Duas crianças do 4.º ano desaparecem na manhã do dia 24 de março da escola municipal Deputado Mario Braga Ramos, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais. A diretora da instituição chama então a mãe dos meninos para comunicar o ocorrido. O que ninguém esperava era que ao chegar à sala da direção, a mãe de um dos garotos puxaria uma faca da bolsa e ameaçaria a diretora: “se o meu piá não aparecer hoje, eu juro que te mato”, gritou. Toda a cena foi registrada em um vídeo feito por funcionários da escola. Felizmente, a diretora não foi ferida e os dois meninos foram encontrados ilesos e brincando no fim do dia. A mãe chegou a ser presa pela polícia por ameaça e foi libertada no dia seguinte.
Podemos falar genericamente de um fenômeno de grupo. Os pais estão completamente perdidos. Eles têm muita dificuldade de tolerar a frustração. Então como é que vão colocar limites adequadamente?
Momentos como esse não são a regra nas escolas, mas o episódio é um exemplo da falta de limite de pais e mães no acompanhamento da vida escolar dos filhos. É o que explica a psicóloga Maisa Pannuti, doutora em Educação e professora da Universidade Positivo (UP), em Curitiba. “Isso tem muito a ver com uma tendência de alguns pais de se eximir da responsabilidade de dar limites, de orientar. A grande questão das relações com a escola tem sido a dificuldade dos pais em impor limites aos filhos. Já presenciei uma situação de um pai que chegou à escola e começou a ameaçar uma criança que estaria ‘ameaçando’ o filho dele.”
Tania Marques, professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tem uma opinião parecida sobre a falta de limites. “Podemos falar genericamente de um fenômeno de grupo. Os pais estão completamente perdidos. Eles têm muita dificuldade de tolerar a frustração. Então como é que vão colocar limites adequadamente? Uma coisa que se verifica nos últimos tempos é que não são mais as crianças que têm o adulto como modelo, mas o contrário.”
A psicóloga Aidê Knijnik Wainberg faz um raio-x mais incisivo do atual cenário e o atribui à chamada “ditadura da criança”. “Antes havia uma geração em que nada era permitido, depois veio outra em que tudo é permitido. E, agora, volta a ideia da repressão. Então, os pais ficam atrapalhados. Até os especialistas ficam perdidos. O que vale mesmo? O que vale é o bom senso”, recomenda.
Falta de diálogo
Se o bom senso é o caminho, no entanto, o difícil é encontrar quem seja adepto da prática, como analisa a doutora em psicologia escolar e diretora do Colégio Equipe, de São Paulo, Luciana Fevorini. “Muitas vezes, a escola culpa a família, e a família culpa a escola. Isso é preconceito, não contribui. Escola e família precisam trabalhar juntas. Mas também existem muitos professores desmotivados, e se estão desestimulados, provavelmente sua autoridade vai estar comprometida. Quem só reproduz conteúdo, em geral vai enfrentar problema de autoridade, porque ensinar é quase como um traço autoral.”