A dois meses de completar 91 anos, o escritor e sobrevivente do holocausto Ben Abraham morreu nesta sexta-feira (9) em São Paulo.
Natural de Lodz, na Polônia, Abraham nasceu em 11 de dezembro de 1924 e foi batizado com o nome de Henry Nekrycz. Em setembro de 1939, os alemães chegaram à cidade de Lodz e prenderam todos os judeus em um gueto cercado. Aos 14 anos, ele acompanhou fuzilamentos em massa, enforcamentos coletivos e massacre de crianças.
Abraham passou duas intermináveis semanas pelo campo de concentração de Auschwitz durante a guerra até ser “comprado” por uma fábrica alemã de caminhões. Ali, perdeu o pai, que escapou dos caminhões transformados em câmaras de gás para os quais Abraham viu amigos serem levados, mas não sobreviveu à fraqueza causada pela fome. “Minha mãe dizia que ele teve sorte, pois ao menos teve um enterro judeu [no gueto]”, lembra em uma de suas entrevistas à Folha.
Sua mãe não teve. Com Abraham, foi levada ao campo de concentração de Auschwitz, de quem se separou já na chegada. “Despedi-me pedindo que Deus nos ajudasse a sobreviver à guerra para nos reencontrarmos. Nunca mais a vi. Uma mulher que trabalhava junto com ela disse que foi enviada pelo [cientista nazista Joseph] Mengele para a morte.”
“Vi chaminés do crematório funcionando dia e noite. Senti nas minhas narinas o cheiro da carne queimada e, naquela época, perambulando pelos campos, esfomeado e esfarrapado, jurei a mim mesmo que, caso sobrevivesse à guerra, contaria ao mundo [esta história] como alerta.”
Abraham dizia não saber qual era a mais terrível lembrança: a morte do pai, a despedida da mãe, as imagens da fumaça preta dos corpos queimando em Auschwitz. “Talvez seja a de quando alemães chegaram a um hospital no gueto e, levando crianças pelas pernas, esmagaram suas cabeças contra o muro e jogaram seus corpos em caminhões.”
Ele chegou ao Brasil em 1954 e recebeu a naturalização em 30 de janeiro de 1959. Quando presidiu a Associação dos Sobreviventes do Holocausto (Sherit Hapleitá) no Brasil, Ben Abraham defendeu que os jovens aprendessem nas escolas o que aconteceu durante o Holocausto.
“Hitler foi eleito nas eleições livres e democráticas. É preciso alertar em quem votar, para não sermos iludidos como aconteceu com o povo alemão”, dizia ele. “É preciso aprender a história do passado para viver no presente e enfrentar o futuro com cabeça erguida”, afirmava.
Abraham será enterrado no próximo domingo (11), às 11h, no Cemitério Israelita do Butantã.
STF decide sobre atuação da polícia de São Paulo e interfere na gestão de Tarcísio
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora