Após o fim da assembleia-geral, professores e funcionários da educação presentes no encontro seguiram rumo ao Centro Cívico para a realização de uma rápida homenagem àqueles que permaneceram acampados em frente ao Palácio Iguaçu ao longo dos 29 dias de paralisação. Para muitos, o acampamento erguido na Praça Nossa Senhora de Salete configurou-se símbolo maior do movimento.
“Estamos aqui para um ato simbólico em reconhecimento ao papel do acampamento nessa mobilização e para mostrar ao governo, ao Judiciário e ao Legislativo que não vamos baixar a cabeça. A suspensão da greve e manutenção de estado permanente de greve angariou 95% de aprovação: se não houver cumprimento dos acordos firmados, retomamos a greve”, disse Hermes Leão Silva, presidente da APP-Sindicato.
Simultaneamente ao pronunciamento que encerrava oficialmente a ocupação da praça, dezenas de pessoas preparavam-se para levantar acampamento. Bem em frente à entrada da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), um grupo de professores de Colombo agilizava o desmonte para fugir do temporal que se armava. Com barracas montadas desde o primeiro dia de paralisação, passaram por ali cerca de cem pessoas, em sistema de revezamento. A suspensão da greve ainda inspirava certa apreensão.
“Nós vamos retomar as aulas como um voto de confiança ao governo. Porque precisamos negociar e voltar às salas de aula também faz parte da negociação. Estrategicamente, foi a melhor decisão, pois nossa greve poderia ser declarada ilegal e não queremos ir pelo caminho da ilegalidade”, explicou o professor Robson Mendonça.
É consenso, no entanto, de que a aprovação da suspensão da greve só foi possível porque o Judiciário respaldou os compromissos firmados pelo governo estadual. “Sem a participação do Judiciário não voltaríamos nem a pau, pois não temos como confiar. O governador não sentou na mesa de debate nenhuma vez, chega a ser ofensivo”, disse Taysa Junkes, professora em Colombo.
Apesar da disposição em retomar as atividades, os professores alertam que mesmo com os avanços conquistados durante as negociações, o retorno às salas acontecerá em meio a pendências, principalmente no que concerne à estrutura das escolas. “Muitas escolas não têm corpo docente suficiente, falta merenda e materiais escolares. Fala-se em prejuízo dos alunos, mas muitos continuam prejudicados mesmo com o início das aulas por causa das condições das escolas”, pontuou Mendonça.
Em meio às conversas de avaliação do movimento e do retorno às atividades, havia pelo menos um consenso: o de que o sacrifício do acampamento valeu a pena. “Foi uma experiência muito rica. No início a tensão era muito grande, havia insegurança e medo. Depois a sensação de medo e de perda dos direitos da categoria deu lugar à disposição de luta. Virou um acampamento de resistência. Muitas pessoas dispostas a permanecer aqui enquanto fosse preciso”, relatou Simone de Moraes, do núcleo sindical Metro Norte, que reúne professores e funcionários de escolas de 14 municípios da Região Metropolitana de Curitiba.
Para enfrentar o dia-a-dia do acampamento – por vezes chuvoso, lamacento, com acesso dificultado a banheiros e alimentação –, foi necessário se adaptar às circunstâncias. A alimentação, por exemplo, muitas vezes veio em forma de doações. Alguns grupos também organizaram-se para cozinhar grandes quantidades nas escolas e depois levar as refeições até o Centro Cívico em kombis. O professor Adão Aparecido Xavier tornou-se praticamente o chef do acampamento: foi o responsável pelo cardápio mais caprichado dos dias de campana – tutu à mineira e carne ao molho. Para alimentar o pequeno batalhão foram pelo menos 23 quilos de carne, 25 quilos de linguiça, 12 quilos de feijão e 13 de arroz.
“Percebemos que chegamos ao limite da negociação com a mediação da Justiça. E há o aspecto da exaustão dos próprios professores e também da sociedade. Mas foi gratificante receber o apoio durante esses dias de acampamento. Agora, se precisar voltar, já sabemos como”, avisou Xavier.
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