A Assembleia Legislativa do Paraná deve analisar, na segunda-feira (2), um requerimento de autoria do deputado Felipe Francischini, que quer convocar autoridades de segurança pública do estado para serem ouvidas sobre o “recall” de 11,2 mil coletes balísticos da polícia. O procedimento que reforçou o equipamento está sob investigação. Há indícios de que coletes vencidos foram recauchutados e dúvidas quanto à eficácia do material.
Sete mil policiais do Paraná usam coletes que passaram por “recall” com suspeita de irregularidade
Leia a matéria completaO requerimento foi apresentado na sessão de quarta-feira (28), mas não foi votado porque o deputado Luiz Claudio Romanelli (PMDB) pediu vistas. Na propositura, Francischini propõe a realização de uma audiência pública no âmbito da comissão de segurança da Assembleia. O parlamentar quer convocar representantes do Exército, do comando da Polícia Militar (PM), da Polícia Civil, da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e da Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (Deam), unidade responsável pelas investigações.
Nos bastidores, mesmo deputados governistas dão como certa a convocação da cúpula da segurança para a audiência. A expectativa de Francischini é de que a data da audiência seja definida já na terça-feira (3) e que o encontro seja uma forma de jogar luzes sobre o processo pelos quais os coletes passaram.
“É um debate que não foi feito e que exige um esclarecimento de todas as partes, porque é uma questão muito grave. Precisamos tratar disso com a maior sensibilidade possível”, disse o deputado. “Se averiguarmos que há algo mais grave, é cabível até mesmo a criação de uma comissão especial de investigação”, completou.
Chefe da Deam e responsável pelas investigações, o delegado Vinícius Borges Martins viu com bons olhos a possibilidade de o tema ser debatido na Assembleia. Desde que o caso de tornou público, ele não tem concedido entrevistas e as informações sobre as apurações foram centralizadas no Departamento da Polícia Civil.
“Eu aguardo com ansiedade, porque nesta audiência teremos a oportunidade de deixar tudo claro, límpido e transparente. É uma oportunidade de esclarecer os fatos e afastar o que é mera conjectura”, disse.
O caso
O “recall” dos coletes balísticos das forças de segurança do Paraná veio à tona no dia 31 de março, quando uma operação conjunta do Exército e da Deam chegou a um barracão de uma empresa na região metropolitana. No local, foram apreendidos cerca de 540 coletes, que estavam sendo recondicionados no galpão. Parte do material estava vencida e outra parte, em vias de vencer. O equipamento ganhava uma manta extra de aramida – material sintético usado neste tipo de item de segurança – e tinha a etiqueta de identificação substituída, de modo a ter a validade acrescida em um ano.
Segundo as investigações, mais de 7,4 mil coletes já passaram pelo “recall” e foram devolvidos aos policiais. No total, 11,2 mil unidades seriam recondicionadas por meio do procedimento.
Testes balísticos realizados pela Deam haviam reprovado amostras do material apreendido. Os coletes chegaram a ser perfurados por disparados de calibres a que deveriam resistir ou provocaram traumas incompatíveis com especificações técnicas.
Antes disso, testes da própria PM haviam levantado suspeitas quanto à eficácia do equipamento. Essa desconfiança que motivou a definição pelo “recall”, que foi autorizado pela Secretaria de Segurança Pública (Sesp).
Para a polícia, o “recall” infringe a portaria nº 18/06 do Exército, que regulamenta os produtos de uso controlado. A norma explicita que a validade dos coletes é improrrogável e que os materiais vencidos devem ser destruídos.
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