Plenário do Tribunal do Júri esteve lotado durante todo o julgamento| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Tribunal está cheio para acompanhar o julgamento. A maior parte dos presentes é de apoiadores de Beatriz
Ademir Batista Caetano e Maria Ramos Caetano, pais do menino Evandro, acompanham o julgamento
Veja o que aconteceu no caso desde 1992
Conheça os personagens do crime que chocou o país
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Beatriz Cordeiro Abagge foi condenada, neste sábado (28), a 21 anos e quatro meses de prisão pela morte do menino Evandro Ramos Caetano, ocorrida em Guaratuba, Litoral do estado, em 1992. A sentença foi lida pelo juiz Daniel Surdi Avelar, que presidiu a sessão, por volta das 17h15. Por quatro votos a três, os jurados consideraram que ela foi a mandante do crime.

O julgamento, que começou na sexta-feira (27), durou aproximadamente 15 horas. A sentença determinou que a pena seja cumprida em regime semi-aberto. Isso porque ela já cumpriu cinco anos e nove meses de prisão ao longo do processo. Ainda de acordo com a sentença, Beatriz terá o direito de aguardar o recurso, contra a decisão do júri, em liberdade.

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Após o anúncio da condenação, a mãe de Evandro, Maria Caetano, 58 anos, muito emocionada, afirmou que estava satisfeita com a condenação. "Foram 19 anos de sofrimento. Eu não desejo isso para nenhuma mãe do mundo. Nunca tivemos dúvida que era o corpo dele. A gente sempre teve fé e esperança. Finalmente a justiça foi feita. A dor continua, mas temos um pouquinho de alívio".

O pai do menino, Ademir Batista Caetano, 62 anos, quase não conseguiu falar. "Aguardamos 19 anos, mas aconteceu, graças a Deus, o meu filho terá paz", disse. Não houve manifestações do plenário após o anúncio do Júri.

Chorando, Beatriz Abagge saiu pela porta da frente do Tribunal de Justiça, acompanha da mãe, Celina Abagge, e do advogado, Adel El Tasse, ela disse que ficou surpresa com a decisão do Juri. "Eu não aceito, eu sou inocente e vou continuar gritando a minha inocência. Eu fui torturada para confessar um crime que jamais cometi. Eu sou inocente", afirmou.

Celina Abagge, que acompanhou a filha durante o julgamento, e desmaiou momentos antes do anúncio da sentença, disse que ficou indignada com o resultado. "Eu nunca cometeria um crime desses. Eu não acredito mais na justiça", afirmou. "Eu vou continuar minha vida. Se depender de mim este menino [Evandro] está vivo. Eu não o matei", completou Beatriz.

O advogado de defesa afirmou que vai recorrer da decisão. "Foi um julgamento apertado. Foram quatro votos a três em todos os quesitos. O que fortalece a nossa intenção de apresentar o recurso", disse. A defesa tem cinco dias para ingressar com o recurso.

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De acordo com Tasse, o recurso será fundamentado em cima de questões técnicas que vão, segundo o advogado, desde a incompetência absoluta do juíz, até o cerceamento da defesa, que teve pedidos de acesso a provas, a determinadas testemunhas e a realização de perícias, negados.

Defesa

Durante todo o julgamento, os advogados de defesa sustentaram a tese de que Beatriz foi torturada para confessar o crime e estuprada por policiais. A defesa também mostrou vídeos nos quais Beatriz estaria sendo torturada, tendo o braço torcido para falar ou com trechos com música ao fundo, recurso usado para esconder os sons da tortura. A promotoria chegou a interromper a fala da defesa quando Adel acusou Diógenes Caetano, tio do Evandro, que encontrou o corpo, de ter inventado o caso, plantando provas, para prejudicar a família Abagge.

A defesa também chamou o próprio processo de farsa. "Há mais de dez anos o tribunal já disse que a Beatriz é inocente. Foi o desejo soberano de sete jurados que durante 34 dias analisaram o processo inteiro e concluíram que a Beatriz era inocente", disse o advogado de defesa. "Nós fazemos uma defesa apaixonada. A defesa defende a própria democracia, a defesa do direito das pessoas não terem a casa arrombada, não serem torturadas ou estupradas. É uma defesa das regas democráticas", disse Adel.

Acusação

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Os representantes do Ministério Público (MP), responsáveis pela acusação, sustentaram que havia provas de que o corpo encontrado era do menino Evandro e da ligação de Beatriz com crime. Os promotores afirmaram ainda que não há indícios de que a ré sofreu tortura para confessar. Eles também mostraram vídeos com a confissão dos acusados.

Julgamento

Esta é a segunda vez que Beatriz é julgada pelo assassinato e sequestro de Evandro, que teria sido morto em um ritual de magia negra encomendado por ela e pela mãe, Celina. O primeiro julgamento aconteceu em 1998 e foi o mais longo júri da história da Justiça brasileira – durou 34 dias. Na época, mãe e filha foram consideradas inocentes porque não ficou comprovado que o corpo encontrado desfigurado em um matagal era de Evandro.

O Ministério Público (MP) recorreu da decisão e pediu um novo julgamento alegando que a perícia da arcada dentária e o exame de DNA que provavam que o corpo era do menino. Quase um ano depois, em março de 1999, o júri que absolveu Beatriz e Celina foi anulado pelo Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná.

A lei brasileira determina que o prazo máximo de prescrição de um crime é de 20 anos e, quando o réu faz 70 anos, o prazo conta pela metade, caso de Celina. Por isso, como se passaram mais de dez anos entre os julgamentos, ela não pode mais ser punida por este crime.

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Além das Abagge, outras cinco pessoas já foram julgadas. Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli dos Santos, acusados de participar da morte, foram absolvidos em 2005. Os outros acusados – o pai-de-santo Osvaldo Marcineiro, o pintor Vicente Paulo Ferreira e o artesão Davi dos Santos Soares – tiveram dois julgamentos. O primeiro, em 1999, foi cancelado depois de sete dias, porque o advogado de defesa dos réus, Álvaro Borges Júnior, abandonou o plenário acusando o juiz Marco Antonio Antoniassi de cercear o amplo direito de defesa de seus clientes.

Eles foram novamente julgados em 2004 e condenados. A pena imposta a Marcineiro e Ferreira era de 20 anos e dois meses de prisão, por homicídio triplamente qualificado e sequestro. Soares foi condenado por homicídio simples, com pena de 18 anos de detenção.

Segundo a Secretaria de estado da Justiça, Marcineiro está em liberdade condicional desde dezembro de 2006, mesmo regime cumprido por Soares desde julho de 2005. Já Ferreira cumpre a pena em regime semi-aberto na Colônia Penal Agrícola, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba.