Ponta Grossa - Quando chove além do normal e os rios enchem, expulsando moradores das casas e levando toda espécie de entulho para o leito, o meio ambiente também sofre. Assoreamento, erosões e quedas de árvores são os tipos mais comuns de prejuízo. Segundo a coordenação estadual da Defesa Civil, o impacto ainda é subdimensionado pelas prefeituras, que deixam os reparos ambientais para segundo plano. A lenta recuperação atrapalha a volta à normalidade.
Das 33 cidades que tiveram problemas com o excesso de chuvas entre janeiro e fevereiro no Norte Pioneiro e na região metropolitana de Curitiba, 15 estão em situação de emergência decretada pelos prefeitos. Em Sengés, os comerciantes que tiveram os pontos comerciais invadidos pela cheia do Rio Jaguaricatu limparam o que conseguiram para promover liquidações ou fazer doações aos desabrigados. Em São José da Boa Vista, as estradas estão sendo recuperadas e os moradores fizeram a limpeza das ruas tomadas pelos entulhos trazidos pelos rios Pescaria e Bengalinha. Mas a natureza ainda se recupera. "Quanto custa para o meio ambiente a queda de uma árvore?", exemplifica o responsável pela coordenação estadual da Defesa Civil, tenente Eduardo Pinheiro.
Um dos itens para decretação de situação de emergência por parte da Defesa Civil é o dano ambiental. Segundo Pinheiro, os laudos das prefeituras devem demonstrar até que ponto a água, o ar, a flora e a fauna foram afetados. O impacto, segundo ele, nem sempre é perceptível e precisa de um olhar criterioso do avaliador. "É por isso que precisamos de uma estrutura eficiente da Defesa Civil em todas as prefeituras", comenta.
A água dos rios pode ficar comprometida pelo recebimento de efluentes das indústrias, os solos podem ser contaminados pelos mesmos efluentes ou então pelo aparecimento de erosões, os rios de regiões muito arenosas podem sofrer assoreamento, muitos animais morrem e a queda de árvores pode afetar a sobrevivência de várias aves. Conforme o professor de Ecologia e Conservação do departamento de Biologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Maurício Savi, os danos ocasionados pelos temporais são ampliados devido ao impacto sofrido pelo meio ambiente.
Frágil
Savi comenta que há dois aspectos graves quando o assunto é dano ambiental. O primeiro ocorre na área urbana. "O excesso de prédios não possibilita que a água da chuva possa escoar. As galerias das grandes cidades são das décadas de 60 e 70 e já não são suficientes. Nós vamos ter de rever o tipo de pavimento para conseguir soluções que permitam a drenagem", explica. O segundo se refere à área rural. "Temos uma cobertura vegetal de 5% porque não se respeita o Código Florestal, que determina uma reserva de 20%. Os limites para as margens dos rios são desrespeitados", completa. Dessa forma, segundo o professor, a cada desastre natural, a natureza se fragiliza ainda mais.