Foram poucos minutos de espera na fila na tarde de sábado (5) depois de uma semana de tensão, mas o resultado compensou para o casal Suziane e Lázaro dos Santos. Inscritos no mutirão de diagnóstico de bebês, em Salvador, os dois ficaram aliviados após saberem que a filha, um bebê de quatro meses, não tem microcefalia.
Eles e outro grupo pessoas levaram os filhos para fazer exames ultrassonográficos na Escola de Imagem Caliper. Lá, os diagnósticos foram acompanhados por especialistas.
“Tive o vírus zika no oitavo mês de gestação e, claro, estou preocupada”, disse Suziane à reportagem enquanto estava na fila.
A boa notícia foi dada pelo médico e professor Kleber Pimentel, especialista em ultrassonografia geral.
Cercado por um grupo de médicos que buscam especialização, Pimentel explicava os procedimentos às mães e aos profissionais enquanto lia os sinais da ultrassonografia.
“É bom que se diga que o tamanho do perímetro do crânio, agora definido em 32 cm pelo Ministério da Saúde, é um critério de rastreamento de microcefalia. Às vezes acontece de o bebê ter um tamanho menor e, contudo, isto estar de acordo com sua menor constituição física e sem nenhuma lesão cerebral”, explica Pimentel.
Associada a mães que tiveram zika durante a gravidez, a microcefalia se caracteriza pela má formação do perímetro cefálico dos bebês. A doença vive um surto no país, com o registro de 1.248 casos em crianças de 13 Estados, a maioria do Nordeste -Pernambuco lidera, com 646 registros.
“Este é um exame bem específico na área de ultrassonografia. A microcefalia é, em geral, consequência de alguma lesão cerebral como calcificação, lisencefalia [cérebro liso], ou outras, que, pelo exame, podemos passar a avaliar e que podem causar retardo mental, dificuldade de aprendizado, problemas motores ou surdez, por exemplo”, conta o médico.
Apesar do exemplo do bebê de Suziane, o médico Manoel Sarlon, especialista em medicina fetal e diretor da Escola Caliper, não vê razão para minimizar a atenção com relação ao aumento de casos de microcefalia e sua relação com o vírus zika.
“No ano passado, foram 147 casos de microcefalia notificados no país. Este ano já passam de 1.200 até aqui. E o que já está claro é a relação do aumento de quadros [de microcefalia] com o histórico de infecção de zika pela mãe”, diz Sarlon.
Esperança
Outra das mães que foram ao mutirão, a comerciante Suzana Ribeiro contraiu o vírus zika aos três meses de gestação. No oitavo mês de gravidez, já tinha o diagnóstico de microcefalia em sua bebê, agora com dois meses de idade.
“No começo foi uma aflição, era assustador. Sabíamos que a Laurinha poderia não sobreviver. Ela chegou a ficar um mês internada quando nasceu. Mas ela está agora reagindo”, diz.
Por conta do diagnóstico, ela deixou o trabalho para apenas cuidar da filha. “Estamos correndo atrás para que ela tenha o melhor tratamento possível”, afirma.
Zika e microcefalia
A relação entre a infecção pelo vírus zika e o surto de casos de microcefalia no Nordeste foi declarada pelo Ministério da Saúde no último dia 28 de novembro.
Segundo o órgão, a confirmação foi possível a partir da identificação da presença do vírus em amostras de sangue e tecidos de um recém-nascido que veio a óbito no Ceará.
Na nota divulgada a imprensa o, órgão diz que “essa é uma situação inédita na pesquisa científica mundial. As investigações sobre o tema devem continuar para esclarecer questões como: a transmissão desse agente; a sua atuação no organismo humano; a infecção do feto e período de maior vulnerabilidade para a gestante. Em análise inicial, o risco está associado aos primeiros três meses de gravidez”.
O aumento dos registros de microcefalia preocupam não apenas pela perspectiva dos possíveis agentes causadores, como é a relação do vírus zika (transmitido pelo mosquito Aedes aegypti) ou outras doenças, como toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus (da família do herpesvírus), como também pelo impacto na saúde.
“Não só estamos aqui para produzir dados, que serão repassados ao Ministério da Saúde, de possíveis novas notificações ou das relações de microcefalia e outras doenças”, diz Marcela Almeida, sanitarista da Secretaria Municipal de Saúde presente durante o mutirão.
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