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O Governo do Pará mandou, nesta segunda-feira (20), policiais civis e militares para a região onde integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e seguranças de uma fazenda entraram em confronto armado há dois dias. Sete sem-terra e um vigilante ficaram feridos no tiroteio.

O confronto começou quando os sem-terra decidiram seguir para a sede da Fazenda Espírito Santo. O grupo arrombou a porteira e atacou um carro. Em seguida, começou o tiroteio. Integrantes do MST ocupam a fazenda em Xinguara (PA) desde fevereiro. A área pertence à agropecuária Santa Bárbara, que tem como um dos sócios o banqueiro Daniel Dantas.

Segundo os sem-terra, o ataque foi uma tentativa de libertar um companheiro que teria sido feito refém pelos seguranças. Os seguranças, no entanto, negaram ter feito algum sem-terra refém. O grupo avançou e o que se viu a seguir foram dez minutos de uma intensa troca de tiros.

Os repórteres Victor Haor e Felipe Almeida, da TV Liberal, afiliada da Rede Globo no Pará, estavam na propriedade. "O objetivo de qualquer repórter cinematográfico que tem no sangue essa coisa de imagem é registrar. Na minha cabeça não passou medo, eu quero registrar", diz Almeida.

Jornalistas e funcionários da fazenda ficaram impedidos de sair da propriedade porque a entrada estava bloqueada pelos sem-terra. Eles contaram ainda que antes do conflito foram usados como escudos humanos pelos integrantes do MST. O movimento nega.

A advogada da fazenda informou que a reintegração de posse da propriedade já foi determinada pela Justiça, mas que nada foi feito. Para a federação que reúne os fazendeiros do Pará, o não cumprimento das ordens judiciais estimula a violência.

O secretário de Segurança Pública afirmou que o estado está desocupando as fazendas invadidas, mas reconheceu que falta pessoal para atuar nos conflitos agrários. "Não podemos atuar neste tipo de conflito com a polícia com armamento letal e hoje infelizmente apenas Belém temos polícia especializada nesse tipo de ação", diz Geraldo Araújo.

O secretário descartou fazer uma operação na fazenda em busca de armas. Ele acredita que elas já não estejam mais estar na propriedade. Policiais civis e militares foram enviados para Xinguara para tentar evitar novos confrontos. Um inquérito foi aberto para identificar e responsabilizar quem participou do tiroteio. A polícia deve apurar crimes como porte ilegal de arma, formação de quadrilha e tentativa de homicídio.

Um dos sem-terra feridos levou quatro tiros e está internado em estado grave. Em nota, o MST do Pará declarou que os agricultores sem-terra foram vítimas da violência dos seguranças da fazenda e negou que tenha usado os jornalistas como escudo humano.

Repercussão

O tiroteio no Pará provocou reações do Governo Federal e de entidades da sociedade civil. A violência das imagens surpreendeu quem media conflitos de terra há dez anos. No mês passado, o ouvidor agrário nacional chegou a se reunir com representantes dos sem-terra e da Fazenda Espírito Santo para tentar um acordo, que não saiu, mas ele não esperava que a situação chegasse a esse ponto.

A Ouvidoria Agrária Nacional vai continuar acompanhando as negociações e a investigação do caso. A situação do Pará e de outros estados onde há invasões de terra vai ser discutida por juízes de todo país, representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e de entidades ligadas à questões agrárias. O Conselho Nacional de Justiça marcou para maio um fórum de debates. A Ordem dos Advogados do Brasil fez críticas ao governo do estado.

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