Na casa de Rita e Valmir Fernandes Paulino, em Vila Isabel, na zona norte, bonecos dos personagens do filme "Os Incríveis" ainda atravancam os quartos. Seriam usados na decoração da festa de 5 anos de Eduardo, na tarde de sábado (17) A comemoração não ocorreu. O pai do menino, o auxiliar administrativo Leonardo Fernandes Paulino, de 27 anos, foi uma das vítimas da invasão de traficantes no Morro dos Macacos. Morreu ao lado do primos: o técnico de refrigeração Marcelo da Costa Ferreira Gomes, de 26 anos, e o eletricista Francisco Aílton Vieira, de 25.
"Estava chegando do trabalho e deparei com o corpo do meu filho na rua. Balearam ele todo. Tive que carregar o corpo do meu filho", disse, emocionado, Valmir, vigia de condomínio.
Leonardo era nove meses mais velho que Marcelo. A vida deles foi passada em Vila Isabel: nasceram no Hospital Universitário Pedro Ernesto, cursaram o ensino fundamental na Escola Municipal Equador, cresceram juntos no Morro dos Macacos. Aos 11 anos, trabalharam como empacotadores de um hortifruti no bairro.
Adultos, seguiram caminhos profissionais que se aproximavam - Leonardo trabalhava como auxiliar administrativo de um hospital. Marcelo estava prestes a se formar como auxiliar de enfermagem. "Ele começou o curso quando a minha mãe teve diagnosticado o câncer de mama. Ele que a acompanhava ao hospital. Era ele que fazia os curativos", conta a irmã, Suênia.
A mãe de Suênia e Marcelo, Maria Ferreira Gomes, casou-se com José Vieira. Os filhos dele, Francisco Aílton, de 25, e o garçom Francisco Alaílton, de 22, foram morar com o casal. "Os quatro eram inseparáveis. Na sexta-feira, saíram para comemorar o carro que o Léo tinha acabado de comprar", conta a tia, Teresa Ferreira Andrade. Alaílton, que fingiu estar morto ao ser baleado, está internado no Hospital do Andaraí, em estado grave.
Além da dor pela perda dos três jovens, as famílias guardam outras mágoas. Depois de baleados, os rapazes foram saqueados. "Levaram dinheiro, celulares, cartões de crédito, documentos, roupas, sapatos. Do Aílton, levaram até a bermuda", conta Suênia.
Para os parentes, a humilhação maior foi ver o nome dos rapazes entre os criminosos, como chegou a ser divulgado inicialmente pela polícia. "Como podem ter dito uma coisa dessas? Meu filho trabalhava desde os 11 anos", queixa-se Rita.
O padrinho de Marcelo, o restaurador de móveis José Marconi Marques de Andrade, não achou suficiente as desculpas do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. "Não adianta falar só pelos jornais. Ele tem que falar na tevê, pedir desculpas pessoalmente".
Andrade recolheu uma das balas que atingiu seu afilhado. "Infelizmente temos muitas dúvidas que não conseguimos responder porque não houve perícia. O secretário disse que a polícia estava no acesso desde as 20 horas. Foram bandidos ou policiais que atiraram?", indagou. A família está organizando uma missa em memória dos rapazes, mas ainda não marcou o local e horário.
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