A Secretaria Municipal do Meio Ambiente realiza um trabalho preventivo, que reduz em até 80% as quedas. Mas as ações não atingem ainda toda a cidade e situações como a registrada no Cabral, na segunda-feira, são comuns| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Desde o início do verão e das chuvas características da estação, caíram 178 árvores em Curitiba, devido ao peso da água acumulada nas folhagens, ao encharcamento do solo e aos ventos – 35 só nos temporais do fim de semana passado. Parte desses incidentes poderia ser evitada. A idade avançada, doenças que acometem os tecidos da planta e a localização inadequada aumentam os riscos de quedas. A prefeitura da capital desenvolve um trabalho preventivo, mas as ações não cobrem toda a cidade.

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A ampliação desse trabalho pode reduzir, e muito, os números de quedas. Isso porque há uma relação direta entre a sanidade, a senilidade e o manejo da vegetação e o número de quedas, explica o engenheiro florestal Renato Bochicchio, professor de Gestão Ambiental da Universidade Fe­­deral do Paraná (UFPR). "Mesmo os temporais que temos por aqui, com ventos fortes, dificilmente derrubariam uma árvore jovem, saudável e bem cuidada. Uma tempestade que pusesse ao chão uma planta nessas condições colocaria a cidade em estado de calamidade pública", diz.

A maior parte da arborização urbana da capital data da segunda metade da década de 70. Como muitas espécies têm uma longevidade de 40 anos, elas já estariam atingindo a senilidade, calcula o agrônomo da Embrapa Florestas João Pereira Fowler. "O ideal seria que essas plantas fossem derrubadas quando completassem 75% de sua longevidade média, porque as árvores costumam viver menos na área urbana", alerta.

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Doenças causadas por fungos e outros parasitas também fragilizam as plantas. A localização pode ser outro complicador. Se não houver espaço para as raízes crescerem abaixo do solo – por plantio raso ou bloqueios como galerias pluviais –, o equilíbrio da vegetação fica comprometido. O mesmo acontece quando ela não cresce verticalmente devido a obstáculos. A situação é frequente em árvores de grande porte, com mais de oito metros. "Temos árvores com mais de 20 metros, que deveriam ser derrubadas e trocadas por outras com até cinco", aconselha Fowler.

Mas essas situações só são detectadas quando há monitoramento constante da arborização. Desde 2005, a SMMA está mapeando as 300 mil árvores da cidade para elaborar um Plano Diretor de Arborização Urbana. Dez bairros estão trabalhando de acordo com planos técnicos e outros 13 foram mapeados. No entanto, trata-se de um projeto a longo prazo, explica o diretor de Produção Vegetal do órgão, Edélsio Marques dos Reis. "Conseguimos fazer 94 mil plantas em cinco anos e estamos a dois terços do fim. Dez anos é uma estimativa plausível", calcula.

Nos bairros em que o plano está sendo cumprido – nas regiões central, norte e oeste da cidade –, a queda de árvores diminuiu em média 80%, estima Reis. "De fato, espécies como o cinamomo e o ácer estavam no limite de sua longevidade, de no máximo 30 anos, e foram substituídas por ipês, entre outras. Mas elas não representam mais que 5% da flora total", pondera.

Responsabilidade

Para o o arquiteto e inspetor do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) do Paraná, Ricardo Mesquita, esse trabalho não é suficiente. Ele defende a realização de um plano emergencial intensivo para a retirada de árvores que apresentem risco e a atribuição de responsabilidades.

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"O engenheiro que plantou uma árvore assumiu responsabilidade técnica por ela. Só que isso aconteceu décadas atrás e, nesse meio tempo, engenheiros da prefeitura deveriam ter assumido o risco da permanência, ou não, dessa árvore", defende.