Maioria das escolas de Goioxim fica no campo: cidade teve o maior avanço em educação no PR| Foto: Josué Teixeira/ Gazeta do Povo

Escola perto do aluno é segredo do sucesso

Maria Gizele da Silva, da sucursal de Ponta Grossa

Abraçado por uma região mon­­tanhosa no Centro-Sul do estado, o município de Goioxim ostenta o maior avanço da década no IDH-M entre as 399 cidades do Para­­ná. Marcada pela agricultura familiar, a base da economia é a produção leiteira. Entre os 500 produtores de leite do município está Valtemiro Bertuol, que tem 17 vacas holandesas em lactação. "A produção mensal é de 10 mil litros por mês e eu não posso me queixar".

Para melhorar o tráfego de caminhões que cruzam o município até os laticínios da região, a prefeitura investiu no cascalhamento das estradas rurais, o que, por consequência, facilitou a passagem dos ônibus do transporte escolar.

É no campo que está a maioria dos estudantes. Das nove escolas de Goioxim, sete ficam na área rural. A distribuição se explica pela densidade populacional nessa região. Dos 7.503 habitantes, 76,5% moram em sítios e fazendas. Mesmo entre as escolas localizadas no perímetro urbano, a maioria dos alunos vem da área rural. Na Escola Moysés Lupion – a única municipal dentro da área urbana – 80% dos alunos são do campo.

A Escola Estadual João Fer­­reira, que fica na cidade, é classificada como escola do campo. A coordenadora de Educação do Campo do Núcleo Regional de Educação de Guarapuava, Valdivânia Pereira Barbosa, explica que a forma de os professores darem aulas nessas escolas é diferenciada. A experiência vivida pelos estudantes na agricultura é trazida para a sala. "Nas aulas de matemática, por exemplo, fala-se em hectares e alqueires", acrescenta a integrante da equipe pedagógica do Núcleo, Ezilda Ribeiro.

Para a secretária de Educa­­ção de Goioxim, Claudilaine Carvalho de Col, é importante atrair o aluno para a sala de aula. Desde 2010, os estudantes da rede municipal têm aulas de música como disciplina obrigatória e acesso a laboratório de informática.

Bolsa Família

O avanço no quesito educação do IDH-M na última década em Goioxim, conforme Valdivânia, pode estar relacionado a outros fatores, como o acompanhamento dos conselheiros tutelares à frequência dos alunos e à disseminação do Bolsa Família, que vincula a ida constante do estudante à escola ao pagamento do programa. Hoje, 890 famílias em Goioxim são beneficiárias do Bolsa Família, ou seja, o equivalente a 37% da população considerando o número de 3,1 membros por família – parâmetro utilizado pelo IBGE.

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Ritmo mais lento

Economistas e pesquisadores preveem que a desigualdade entre os municípios paranaenses vai continuar diminuindo ao longo da próxima década, mas em um ritmo mais lento. Para acelerar esse quadro, a sugestão é investir em políticas de desenvolvimento por região. "Se não se criarem oportunidades nas cidades mais carentes, como o Centro-Sul e o Norte Pioneiro, vai se continuar estimulando o envio de mão de obra qualificada para municípios de grande porte", diz o economista e doutor em Desenvolvimento Regional Jandir Ferreira de Lima.

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O abismo social que separa os municípios mais ricos dos mais pobres no Paraná já não é tão fundo como há dez anos. A desigualdade entre as cidades do estado caiu 25% ao longo da última década nas áreas de saúde (longevidade), educação e renda. A redução foi revelada no mês passado pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, formatado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base em dados do Censo de 2010.

