| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Entrevista

Padre Luiz Antônio Bento, assessor da Comissão Vida e Família da CNBB.

Para a Igreja Católica, o governo federal tem uma política pró-aborto. O padre Luiz Antônio Bento, assessor da Comissão Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) critica ações como a distribuição de camisinhas no carnaval.

A Igreja condena todo aborto?

Sim. A Igreja Católica é contrária a qualquer forma de agressão à vida. A missão da medicina é salvar vidas, não matar. É diferente de fazer um aborto terapêutico, como alguns chamam o aborto em casos de anencefalia. É um aborto eugênico, é um aborto para eliminar crianças que têm malformação. Hoje são os anencéfalos, amanhã poderão ser os que têm Síndrome de Down.

No STF, mães de fetos anencéfalos contaram seu sofrimento...

Mães que não abortaram dizem que disseram aos filhos, no momento em que eles viveram: eu te amo, eu te amo. Mães que abortaram não sabem onde estão as crianças. Não acredito que um país que não acaba com o mosquito da dengue consiga dar hospitais a todas as mães que querem fazer aborto. Essa mãe precisa é de orientação espiritual.

O Estado não tem de assistir todas?

Falo de uma política familiar que ajude a formar para o sentido da sexualidade, e não essa depravação que está aí, quando temos um presidente que tem coragem de jogar camisinha para todo mundo. Não é coisa de um chefe de nação. É confrontar valores da sociedade. Quem disse que os valores dele são os de todos? O presidente tem de respeitar valores impregnados na sociedade.

E quem depende do SUS?

Muitas mulheres fazem o aborto em clínicas. O aborto no Brasil só não está legalizado oficialmente, mas o Estado tem feito uma política de aborto e de amparo às que querem abortar. Legalizando o aborto, as pobres vão continuar fazendo clandestinamente. Não é verdade que legalizar vai beneficiar os pobres.

O que achou da condenação da Igreja ao aborto feito pela menina estuprada?

A Igreja vai ajudar essa família. Estão usando a menina para criar uma mentalidade abortista.

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São Paulo - Casos de aborto legal na rede pública cresceram 242,6% nos últimos oito anos, segundo dados do Ministério da Saúde. Em 2000, 930 mulheres e 16 crianças procuraram o serviço público para interromper legalmente a gravidez. No ano passado, foram registrados 3.241 procedimentos do tipo no país. De acordo com a legislação brasileira, o aborto é legal nos casos de estupro e risco de vida para a mãe. Na maior parte dos casos atendidos, a gravidez resulta de estupro.

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O caso da menina de Pernambuco que abortou de gêmeos depois de ser sistematicamente abusada pelo padrasto não é exceção. Ano passado, 49 crianças de até 14 anos fizeram aborto com amparo legal no país, um aumento de 122% em relação a 2007. Entre 2000 e 2007, foram 176 casos de abortamento legal de crianças. Em 2005, duas morreram em tentativas frustradas de aborto clandestino.

O número de abortos com amparo legal em adolescentes revela a gravidade do problema. Nos últimos oito anos, foram 2.950 procedimentos desse tipo na rede pública em meninas entre 15 e 19 anos, 578 só no ano passado. Os números apontam que essas jovens violentadas estão deixando de recorrer a práticas clandestinas para buscar seu direito de ter acesso ao serviço público. "Os atendimentos de complicações de aborto caíram desde a ampliação do serviço de aborto com amparo legal na rede pública", diz a coordenadora de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Lena Peres. Em 2000 houve 238.902 intervenções hospitalares para atender vítimas de abortos malsucedidos. Já em 2007, foram 222 mil atendimentos de emergência para situações de aborto, a maior queda desde 1997.

A interrupção da gravidez decorrente de estupro pode ser feita sem que a mulher procure a polícia. Cerca de 55 hospitais são referência no país. O ideal é que a vítima procure o serviço de saúde para prevenção com a pílula do dia seguinte.

O aborto é, segundo o Ministério da Saúde, a segunda causa de mortalidade materna no país. Para cada um dos 236 mil casos de aborto clandestino que acabaram nos hospitais públicos no ano passado, estima-se que há quatro clandestinos não notificados. Quem tem dinheiro paga até R$ 5 mil. Quem não tem, usa chás e agulha de crochê. O remédio mais popular custa R$ 200. A mortalidade materna por aborto cresceu 5,7% entre 2000 e 2006, quando foram registradas 92 mortes, alerta o médico Jéferson Drezett, coordenador do Serviço de Violência Sexual do Hospital Pérola Byington, de São Paulo. "No Brasil, morre uma mulher por aborto dia sim, dia não. É muito grave. Agora, estamos tendo de enfrentar a maternidade infantil, com a mortalidade de 15 crianças por ano no parto".

O médico Luis Codina, do Opas (Organização Panamericana de Saúde), confirmou que a instituição estima que no Brasil são realizados, em média, um milhão de abortos clandestinos por ano. "É um número real, um problema de saúde pública. Uma consequência de uma cadeia malsucedida de eventos dramáticos, violência e falta de planejamento familiar".

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A psicóloga Daniela Pedroso, que atende no Hospital Pérola Byington há 12 anos, diz que, entre as vítimas de estupro, muitas são religiosas. "A maioria é católica, mas pensa: ‘Não posso ter essa criança, não consigo’. A culpa judaico-cristã depois se justifica porque ela diz a si mesma que só abortou porque foi estuprada", conta.