Uma operação desencadeada nesta quarta-feira (29) pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná (MP-PR), investiga existência de organização criminosa no transporte coletivo no interior do estado. Embora o alvo da operação seja o transporte coletivo de Guarapuava e Maringá, houve prisões de pessoas ligadas ao sistema de ônibus de Curitiba e Região Metropolitana. Além disso, as empresas investigadas no interior têm proprietários que também são donos de concessionárias do transporte coletivo da capital.
“A operação também se desdobra para outros estados”, afirma o coordenador estadual do Gaeco, Leonir Battisti. Segundo ele, a operação, batizada de Riquixá, é realizada em parceria com o Grupo Especializado na Proteção do Patrimônio Público e no Combate à Improbidade Administrativa (Gepatria) de Guarapuava.
Ex-prefeitos de Foz e Guarapuava são alvos da Operação Riquixá
Leia a matéria completaAs investigações referem-se a fraudes cometidas nas cidades de Guarapuava, Maringá e Brasília. Alguns dos alvos da operação são pessoas que atuam nas empresas da família Gulin, que controla parte do transporte coletivo em Curitiba e também nestas cidades investigadas. Segundo Battisti, dois grupos estavam envolvidos no esquema. “Os grupos Constantino e Gulin se beneficiavam desse sistema”, afirma. Foram detidos preventivamente, sem prazo para soltura, o advogado Sacha Reck, o pai dele, Garrone Reck, Alex Reck, irmão de Sacha; e os advogados Antonio Carlos Marchetti e André Vinicius Marchetti e Fábio Miguel. Sacha Reck é advogado do Sindicato da Empresas de ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp). Garrone foi diretor de operações da Urbs na gestão de Roberto Requião (1986-1989) e diretor de transportes da Coordenação Metropolitana (1991-1994) na primeira passagem do atual senador no governo do estado.
Em janeiro deste ano o Gaeco do Paraná, em parceria com o MP-DF, já havia cumprido mandados de busca e apreensão no escritório do advogado e na garagem de uma das empresas do grupo Gulin. Na ocasião o promotor Rodrigo de Araujo Bezerra disse que havia um “elo formal” entre Sacha Reck e a Auto Viação Marechal.
A maior parte (68,7%) das empresas de transporte de coletivo de Curitiba e controlada por empresas da família Gulin. O percentual foi levantado pela CPI do Transporte Coletivo de Curitiba em 2013. À época, o Setransp desqualificou o levantamento e disse que o fato de haver sócios com sobrenome em comum não indica que se tratam das mesmas empresas.
Entre os delitos investigados estão suspeitas de corrupção, fraudes em licitação e crimes contra a ordem econômica. A operação acontece em Guarapuava, Foz do Iguaçu, Maringá, Ponta Grossa e Curitiba e também em cidades de Santa Catarina e São Paulo e também no Distrito Federal, com apoio do Gaeco desses locais.
Riquixá
O nome escolhido para a operação policial remete a uma espécie de carroça de tração humana, muito comum na Ásia, especialmente na Índia e o no Japão. O meio de transporte é puxado por humano para carregar outro – por muito tempo foi símbolo da elite.
Foram cumpridos, ao todo, seis mandados de prisão, 53 de busca e apreensão em empresas e residências e 29 de condução coercitiva (quando a pessoa é conduzida obrigatoriamente para ser ouvida) em diversas cidades, expedidos pelo Juízo da 1.ª Vara Criminal de Guarapuava. Alguns dos cumprimentos dos mandados ocorrem, inclusive, na capital paranaense. “São pessoas investigadas que residem na capital, mas a operação não se refere ao transporte público de Curitiba”, ressalta o coordenador estadual do Gaeco, Leonir Battisti.
Entenda o caso
As investigações, iniciadas em 2013, indicam que integrantes de empresa de engenharia especializada em transporte coletivo, advogados e representantes de empresas de ônibus formam o grupo criminoso, que utiliza “laranjas” e formações societárias no intuito de ocultar a existência do grupo econômico.
De acordo com o Gaeco, indícios apontam que a organização criminosa age pelo menos desde 2009, cooptando agentes públicos para a prática dos crimes. Com a participação dessas pessoas, o grupo obtém meios de remunerar ilicitamente, com dinheiro público, a organização das fraudes concorrenciais, contratando componentes do grupo criminoso para prestar assessorias simuladas ou substituir comissões de licitação. “Os criminosos se alinhavam com servidores públicos para conduzir as licitações”, exemplifica Battisti.
Em Guarapuava, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) já havia ajuizado três ações em função da suspeita de favorecimento entre as empresas.
Outro lado
A reportagem tentou contato com as famílias Gulin e Reck, mas não houve retorno para as ligações. Não foram encontrados representantes do grupo Constantino.
Colaborou Katia Brembatti
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