Como o Homem de Lata, do filme O Mágico de Oz, não são poucos os homens, de carne e osso, que sonham em ter um coração. No Brasil, de acordo com dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, até março deste ano eram 262 pessoas. As estatísticas mostram que, para cerca de 40% delas, a morte chegará antes do novo coração. Nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, esse quadro mudou na última década muito devido à popularização dos dispositivos de assistência ventricular (VAD, na sigla em inglês) implantáveis. Usada como um tratamento ponte até o transplante e, em alguns casos, como tratamento fim, a técnica ainda é rara no Brasil por causa do preço. A situação deve mudar a partir do ano que vem, com a entrada de um VAD nacional no mercado brasileiro.
Melhora a qualidade de vida do paciente e aumenta a sobrevida. Ele pode sair do hospital e voltar à atividade cotidiana.
Desenvolvido pela empresa StudHeart, o dispositivo já passou pela fase de testes in vitro e em animais com sucesso. Agora, de acordo com os desenvolvedores do sistema, estão sendo compilados documentos que serão enviados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a liberação dos estudos clínicos, em humanos. Segundo o criador do sistema, o italiano Alessandro Verôna, já foi confeccionado um lote de 50 bombas para essa fase de avaliação. Os estudos serão feitos em pacientes do Incor de São Paulo e do Hospital do Coração de Messejana (CE), que também é referência no tratamento de doenças cardíacas.
Sem um fabricante no Brasil, o custo médio de um VAD implantável – que pode ser usado fora do ambiente hospitalar – é de R$ 500 mil. Por enquanto, os fabricantes evitam falar no valor que o sistema será vendido. Mas, afirmam que ficará por menos da metade do praticado atualmente. “Ainda não estamos falando em números, mas a ideia é que seja bem acessível. A intenção é que ele seja adotado pelo SUS”, comenta o médico cardiologista Flávio Studart, que também faz parte da equipe de desenvolvimento do VAD nacional.
Flávio explica que, além de servir como uma ponte até o transplante, em alguns casos o VAD também é usado como uma terapia fim. Isso ocorre em situações em que o paciente sofre de insuficiência cardíaca severa, mas o transplante não é recomendado devido a outros problemas de saúde. Esse é o caso, normalmente, dos mais idosos. Estudos de fora do país indicam que, apesar de eficaz como tratamento para pessoas em estágio final e insuficiência cardíaca, o futuro da tecnologia deve ser justamente como um apoio a longo prazo.
Normalidade
A vantagem desse sistema é que ele possibilita que a vida siga quase dentro da normalidade para o doente. O acompanhamento médico constante e o uso de medicamentos – como anticoagulantes, para evitar o risco de trombose, e antibióticos, por causa da possibilidade de infecções– continua a ser necessário. E, apesar de implantado no peito, o dispositivo também possui uma parte extracorpórea. São duas baterias de lítio de um sistema de controle, que devem ser carregados junto ao corpo todo o tempo.
De qualquer forma, as experiências de fora do Brasil mostram que há um ganho de qualidade – e tempo – de vida para os precisam de um transplante de coração. “Você melhora a qualidade de vida do paciente e aumenta a sobrevida. Além disso, ele pode ficar fora do hospital e voltar às suas atividades cotidianas”, defende Flávio.