Restam apenas cinco áreas ou 102 mil metros quadrados da Cohab em Curitiba. Localizadas nos bairros Tatuquara e Parolin, elas comportam 600 novas residências, número bem aquém do necessário: são 54 mil famílias em ocupações irregulares e 65 mil na fila na capital do estado. A compra de outras áreas e a formação de um novo estoque são descartadas pelo presidente do órgão, João Elias de Oliveira, por dois motivos: o preço alto os terrenos da cidade valorizaram 133,03% de 2007 para cá, segundo o Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR) e a implementação do Minha Casa, Minha Vida, em que a compra da área fica a cargo do empreendedor. O problema é que mesmo dentro do programa habitacional do governo federal o preço da terra também tem dificultado o trabalho das construtoras na faixa de zero a três salários mínimos (R$ 1.530), justamente a maioria das famílias sem moradia digna.O presidente da Cohab Curitiba explica que as áreas restantes serão priorizadas para famílias com essa renda e que vivem em situação de risco, em beiras de rios e fundos de vale. Nas ocupações irregulares, elas representam 81% da demanda e na fila de espera, 65%. Dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, a alternativa encontrada tem sido mesclar faixas de atendimento em um mesmo empreendimento. "Dentro do projeto de uma construtora para famílias de três a seis salários mínimos também são incluídas unidades de zero a três", diz Oliveira.
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR), Hamilton Pinheiro Franck, essa mescla ajuda a diluir o custo final do imóvel e a viabilizar a construção. Ele explica que na faixa de zero a três salários mínimos o preço final determinado para a Região Sul do país, de R$ 38 mil, fica difícil de ser obtido com a valorização crescente dos terrenos. "No caso da habitação vertical é mais viável porque os apartamentos têm um valor final maior, de R$ 45 mil. Esses R$ 7 mil fazem uma diferença grande na hora de encaixar o custo do terreno no preço final do imóvel." Ele diz que essa questão foi levantada há poucos meses em um encontro em São Paulo, com a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Ministério das Cidades, e deve ser revista no ano que vem "mas depende do novo presidente e dos novos ministros".
O engenheiro civil e sócio-proprietário da construtora FMM, Fernando Mehl Mathias, atuante no mercado de habitação popular há 23 anos, no Paraná e em outros estados, diz que mesmo no caso dos apartamentos a execução de obras na faixa de zero a seis salários mínimos está muito difícil. "Consegui fazer obras nessa faixa na capital há cerca de dois anos porque ocorreram em áreas que já me pertenciam e no Minha Casa, Minha Vida só consegui aprovar os projetos que usaram áreas que eram da Cohab. Hoje os projetos nessa faixa de renda em que eu tenha de adquirir a área e manter os preços finais conforme estipulado pelo programa são impossíveis em Curitiba." Fernando sugere uma intervenção governamental no zoneamento da cidade que destine, efetivamente, algumas áreas para a habitação popular como uma das soluções à especulação imobiliária crescente.
Balanço
De acordo com a CEF, há, atualmente, 44.346 unidades residenciais contratadas pelo Minha Casa, Minha Vida no Paraná a meta era 44.172 e 11.109 em Curitiba a meta é 12.018. A maior parte é para famílias que ganham de três a dez salários mínimos: 8.352. Para as que ganham até três são 2.775 unidades contratadas, destas 1.718 passaram pela Cohab Curitiba (1.232 apartamentos e 486 casas), com algumas vantagens, como isenção de impostos, incentivos construtivos (ampliação de área e número de pavimentos), trâmite mais ágil para aprovação de projetos e dispensa de gastos com comercialização, já que os compradores saem, organizados, da fila do órgão. Algumas dessas vantagens também ocorrem para a faixa de três a seis salários, da qual a Cohab participa em 3.930 unidades.
Sonho realizado
É nessas obras, apartamentos com previsão de conclusão em janeiro e dezembro do ano que vem, que o vigilante César Eduardo Gross, de 27 anos, colocou as esperanças da casa própria. É só o que falta para ele e a namorada Vanessa Cristina dos Santos, de 25 anos, casarem. "Hoje moro com os meus pais e minha irmã mais nova. Com o apartamento já podemos pensar em casamento." Ele conta que pela Cohab Curitiba, o imóvel, que tem perto de 50 metros quadrados, dois quartos e uma garagem, saiu por R$ 60 mil, com subsídio de R$ 11 mil. "Tinha também R$ 9 mil de fundo de garantia, o que fez com que o financiamento mesmo ficasse em cima de R$ 40 mil. Se fosse comprar um imóvel nesse padrão fora do Minha Casa, Minha Vida teria de desembolsar entre R$ 80 mil e R$ 90 mil."
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