disse. "Até mesmo dizem que nunca tiveram contato um com o outro e não se conhecem Somente depois das prisões é que soube da real situação."

A identificação do bando, segundo a PF, aconteceu depois de investigações iniciadas em abril deste ano, quando ocorreu um atentado contra o presídio federal, que visaria à libertação dos chefes criminosos. Na ocasião, desconhecidos dispararam vários tiros com armas de grosso calibre contra a segurança. O caso levou a Polícia Federal, cerca de uma semana depois, a formar a Operação X - com escutas com autorização judicial e investigação

Com capacidade para 208 presos, em celas individuais de segurança máxima, a Penitenciária Federal de Campo Grande era considerada uma fortaleza imune a rebeliões, fugas e ações criminosas. Dotada de infra-estrutura e equipamentos de segurança de última geração, como aparelhos de raio X, tem coleta de impressão digital e detectores de metais de alta sensibilidade, aos quais até os advogados são submetidos. Os banhos de sol são individuais e praticamente não há contato físico entre detentos.

Para contornar isso, Beira-Mar e Abadía tiveram a idéia criativa de compartilhar advogados e familiares de outros presos como "soldados". Contaram, para isso, com a assessoria de Alemão e do advogado Búlgaro. Alemão havia sido preso em 2006, em Londrina (PR), e transferido para Campo Grande no fim de 2007. Foragido da Justiça há mais de cinco anos, era o primeiro na lista de procurados pela PF.

Segundo a inteligência da PF, Alemão é exímio planejador de assaltos a bancos e teria arquitetado o ataque ao Banco Central de Fortaleza (CE), de onde foram levados R$ 164,7 milhões em 2005. Dependendo da ação, conforme a PF, Alemão formava um grupo e recrutava os "soldados do crime" - como teria ocorrido no caso atual. Uma das marcas de suas ações consistia em seqüestrar familiares de gerentes de bancos e empresas de segurança bancária, antes dos roubos.

A Operação X foi comandada pelo delegado Elzio Vicente da Silva. Os nomes das autoridades ameaçadas e alguns dados do esquema foram mantidos em sigilo por ordem judicial e por segurança.

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