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Financiamento

Crédito farto no meio rural provoca avanços no IDH-M

Dono de supermercado, Elvis Martins lucra com a riqueza do campo em Rio Azul: renda média da cidade mais que dobrou em dez anos, segundo o Atlas do Desenvolvimento | Josué Teixeira/ Gazeta do Povo
Dono de supermercado, Elvis Martins lucra com a riqueza do campo em Rio Azul: renda média da cidade mais que dobrou em dez anos, segundo o Atlas do Desenvolvimento (Foto: Josué Teixeira/ Gazeta do Povo)

Um trator, uma vaca de leite, um rolo de arame, uma saca de semente. Os bens que estimulam a produção e a renda nas regiões de agricultura familiar estão cada vez mais acessíveis via crédito rural no Paraná, consumindo anualmente de 10% a 15% dos recursos anunciados por Brasília. O reflexo direto desse fenômeno na melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) é consenso entre representantes do setor e pesquisadores.

Os valores financiados para cultivo e investimento crescem a uma taxa média de 9% ao ano desde 1993 no país. E a cada safra sobra menos dinheiro no orçamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que tem R$ 21 bilhões para 2013/14 – 17% a mais do que na temporada passada.

Os produtores pagam os financiamentos com correção de 0,5% a 4,5% ao ano, ou seja, taxas anuais menores do que as mensais praticadas nos empréstimos pessoais.

"O crédito rural vem ganhando capilaridade na agricultura familiar por fatores como a estruturação de cooperativas de crédito", aponta Maria Salete Zanchet, pesquisadora e coordenadora do Núcleo de Socioeconomia Rural do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Essas cooperativas montaram unidades em praticamente todos os municípios do estado, distribuindo dinheiro a parte dos produtores que não conseguiam financiar a produção nos bancos tradicionais.

Para a especialista, ainda são necessários avanços. "Hoje não falta dinheiro no orçamento. Mas os recursos que ‘sobram’ poderiam ser mais acessados".

Em 2010/11, 28% dos R$ 16 bilhões anunciados para a agricultura familiar não saíram dos bancos. Na agricultura comercial, esse índice era de 5,5%. De 28%, as ‘sobras" caíram para 19,4% e 12,7% nas safras seguintes, patamares ainda considerados altos.

Documentação

Muitos produtores não financiam e não aumentam a produção porque não têm a documentação da terra regularizada, aponta o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Paraná (Fetaep), Ademir Mueller. "As famílias se dividem e não atualizam a documentação e ainda há casos de posseiros." Ele aponta também que os financiamentos, fartos para cercas de arame farpado e máquinas, são escassos para a habitação.

Só financiamento não teria surtido melhoria na qualidade de vida. Os produtores estão conseguindo pagar os empréstimos – com inadimplência abaixo de 3%, segundo os bancos – porque há uma demanda cada vez maior por alimentos, acrescenta a pesquisadora do Ipardes. Além disso, os preços – com exceções, como as cotações deste ano para o café – são considerados remuneradores.

Envelhecimento e êxodo rural mascaram índice

A agricultura familiar continua perdendo jovens para as cidades e, com o envelhecimento da população que fica cuidando dos sítios, há uma proporção cada vez maior de aposentados na zona rural. Esses dois problemas vêm perdendo força, mas ainda são recorrentes e reduzem automaticamente o número de crianças e adolescentes fora da escola bem como o de adultos sem renda.

Quadro que apare­­ce­­ nas pesquisas do Ins­­ti­­tuto Paranaense de Desen­­volvimento Econômico e Social (Ipardes) e, por não representar em si melhoria na educação nem abertura de oportunidades no campo, relativiza os avanços no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M).

Remédio

Para combater o esvaziamento da agricultura familiar e garantir que haja jovens para suceder os produtores de alimentos, o crédito rural também é apontado como remédio. De acordo com o Ipardes e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Paraná (Fetaep), os recursos que elevam a produção e a renda tornam a vida no campo mais atraente ao viabilizarem a compra de eletrônicos e o acesso à internet, por exemplo.

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