Um trator, uma vaca de leite, um rolo de arame, uma saca de semente. Os bens que estimulam a produção e a renda nas regiões de agricultura familiar estão cada vez mais acessíveis via crédito rural no Paraná, consumindo anualmente de 10% a 15% dos recursos anunciados por Brasília. O reflexo direto desse fenômeno na melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) é consenso entre representantes do setor e pesquisadores.
Os valores financiados para cultivo e investimento crescem a uma taxa média de 9% ao ano desde 1993 no país. E a cada safra sobra menos dinheiro no orçamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que tem R$ 21 bilhões para 2013/14 17% a mais do que na temporada passada.
Os produtores pagam os financiamentos com correção de 0,5% a 4,5% ao ano, ou seja, taxas anuais menores do que as mensais praticadas nos empréstimos pessoais.
"O crédito rural vem ganhando capilaridade na agricultura familiar por fatores como a estruturação de cooperativas de crédito", aponta Maria Salete Zanchet, pesquisadora e coordenadora do Núcleo de Socioeconomia Rural do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Essas cooperativas montaram unidades em praticamente todos os municípios do estado, distribuindo dinheiro a parte dos produtores que não conseguiam financiar a produção nos bancos tradicionais.
Para a especialista, ainda são necessários avanços. "Hoje não falta dinheiro no orçamento. Mas os recursos que sobram poderiam ser mais acessados".
Em 2010/11, 28% dos R$ 16 bilhões anunciados para a agricultura familiar não saíram dos bancos. Na agricultura comercial, esse índice era de 5,5%. De 28%, as sobras" caíram para 19,4% e 12,7% nas safras seguintes, patamares ainda considerados altos.
Documentação
Muitos produtores não financiam e não aumentam a produção porque não têm a documentação da terra regularizada, aponta o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Paraná (Fetaep), Ademir Mueller. "As famílias se dividem e não atualizam a documentação e ainda há casos de posseiros." Ele aponta também que os financiamentos, fartos para cercas de arame farpado e máquinas, são escassos para a habitação.
Só financiamento não teria surtido melhoria na qualidade de vida. Os produtores estão conseguindo pagar os empréstimos com inadimplência abaixo de 3%, segundo os bancos porque há uma demanda cada vez maior por alimentos, acrescenta a pesquisadora do Ipardes. Além disso, os preços com exceções, como as cotações deste ano para o café são considerados remuneradores.
Envelhecimento e êxodo rural mascaram índice
A agricultura familiar continua perdendo jovens para as cidades e, com o envelhecimento da população que fica cuidando dos sítios, há uma proporção cada vez maior de aposentados na zona rural. Esses dois problemas vêm perdendo força, mas ainda são recorrentes e reduzem automaticamente o número de crianças e adolescentes fora da escola bem como o de adultos sem renda.
Quadro que aparece nas pesquisas do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) e, por não representar em si melhoria na educação nem abertura de oportunidades no campo, relativiza os avanços no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M).
Remédio
Para combater o esvaziamento da agricultura familiar e garantir que haja jovens para suceder os produtores de alimentos, o crédito rural também é apontado como remédio. De acordo com o Ipardes e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Paraná (Fetaep), os recursos que elevam a produção e a renda tornam a vida no campo mais atraente ao viabilizarem a compra de eletrônicos e o acesso à internet, por exemplo.