Uma pesquisa divulgada no início deste mês no encontro anual da Academia Americana de Neurologia (AAN), em Vancouver, no Canadá, conseguiu relacionar a intensidade das luzes urbanas às dificuldades para dormir.
“Nosso mundo tornou-se uma sociedade 24/7 [abreviação para 24 horas por dia, 7 dias por semana]. Nós usamos as luzes externas, como as urbanas, para sermos mais ativos e aumentarmos a nossa segurança. O que preocupa é que, com isso, nós reduzimos nossa exposição ao escuro e isso poderia estar afetando diretamente o nosso sono”, alertou Maurice Ohayon, coordenador do estudo do Centro de Distúrbios do Sono da Universidade de Stanford, no Canadá. As informações são da AAN.
Entenda
A influência da luz do dia no nosso organismo é algo que caminha com descobertas bastante recentes, confirmadas em pesquisas nos anos 1990. Foi quando se identificou um receptor ligado à retina, chamado melanopsina, que tem como função identificar a luz do dia e informar/acionar o corpo sobre suas funcionalidades, seu relógio biológico.
Todo esse mecanismo levou o nome de ciclo circadiano e é alvo de boa parte das pesquisas neurológicas e ligadas aos distúrbios do sono e outras doenças realizadas atualmente.
Em mais de oito anos, a pesquisa ouviu mais de 15,8 mil pessoas pelo telefone. Elas foram questionadas sobre hábitos e qualidade do sono assim como sobre desordens médicas e psiquiátricas. Essas informações foram cruzadas, então, com dados do Programa de Defesa Meteorológica por Satélite dos EUA, para medir o quanto, efetivamente, expostas às luzes externas essas pessoas estavam.
Conclusão: moradores de áreas urbanas com 500 mil habitantes ou mais estão 3 a 6 vezes mais expostos aos efeitos das luzes das ruas que os moradores de cidades pequenas e, por consequência, estariam bem mais suscetíveis a desenvolver distúrbios de sono. Outra comparação: entre os moradores das áreas mais iluminadas, 29% estão insatisfeitos com o sono, enquanto que entre os moradores de áreas menos iluminadas a insatisfação com o sono chega a 16% deles.
Ohayon alertou que se mais estudos comprovarem a relação entre a intensidade das luzes urbanas e os distúrbios de sono, as pessoas, mesmo aquelas que ainda não possuem qualquer dificuldade para dormir, terão de considerar, como parte de seu cotidiano, soluções como quartos mais escuros, máscaras e outros artifícios que as ajudem a descansar mesmo nas grandes cidades.
A restrição de sono têm sido associada a problemas graves de saúde, como obesidade depressão e diabetes tipo 2. Nesse sentido, além da intensidade das luzes urbanas, o ruído e o uso cada vez maior de equipamentos tecnológicos também estariam contribuindo para que os moradores das grandes cidades tenham mais dificuldades de ter uma boa noite de sono.
No Brasil
Uma outra pesquisa publicada em setembro de 2015, com uma população bem particular, também ajuda a entender a relação entre a luz artificial e o sono para além das grandes cidades. O estudo feito por cientistas da USP, UFAC, Unisantos, além das universidades de Surrey (Reino Unido) e de Estocolmo (Suécia), envolveu 700 seringueiros da Amazônia. Aqueles com luz elétrica em casa dormiam significativamente menos nos dias de trabalho do que aqueles sem eletricidade – 30 minutos menos por dia, o que equivale a uma perda de sono de 2,5 horas por semana.
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