INFOGRÁFICO: Avanços na educação e saúde foram preponderantes para a diminuição da desigualdade entre os municípios

De acordo com o estudo, a diferença atual entre a cidade com o maior e o menor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) no Paraná ficou em 0,277 (o índice vai de zero a um). Em 2000, essa diferença era de 0,373. Esta alteração de 96 pontos se deve à melhoria da situação das cidades que figuravam nas últimas colocações no início da década passada. Localizadas em sua grande maioria nas regiões Centro-Sul e Vale do Ribeira, elas continuam lá atrás no ranking, mas ganharam fôlego e se aproximaram das que estão na dianteira. Goioxim, município de 7,5 mil habitantes no Centro-Sul, registrou a maior evolução do estado entre 2000 e 2010, tendo aumentado o seu IDH-M em 0,195.

Escolaridade

A queda nas disparidades entre os municípios foi puxada, principalmente, pelo desempenho em educação, que mede os índices de escolaridade e frequência escolar. Nesse quesito, a diferença entre o melhor e o pior caiu 128 pontos na década passada – uma redução de 24%. Goioxim também obteve o melhor desempenho nessa área – alta de 0,322 no IDH-M.

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Em 2010, em média 90% das crianças de 5 e 6 anos estavam na escola e 89% dos jovens de 11 a 13 anos frequentavam os anos finais do ensino fundamental em todo o estado. Há dez anos, os porcentuais eram de 65% e 74%, respectivamente.

Os dados referentes à escolaridade da população adulta, porém, ainda são desanimadores. Cidades como Cerro Azul (Vale do Ribeira) e Laranjal (Centro-Sul) têm apenas 17% e 21% dos jovens entre 18 e 20 anos com ensino médio completo, respectivamente – em Maringá, esse porcentual é três vezes maior: 64%. Não à toa, a diferença entre o maior e o menor IDH-M em educação no Paraná é de 0,406 – a principal desigualdade entre as três áreas que compõem o índice (veja infográfico).

Para o diretor do Cen­­tro de Pesquisas do Insti­­tuto Paranaense de Desenvol­­vi­­mento Econômico e Social (Ipardes), Julio Suzuki Júnior, a diminuição da desigualdade entre os municípios passa, preferencialmente, por uma melhoria qualitativa na educação dos paranaenses. "O Paraná tem uma taxa de alfabetização elevada, mas a evasão no ensino médio é significativa e um número pequeno de pessoas tem acesso à universidade. E é aí que residem as grandes possibilidades de melhorias, porque as outras áreas do IDH, como longevidade e renda, devem evoluir pouco nos próximos anos", afirma.

Relação entre estudo e renda interfere no PIB

A desigualdade entre os municípios paranaenses se acentuou a partir da década de 1970, com a crise na cafeicultura. Naquela época surgiu a Cidade Industrial de Curitiba e foi instalada a Refinaria Getúlio Vargas, em Araucária, dando início à concentração de renda na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Logo, a participação de cada região geográfica no PIB estadual sofreu inversão: enquanto a RMC viu sua fatia aumentar 49% entre 1970 e 2010, regiões como o Centro-Sul, Sudeste e Norte Pioneiro diminuíram em 31%, 60% e 59% sua influência, respectivamente, no bolo estadual no mesmo período.

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O economista e doutor em Desenvolvimento Regional Jandir Ferreira de Lima, pesquisador da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), lembra que há uma ligação íntima entre os fatores renda e educação – e aí reside um dos maiores nós do estado. "O principal estímulo para se investir na própria educação e procurar uma carreira profissional se chama oportunidade. E as melhores oportunidades estão nas cidades com mais habitantes, com mais opções de emprego e renda. Nas cidades do interior, a mudança na escolaridade não impacta na faixa salarial. Ou seja, a pessoa não é estimulada a buscar mais qualificação", afirma.

Do mesmo modo, o aquecimento de mercados sazonais que exigem pouca qualificação, como construção civil, também motiva a evasão escolar. "Às vezes, a melhoria da renda é o que atrapalha a continuidade dos estudos. Muitas pessoas são mais atraídas pelo mercado de trabalho e aí acabam estudando menos do que poderiam ou deveriam", reforça o professor de Desenvolvimento Econômico da UFPR, Huascar Tessali.