São Paulo - A advogada Ana Lúcia Assad ouviu ontem, pela primeira vez, Lindemberg Alves Fernandes e afirmou que, na versão do rapaz, ele só atirou na sua ex-namorada, Eloá Cristina Pimentel, e na amiga dela, Nayara Rodrigues da Silva, após a Polícia Militar explodir a porta do apartamento e invadir o local. Lindemberg, ainda segundo ela, atirou a esmo sem intenção de acertar nas duas garotas. "Ele disse que não enxergava nada e atirou após a explosão, sem mira. Não sabe para onde atirou", afirmou. Os médicos que atenderam a menina Eloá, porém, afirmaram que o tiro que a atingiu foi à queima-roupa.
De acordo com o chefe do Comando de Choque de São Paulo, coronel Eduardo José Félix, o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) só explodiu a porta do apartamento com a bomba e o invadiu porque ouviu um tiro. Somente o depoimento de Nayara ou uma perícia mais detalhada podem resolver essa dúvida.
O perito Ricardo Molina acredita que há apenas uma explicação para não se ouvir o tiro que os comandantes da ação policial alegam ter desencadeado a invasão do apartamento: o invasor teria usado uma almofada ou blusa para abafar o som do disparo. "Analisei a imagens de quatro câmeras e não ouvi nenhum disparo anterior."
Denúncia
O promotor Antonio Nobre Folgado, do Tribunal do Júri de Santo André, deverá, em um prazo de 15 dias, oferecer denúncia contra Lindemberg. Folgado, designado pelo Ministério Público de São Paulo para acompanhar o caso, deverá receber o inquérito policial elaborado pela Polícia Civil em dez dias. A partir de então, terá cinco dias para apresentar a denúncia contra Lindemberg.
O promotor diz não ter visto conduta criminosa dos policiais militares que conduziram as negociações com Lindemberg Alves. A menos que fique comprovada uma orientação explícita dos homens do Gate para que Nayara Silva voltasse ao cativeiro, diz ele, os policiais não serão responsabilizados. "Até onde sabemos, foi ela quem decidiu entrar no apartamento, mas pretendo esclarecer isso definitivamente quando ela prestar o novo depoimento", disse
Apesar da avaliação inicial do promotor, a Polícia Civil pretende investigar a conduta dos PMs. Os policiais querem saber como a invasão foi feita e se houve disparo antes da ação. A prioridade é ouvir o depoimento formal de Nayara, que deve receber alta hospitalar amanhã. O Ministério Público Militar também vai investigar a atuação do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais). De acordo com a promotora militar Eliana Passarelli, o fato de Nayara ter voltado ao apartamento será considerado grave. "Foi erro primário. Não teria que voltar. Considero isso uma atuação grave. Ela não poderia ter voltado. Mesmo como exigência do seqüestrador. O negociador poderia ter dito que menina foi para hospital, estava em estado de choque, tinha saído do país, qualquer coisa", disse a promotora.
Na noite de ontem, Lindemberg foi transferido para a penitenciária 2 de Tremembé (138 km distante de São Paulo).