Após operação da Polícia Militar no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís (MA), bandidos incendiaram quatro ônibus e atacaram a tiros uma delegacia na capital do estado, na noite de sexta-feira. De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP), a ordem para os ataques partiu de detentos de Pedrinhas contrariados com as medidas de segurança adotadas após o Conselho Nacional de Justiça apontar diversas irregularidades no complexo penitenciário.
Quatro pessoas saíram feridas, todas no ataque ao ônibus na Vila Sarney Filho. A vítima em estado mais grave é uma menina de 6 anos, que teve 90% do corpo queimado. As outras vítimas são a mãe e uma irmã da menina, de 1 ano e 4 meses, e um homem ainda não identificado, que não correm risco de morte. Todos estão internados no Hospital Municipal Clementino Moura (Socorrão 2).
O secretário de Segurança Pública, Aluísio Mendes, informou que o Serviço de Inteligência da SSP descobriu que a ordem para os ataques teria partido de dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas.
- Sabemos quem mandou fazer e quem executou os ataques. É questão de horas prender os executores - disse Aluísio.
O primeiro ataque ocorreu no bairro João Paulo, onde quatro homens interceptaram o veículo, mandaram os passageiros descerem e atearam fogo. Houve atos também em Ilhinha e no Jardim América. O 9º Distrito Policial (São Francisco) também foi alvo dos bandidos, que dispararam tiros contra o prédio. Segundo testemunhas, um grupo parou em frente à delegacia, em um carro branco, e disparou cerca de oito tiros de pistola 9mm.
A secretaria de segurança confirmou a morte de um policial militar reformado ontem à noite, mas ainda não há indícios de que o crime esteja relacionado com os ataques.
Após ataques, motoristas decidiram reduzir circulação de ônibus. O Sindicato dos Rodoviários do Maranhão decidiu, em reunião realizada na manhã deste sábado, que os ônibus só circularão até as 18h, hoje e amanhã, e até às 19h de segunda-feira. A informação foi confirmada pelo assessor jurídico da entidade, José Rodrigues Silva.
De acordo com o sindicalista, não há condições de segurança para os trabalhadores nem para os passageiros em razão dos últimos acontecimentos na cidade. Uma reunião entre diretores do sindicato e a cúpula da Secretaria de Segurança Pública está marcada para terça-feira.
- Na última onda de ataques a ônibus, o secretário disse que a medida adotada (pelo sindicato) de retirar os ônibus das ruas à noite era precipitada, e que nós não vivíamos num estado de violência, nem a área de segurança havia perdido o controle da situação. Infelizmente, o que vemos hoje é que o secretário estava errado - disse José Rodrigues.
O superintendente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de São Luís, Luís Cláudio Siqueira, disse que não havia sido informado sobre a decisão dos trabalhadores. Em outubro, após os motins que resultaram em 15 presos assassinados, ações criminosas idênticas - e supostamente igualmente ordenadas de dentro das prisões - também ocorreram em São Luís, deixando ao menos cinco ônibus queimados e um policial militar morto.
Na quinta-feira, mais dois detentos foram encontrados mortos dentro de celas em Pedrinhas. Josivaldo Pinheiro Lindoso, de 35 anos, foi encontrado na cela 9 com sinas de estrangulamento. Também foi confirmada a morte de Sildener Pinheiro Martins, de 19 anos, conhecido como 'Bolinha'. Ele foi morto no bloco Alfa do Centro de Detenção Provisória (CDP), conhecido como Cadeião. O detento era da sala 6 e foi encontrado morto na sala 13. No ano passado, pelo menos sessenta presos morreram no local.
Após os ataques, o governo do Maranhão divulgou nota em que diz que "trabalha para garantir a segurança e a tranquilidade da população maranhense". E ressalta que "as ações de bandidos são uma tentativa de reação às medidas adotadas, por meio da Polícia Militar, visando disciplinar, organizar e combater a criminalidade nas unidades prisionais da capital". A Polícia Militar reforça desde o último domingo a segurança em Pedrinhas, com intensificação das revistas nas celas; aumento da fiscalização interna com o Batalhão de Choque e da fiscalização externa com rondas.
Desde que começou a crise na Segurança Pública do Maranhão, em outubro do ano passado - com rebeliões, mortes e fugas frequentes nos presídios e recorde de assassinatos em São Luís e região -, a governadora Roseana Sarney (PMDB) não veio a público para comentar a situação.
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