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Entrevista

“Após um estudo desses, espera-se que algo seja feito pelos políticos”

O novo relatório do IPCC foi recebido pelo coordenador geral do Observatório do Clima do Brasil, André Ferretti, como um aviso de que os políticos precisam avançar rapidamente para um acordo global que reduza as emissões. Na entrevista a seguir, ele explica as consequências do aquecimento e que ainda pode ser feito.

O aumento da temperatura já provoca efeitos para a população?

O rápido aumento da temperatura já faz com que a população sofra as consequências e a tendência pelos estudos é que o cenário piore. Em 2004, aconteceu o ciclone extratropical em Santa Catarina, por exemplo. Esses fenômenos são naturais, não dá para afirmar que tudo é consequência do clima. Porém, esse tipo de fenômeno que era raro passa a ser frequente. Eventos antes atípicos passam a ser recorrentes.

Para a realidade mudar, a solução seria um acordo global para a redução dos poluentes?

Há chance de termos um acordo global para redução de emissão de poluentes em 2015. Porém, política não é uma ciência exata. O IPCC é um relatório que deveria orientar os países. Esse relatório é um começo das expectativas das ações que se gerem a partir dele. Em 1997, houve a proposta do Protocolo de Kyoto, porém os Estados Unidos não aceitaram. Mas quando um estudo dessas proporções é divulgado espera-se que algo seja feito pelos políticos. Os Estados Unidos, reticentes quanto ao protocolo, já deram sinal de que assinariam um acordo se ele fosse realmente global.

Como o Brasil sente o impacto da elevação da temperatura?

No Brasil, devemos ter, por exemplo, maior índice de chuva nos próximos anos nas regiões Sul e Sudeste. Isso deve servir como alerta para que sejam tomadas ações preventivas. Esse fenômeno é consequência das emissões globais de poluentes e também da influência do clima sul-americano. Mesmo que se parasse a emissão de carbono hoje, essa realidade deve acontecer. Por isso, são necessárias políticas públicas para evitar qualquer tragédia. Devem-se retirar famílias de área de risco e ter um melhor sistema de drenagem, por exemplo.

Mas só um acordo global é capaz de reduzir a emissão de poluentes?

Não podemos esperar o acordo global que deverá ser assinado somente em 2015. Precisamos de ações por parte do Estado para não deixar que as pessoas sofram as consequências do maior índice de chuvas na Região Sul do Brasil, por exemplo. Precisamos aplicar esse conhecimento que o estudo do IPCC ofereceu para a tomada de decisões. Os países também precisam se conscientizar da necessidade de, mesmo antes do acordo, reduzir a emissão de poluentes.

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