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Dono de supermercado, Elvis Martins lucra com a riqueza do campo em Rio Azul: renda média da cidade mais que dobrou em dez anos, segundo o Atlas do Desenvolvimento | Josué Teixeira/ Gazeta do Povo
Dono de supermercado, Elvis Martins lucra com a riqueza do campo em Rio Azul: renda média da cidade mais que dobrou em dez anos, segundo o Atlas do Desenvolvimento| Foto: Josué Teixeira/ Gazeta do Povo

Em ascensão, Rio Azul rende graças ao fumo

Maria Gizele da Silva, da sucursal de Ponta Grossa

Com sua economia baseada nas lavouras de fumo, o município de Rio Azul, no Sul do Paraná, registrou o maior avanço em renda no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M). A atividade é bastante rentável. Em 2010, por exemplo, Rio Azul plantou menos área de fumo que de soja, mas arrecadou R$ 42,4 milhões a mais na fumicultura do que nas lavouras de soja, segundo dados do Ipardes. A produção coloca o município na lista dos dez maiores produtores de fumo do Brasil, conforme a Associação dos Fumicultores do Brasil.

Na família de João Gureski, a atividade alcança a terceira geração. "Meu pai plantava fumo e meus quatro filhos também plantam", diz. A filha Gislaine Gureski Golemba vai produzir 45 mil pés na próxima safra. "Não tem como ir para a cidade e viver de salário mínimo. É por isso que todo mundo que vive no campo planta fumo", afirma a produtora.

A renda per capita de Rio Azul aumentou de R$ 298,40, em 2000, para R$ 740,31, em 2010, segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano. Os lucros do campo se refletem na cidade. Elvis Martins é filho de fumicultores, mas preferiu investir na área urbana. Abriu um armazém de 200 metros quadrados no centro de Rio Azul. Hoje, aos 22 anos, dirige o supermercado da família, que tem mil metros quadrados e 50 funcionários.

Entre 2000 e 2010, Rio Azul foi um dos poucos municípios do interior que aumentou o número de habitantes, passando de 13.023 para 14.093. Segundo o prefeito Silvio Girardi, é preciso criar mecanismos para fixar o homem no campo. "Não queremos que ele venha para a cidade", frisa. Segundo o Censo de 2010, 64,4% da população mora na zona rural.

Saúde

Tranquilidade favorece a longevidade da população de Jundiaí do Sul

Vem de Jundiaí do Sul, cidade com 3.433 habitantes no Norte Pioneiro, a maior alta no item longevidade do IDH-M entre os municípios do Paraná. Entre 2000 e 2010, o indicador subiu 0,105 pontos. A expectativa de vida ao nascer passou de 67,73 anos para 74,03. Reflexo da qualidade de vida do pequeno município. "É uma vida mais tranquila, não tem barulheira, não tem tanto perigo, a maioria das pessoas tem um quintalzinho em casa e come as hortaliças sem agrotóxicos", conta a diretora do Hospital Municipal São Francisco, Eva Lúcia Dias. Para a ex-secretária municipal de Saúde e atualmente funcionária da secretaria, Lurdes de Lima, a longevidade também se explica pelo atendimento primário prestado pelos três postos de saúde (um na área urbana e dois na área rural). Há sete agentes comunitários que visitam os pacientes em casa e chamam médicos e enfermeiros sempre que necessário. A cidade conta com apenas dois médicos que se revezam no atendimento do posto de saúde central e do hospital. A população idosa é numerosa. Ela é atendida no Programa do Idoso ofertado pela prefeitura, que conta com atividades preventivas na área de hipertensão e diabetes.

Um trator, uma vaca de leite, um rolo de arame, uma saca de semente. Os bens que estimulam a produção e a renda nas regiões de agricultura familiar estão cada vez mais acessíveis via crédito rural no Paraná, consumindo anualmente de 10% a 15% dos recursos anunciados por Brasília. O reflexo direto desse fenômeno na melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) é consenso entre representantes do setor e pesquisadores.

Os valores financiados para cultivo e investimento crescem a uma taxa média de 9% ao ano desde 1993 no país. E a cada safra sobra menos dinheiro no orçamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que tem R$ 21 bilhões para 2013/14 – 17% a mais do que na temporada passada.

Os produtores pagam os financiamentos com correção de 0,5% a 4,5% ao ano, ou seja, taxas anuais menores do que as mensais praticadas nos empréstimos pessoais.

"O crédito rural vem ganhando capilaridade na agricultura familiar por fatores como a estruturação de cooperativas de crédito", aponta Maria Salete Zanchet, pesquisadora e coordenadora do Núcleo de Socioeconomia Rural do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Essas cooperativas montaram unidades em praticamente todos os municípios do estado, distribuindo dinheiro a parte dos produtores que não conseguiam financiar a produção nos bancos tradicionais.

Para a especialista, ainda são necessários avanços. "Hoje não falta dinheiro no orçamento. Mas os recursos que ‘sobram’ poderiam ser mais acessados".

Em 2010/11, 28% dos R$ 16 bilhões anunciados para a agricultura familiar não saíram dos bancos. Na agricultura comercial, esse índice era de 5,5%. De 28%, as ‘sobras" caíram para 19,4% e 12,7% nas safras seguintes, patamares ainda considerados altos.

Documentação

Muitos produtores não financiam e não aumentam a produção porque não têm a documentação da terra regularizada, aponta o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Paraná (Fetaep), Ademir Mueller. "As famílias se dividem e não atualizam a documentação e ainda há casos de posseiros." Ele aponta também que os financiamentos, fartos para cercas de arame farpado e máquinas, são escassos para a habitação.

Só financiamento não teria surtido melhoria na qualidade de vida. Os produtores estão conseguindo pagar os empréstimos – com inadimplência abaixo de 3%, segundo os bancos – porque há uma demanda cada vez maior por alimentos, acrescenta a pesquisadora do Ipardes. Além disso, os preços – com exceções, como as cotações deste ano para o café – são considerados remuneradores.

Envelhecimento e êxodo rural mascaram índice

A agricultura familiar continua perdendo jovens para as cidades e, com o envelhecimento da população que fica cuidando dos sítios, há uma proporção cada vez maior de aposentados na zona rural. Esses dois problemas vêm perdendo força, mas ainda são recorrentes e reduzem automaticamente o número de crianças e adolescentes fora da escola bem como o de adultos sem renda.

Quadro que apare­­ce­­ nas pesquisas do Ins­­ti­­tuto Paranaense de Desen­­volvimento Econômico e Social (Ipardes) e, por não representar em si melhoria na educação nem abertura de oportunidades no campo, relativiza os avanços no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M).

Remédio

Para combater o esvaziamento da agricultura familiar e garantir que haja jovens para suceder os produtores de alimentos, o crédito rural também é apontado como remédio. De acordo com o Ipardes e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Paraná (Fetaep), os recursos que elevam a produção e a renda tornam a vida no campo mais atraente ao viabilizarem a compra de eletrônicos e o acesso à internet, por exemplo.

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