Tão importante quanto prestar assistência médica a quem tem a doença é propiciar um ambiente acolhedor para doentes e familiares. Essa é a filosofia de grupos como a Pastoral da Aids de Paranaguá, há cinco anos em atividade e que hoje atende mais de cem pessoas, entre portadores e parentes. "Quando a pessoa descobre que está com o vírus, ela precisa muito da família. Por isso, convidamos todos a vir até aqui e falamos da importância desse apoio", conta a coordenadora Sueli Ferreira.
A discriminação é o maior desafio. "O preconceito dificulta a prevenção, pois a pessoa acha que isso nunca vai acontecer com ela e acaba passando o vírus para frente", comenta a ativista Isabel de Freitas. Ex-garota de programa, ela relata um episódio que ilustra bem essa situação. "Meus vizinhos sabiam que eu tinha o vírus e me isolavam. Um dia um cachorro me mordeu e eles queriam matá-lo com medo de que ele contaminasse outras pessoas pela mordida. O pessoal da saúde precisou fazer uma palestra no bairro para acalmá-los."
O grupo também luta pela construção de uma casa de apoio ao portador. Hoje não há um local onde os pacientes de outras cidades possam fazer as refeições ou descansar durante a estada em Paranaguá. "Muitos vêm cedinho de cidades vizinhas e têm de esperar a consulta na rua, sem nada no estômago", lamenta a voluntária Elaine Gonçalves.
Vírus mutante
Numa região portuária, onde há circulação de pessoas do mundo todo, abrir mão de um comportamento seguro pode ser ainda mais arriscado. Isso porque a mistura de um vírus típico da população local com o de pessoas de outros países pode gerar mutações que tornem ainda mais difícil a criação de uma vacina anti-HIV específica para aquele país. "O que se notou ao realizar a genotipagem do vírus é que o nosso país, no início da epidemia, possuía um vírus do tipo B, mas que, ao longo dos anos, começou a aparecer por aqui o tipo C", afirma a pesquisadora Fabiana Trevisol. "A circulação de pessoas propiciada pelos portos foi decisiva para a mutação."
Por isso, a articulação das autoridades portuárias é fundamental para erradicar esse problema, garante Fabiana. Algumas das medidas de prevenção sugeridas por ela às empresas e governos são a realização de palestras e distribuição de panfletos em inglês aos marinheiros sobre a importância da camisinha e seringas pessoais.
Prostituição a R$ 1,99
Apontadas como as principais disseminadoras do vírus entre a população, as garotas de programa de áreas ao redor do porto negam a responsabilidade. "A maioria se recusa a fazer sexo sem camisinha", garante a gerente de uma boate, Kalinka Francisca. Segundo ela, as meninas de R$ 1,99 são as principais disseminadoras. "Essas não são profissionais, e se vendem por qualquer tostão para comprar droga, sem se preocupar com aids", opina. E emenda: "Nunca enterrei nenhuma menina minha vítima de aids". (VP)
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